Aumento das desigualdades sociais preocupa mulheres da Frente Vamos Juntos pelo Brasil
Fome, que atinge, principalmente, os lares de mulheres negras, vem sendo agravada pela carestia.
Publicado 05/07/2022 12:39 | Editado 22/07/2022 18:54
As participantes do Encontro das Mulheres de São Paulo com Lula dedicaram-se, neste domingo (3/7), a formularem, conjuntamente, propostas para o programa de governo Lula-Alckmin. Durante o debate, as integrantes dos sete partidos que compõem a Frente Vamos Juntos pelo Brasil (PCdoB, PV, PT, PSB, PSol, Rede e Solidariedade) manifestaram preocupações acerca do aumento das desigualdades sociais no país e com a fome, que atinge, principalmente, os lares das mulheres negras, e vem sendo agravada pela carestia.
“O preço dos alimentos, o preço do arroz, do feijão, do café, do óleo de soja, o pãozinho a quase R$ 1, e vários outros produtos com preços na hora da morte: não é possível mais aceitar isso, queremos o controle de preços no Brasil”, disse a ex-vereadora Lídia Correa, do PCdoB, que integra o Movimento contra a Carestia. “Na pandemia tivemos um retrocesso gigantesco na participação das mulheres no mercado de trabalho. A carestia, que atinge, principalmente, as mulheres de baixa renda que tem tido de conviver com a dura realidade de não ter o que dar de comer para o seu filho, é uma realidade desesperadora”, constatou Karina Sampaio, da Federação das Mulheres Paulistas.
Rozana Barroso, da União da Juventude Socialista, também manifestou preocupação com a realidade brasileira: “Em cada sinal das cidades temos hoje uma criança vendendo bala para ajudar uma mãe negra a comprar um gás de cozinha, que custa mais de R$ 100. Fazemos parte de uma estatística de um país mergulhado no agravamento das desigualdades sociais, e é óbvio que dói mais, prejudica mais as mulheres negras. A nossa batalha da juventude, das meninas e mulheres jovens, têm sido resistência todos os dias”. Keila Pereira, da Juventude Pátria Livre, complementou que a fome e a miséria que atingem as mulheres afetam, ainda mais diretamente, as mulheres negras e que são mães solo.
“Estamos mobilizadas, colocando em prática a luta das mulheres negras também, nesta tarefa tão grande que é derrotar o bolsonarismo e eleger o Lula, se tudo der certo, no primeiro turno”, afirmou Simone Nascimento, do Movimento Negro Unificado. Cleide Almeida, do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, também ressaltou que a fome e a insegurança alimentar batem à porta, principalmente, das mulheres negras. “O aumento da fome foi de 70%, 33 milhões de pessoas não têm o que comer. Um terço dos brasileiros não sabe se vai ter como botar comida em casa. Em 65% das casas comandadas por pessoas negras há restrição de alimentos. E desnutrição leva à morte. A relação entre fome e desigualdade racial é frontal. Não estamos colocando no prato o básico da alimentação da nossa família. Vamos derrotar Bolsonaro”, conclamou. De acordo com Kelli Mafort, do Movimento Sem-Terra (MST), o agravamento da questão da segurança alimentar no país se deve à política econômica do governo Bolsonaro. “Tivemos uma opção política por um projeto que acabou subordinando nosso país a ser um exportador de commodities agrícolas”, lamentou.
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Erika Fontana, do MST, falou sobre a importância da elaboração de um programa de governo que entenda gênero transversalmente, em todos os pontos. Já Flávia Calé, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), falou sobre a necessidade da discussão sobre a ampliação da licença paternidade enquanto Tayná Wine, da União Estadual de Estudantes (UEE), lamentou os retrocessos na educação durante o governo Bolsonaro. “Isso impacta diretamente as mulheres estudantes, as primeiras a evadirem da universidade”. “Não há democracia, sem a inclusão das mulheres”, disse ainda Márcia Viana, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Vereadora pelo PT, Iara Bernardi, também afirmou que não consegue acreditar em democracia verdadeira se não houver mulheres participando da política.
Políticas públicas
Para Rosa Anacleto, da União de Negros pela Igualdade (Unegro), é essencial a recriação da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, além da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM). Assim como ela, Cláudia Rodrigues, da União Brasileira de Mulheres (UBM), ressaltou a necessidade de recriação da SNPM, que tinha status de ministério e orçamento próprio. Na coordenação nacional do trabalho de elaboração conjunta das propostas das mulheres dos partidos que compõem a frente, Márcia Campos agradeceu a presença da ex-ministra da SNPM, Eleonora Menecutti, durante toda a reunião.
Maria de Fátima dos Santos, da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, recordou o corte no Programa Minha Casa, Minha Vida realizado por Bolsonaro: “90% dos que participavam do programa eram as mulheres. Hoje temos um retrocesso imenso e vários projetos parados”, lamentou. Juliana Cardoso, vereadora do PT, ressaltou que a violência política de gênero, contra as mulheres, o machismo estrutural, perpassa todas as políticas públicas: “Precisamos lutar para garantir que nós não somos objetos”. Mariana Moura, dos Cientistas Engajados, recordou que ainda na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro já dizia que as mulheres ganham menos porque engravidam. “Então, neste governo fomos ladeira abaixo na relação institucional do Estado com as mulheres”, frisou.