Economia dos EUA entra em recessão técnica
Federal Reserve anunciou nova alta nas taxas de juros na véspera da divulgação da segunda queda consecutiva no PIB do país.
Publicado 28/07/2022 20:14 | Editado 29/07/2022 08:14
A economia norte-americana entrou no estado que os analistas chamam de recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). A situação da economia dos Estados Unidos só deve ser declarada recessão, oficialmente, caso a tendência de encolhimento do PIB persista até o fim do ano. Contudo, como nos EUA a atividade econômica é avaliada trimestralmente, na prática, a leitura que os economistas fazem a partir do desempenho na primeira metade de 2022 é de que há de fato um quadro recessivo.
O PIB do país sofreu uma contração de 0,9% no segundo trimestre, após um recuo de 1,6% no primeiro. “Há uma redução na atividade econômica em seis meses e isso é preocupante”, analisa Paulo Kliass, doutor em economia e membro da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, segundo o qual a atividade econômica dos EUA no segundo semestre dependerá de fatores externos, como a crise decorrente do conflito na Ucrânia e os problemas de abastecimento de gás e petróleo, bem como do efeito de medidas de política econômica para estimular a economia.
Ao mesmo tempo, ressalta Kliass, a trajetória de alta dos juros não favorece a recuperação da atividade econômica norte-americana. “O aumento de 0,75 ponto percentual na reunião da última quarta-feira (27) vai na direção contrária de qualquer medida para estimular a atividade. É um estímulo ao não investimento”, aponta.
Kliass lembra que o Fed tem mandato para controlar a inflação, mas precisa também manter-se de olho no nível de atividade, principalmente, no desemprego. “Eles estão com esta dupla dificuldade, mas aparentemente estão mais preocupados com a inflação”, opina. A inflação norte-americana fechou em 9,1% em 12 meses, a maior da história do país e esta foi a quarta vez neste ano que os EUA subiram os juros.
“Após um crescimento econômico histórico – recuperando todos os empregos do setor privado perdidos durante a pandemia -, sabíamos que a economia desaceleraria à medida que o Fed atuasse na inflação”, justificou em postagem nas redes sociais o presidente norte-americano, Joe Biden, que se recusa a chamar de recessão o estado atual da economia norte-americana: “Nosso mercado de trabalho está forte, os gastos estão em alta e o desemprego está em queda. Temos resiliência para resistir à transição”, argumentou.
Exportações brasileiras
Para Kliass, mesmo caso o PIB dos EUA continue sofrendo retração, as exportações brasileiras ainda poderão continuar sendo sustentadas pelas vendas a outros países como China e Rússia. Mas o aumento das taxas de juros pelo Fed (Federal Reserve, o BC norte-americano, eleva a probabilidade de alta dos juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária).
“Quando a taxa de juros sobre nos Estados Unidos todo capital especulativo se volta para lá, buscando rentabilidade em um país que em tese é mais seguro. Como a tendência é deste capital de curto-prazo sair do Brasil, o Copom deve subir as taxas aqui”, explicou Kliass. “E ainda há uma variável que é a eleição presidencial. Até lá, vai haver uma suspensão dos investimentos, não por Lula estar na frente, mas pelo risco golpista de Bolsonaro. Vamos esperar a próxima reunião do Copom para ver se haverá uma revoada até lá”, concluiu.