Com inflação de Bolsonaro, vendas do Dia das Mães sofrem retração

Pressionada pela inflação de oferta, cesta de bens e serviços mais demandados na data comemorativa acusa a maior alta da série histórica

Inflação atinge em cheio a cesta de produtos mais comprada no dia das mães.

No próximo domingo, o Dia das Mães de 2022, deverá confirmar que foi mais fraco para o varejo na comparação com o ano passado. Segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o volume de vendas do comércio varejista voltado para a data deverá atingir R$ 14,42 bilhões, 1,8% aquém da movimentação financeira real observada em 2021. Em 2021, o volume de vendas chegou a R$ 14,68 bilhões.

O ramo de vestuário, calçados e acessórios, que costuma responder pela maior fatia das vendas, deve seguir liderando este ano, com previsão de faturamento de R$ 6,69 bilhões, um avanço de 1,4% em relação ao registrado no ano passado. Por outro lado, os segmentos de utilidades domésticas e eletroeletrônicos (R$ 2,33 bilhões) e móveis e eletrodomésticos (R$ 2,29 bilhões) devem apresentar quedas expressivas, de 9,3% e 9,5%, respectivamente.

˜Para piorar, levar a mãe a um restaurante também está impeditivo, devido a forte alta nos alimentos. Restam os programas culturais, como shows, teatro e cinema, pouco afetados pela inflação, devido à recessão da pandemia e do turismo.

“Não poderia ser diferente, diante das condições atuais de consumo, quando a gente está com uma inflação de dois dígitos já há algum tempo, taxas de juros no maior patamar dos últimos cinco anos e a gente tem um rendimento médio da população apresentando queda real de 6%, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, explicou o economista Fabio Bentes da CNC, responsável pela análise do estudo.

Acesse a análise completa da CNC

“Não daria para esperar crescimento diante dessas condições. Ainda que se considere a reabertura total do comércio, o consumidor está com o bolso ainda prejudicado pela inflação alta, juros em alta e, principalmente, pela questão do mercado de trabalho, que precisa ser melhor endereçada”, completou o economista.

Apesar da redução projetada para a data, o número é superior aos R$ 8,8 bilhões registrados em 2020, no auge da pandemia de covid-19, quando grande parte dos estabelecimentos estava fechada. “A flexibilização dessas medidas e a retomada do fluxo de consumidores permitiram que, no ano passado, o varejo registrasse o maior volume de vendas em seis anos. Em 2022, a situação econômica do País deve afetar um pouco o fôlego das vendas, mas seguimos no caminho da retomada”, diz o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

“A deterioração das condições de consumo caracterizada pela aceleração dos níveis gerais de preços, o aumento dos juros e o mercado de trabalho em lenta recuperação são impeditivos ao avanço das vendas reais neste ano”, aponta Bentes.

Inflação histórica

Pela primeira vez, nenhum dos 26 itens que compõem a cesta de bens e serviços avaliados deverá acusar queda, na comparação com o ano anterior. Pelo contrário, a variação média desses itens deverá ser a maior (+10,6%) desde 2013, o que, segundo a pesquisa, é sintoma da alta difusão que caracteriza a inflação corrente.

Os itens medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), acumulado em 12 meses, destacam as variações nos preços de eletrodomésticos, como refrigeradores (+27,8%) e fogões (+24,9%). Do mesmo modo, itens de mobiliário associados à data comemorativa também tendem a apresentar variação significativa (+19,4%), o que deverá desestimular a busca por esses produtos, especialmente considerando a tendência recente de elevação do custo do crédito.

O ramo de vestuário, calçados e acessórios, que costuma responder pela maior fatia das vendas, deve seguir liderando este ano, com previsão de faturamento de R$ 6,69 bilhões, avanço de 1,4% em relação ao registrado no ano passado. Por outro lado, os segmentos de utilidades domésticas e eletroeletrônicos (R$ 2,33 bilhões) e móveis e eletrodomésticos (R$ 2,29 bilhões) devem apresentar quedas de 9,3% e 9,5%, respectivamente.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) também apresentou levantamento similar apontando a alta dos produtos que deve afetar as compras da data comemorativa.

“A taxa estimada para este ano pode ser um indicativo de redução no ritmo do consumo. Neste sentido, o fator mais preocupante – e o obstáculo que pode ser decisivo para a manutenção de um ciclo mais aquecido e sustentado de vendas – é a inflação, elemento de maior impacto negativo sobre o poder de compra das famílias, em especial se considerarmos o alto nível de endividamento dos consumidores”, destacou a Fecomércio em nota.

Turismo e cultura

Outra pesquisa que confirma os dados da CNC foi efetivada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) com base em 31 produtos e serviços do Índice de Preços ao Consumidor – Mercado (IPC-M). Ela sinalizou que os presentes e serviços mais procurados para o Dia das Mães tiveram, nos últimos 12 meses, o maior aumento registrado para essa cesta nos últimos 20 anos, de 9%, ligeiramente abaixo da inflação acumulada no período, de 10,37%. Em 2003, o reajuste foi de 10,83%.

De acordo com a sondagem, os serviços lideraram a inflação, com alta de 13,79%, puxada pelas passagens aéreas, cujos preços evoluíram 72,83%. Ainda na cesta de serviços, restaurantes subiram 8,13%, hotéis (5,72%), excursões e tours (4,54%) e salões de beleza (4,19%), embora ficassem abaixo da inflação geral.

As atrações culturais continuam sendo as melhores opções para um bom programa com as mães, porque apresentam ainda preços próximos da estabilidade. Entre elas estão shows (0,12%), cinemas (1,33%) e teatros (1,42%).

“O setor turístico apresentou um incremento na demanda que estava reprimida desde a pandemia da covid-19 e os preços estão refletindo isso. No caso dos restaurantes, ainda há o agravante do custo dos alimentos, que tem sido o foco da inflação recente”, justificou Matheus Peçanha, economista do Ibre.

Já entre a cesta dos presentes mais dados às mães nesse período, o economista informou que a cesta de 22 bens duráveis e semiduráveis teve crescimento médio de 4,25%. As maiores altas foram observadas, em especial, nos eletrodomésticos e no setor têxtil: cama, mesa e banho (11,04%), geladeira e freezer (8,73%), máquina de lavar roupas (7,5%), micro-ondas (6,75%) e roupas femininas (6,62%). Em contrapartida, os menores aumentos foram constatados em itens como perfume (0,15%), computadores e periféricos (0,34%), celulares (0,65%), artigos de maquiagem (0,92%) e fogão (1,97%).

Com informações da Agência Brasil

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