Economia brasileira está pior do que em 2014, aponta Dieese
Além de crescer a passos muito lentos, o país vê-se mergulhado no aumento da pobreza e das desigualdades sociais: um retrocesso de três décadas.
Publicado 26/07/2022 17:07 | Editado 27/07/2022 12:06
Já em seu quarto ano de mandato e a poucos meses da eleição, Bolsonaro não conseguiu recuperar a economia brasileira ao nível anterior ao golpe à presidenta Dilma Rousseff, segundo constatou o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Além de crescer a passos muito lentos, o país vê-se mergulhado no aumento da pobreza e das desigualdades sociais, com o retorno da fome, quadro que representa um retrocesso de três décadas e que pode ainda se agravar, por conta de medidas que aumentam a vulnerabilidade do país às incertezas internacionais, como a privatização da Eletrobras.
Em seu último Boletim de Conjuntura, o Dieese aponta que apesar de a economia brasileira ter se expandido 1,0% no 1º trimestre deste ano, na comparação com o último trimestre de 2021 (na série com ajuste sazonal) e 1,7%, em relação ao primeiro trimestre de 2021, este crescimento aconteceu sobre uma base de comparação muito baixa. Com isso, no início de 2022, a economia brasileira apenas voltou ao observado antes da pandemia: crescimento lento e heterogêneo. “O nível da atividade econômica continua abaixo do verificado em 2014!”, enfatiza o Dieese.
Desta forma, embora o setor de serviços tenha tido crescimento de 3,7%, influenciado pela retomada de várias atividades presenciais, o comércio recuou 1,5%; a indústria, 1,5%, e agropecuária, 8,0%. O Dieese ressalva ainda que mesmo o consumo das famílias, que teve o quarto trimestre seguido de crescimento, é um dado que precisa ser visto com cautela por conta do aumento das desigualdades sociais. Enquanto algumas consumiram mais, outras enfrentam uma dura realidade das panelas vazias.
Pesquisa da Rede Penssan apontou que convivem com algum tipo de insegurança alimentar cerca de 125,2 milhões de pessoas, mais da metade da população do país. “Cerca de 15% da população, equivalentes a 33 milhões de pessoas, estão em situação de fome, das quais 14 milhões passaram a esta dramática condição no último ano. Como afirma a pesquisa: ‘O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990’”, ressaltou o Dieese em seu boletim, segundo o qual o aumento da pobreza está diretamente ligado à perda de rendimento e ao aumento do custo de vida.
O valor da cesta básica de alimentos, apurado pelo Dieese em 17 capitais, aumentou mais de 26% em Recife, nos 12 meses encerrados em junho, a maior variação registrada. Em seguida aparecem Salvador (+24%), Campo Grande (+24%) e São Paulo (+24%). As menores variações registradas foram em Vitória e Curitiba, com aumentos de 13%. Em sua análise, o Dieese observou ainda que, nos 12 meses encerrados em junho, a inflação para as pessoas de renda muito baixa atingiu 12,0%.
PEC do Desespero
Neste cenário, a “PEC do desespero eleitoral” foi aprovada no Congresso Nacional e transformada na Emenda Constitucional 123/22. Mas não representa solução para o problema, por seu caráter temporário, o que o Dieese considerou “puro casuísmo eleitoral”. “Além disso, a recente privatização da Eletrobras aumenta o risco de elevação das tarifas de energia elétrica e solapa a soberania e a segurança energética nacional, indo na contramão do mundo. Os próprios acontecimentos na guerra da Ucrânia mostram que é urgente retomar os instrumentos do Estado para indução do desenvolvimento econômico soberano, com distribuição de renda e proteção ambiental, reduzindo as desigualdades sociais e regionais”, advertiu.