Morre Gregório Poço, ex-presidente do Sindicato dos Condutores de SP
Militante do PCdoB, Gregório presidiu também o CMTC Clube
Publicado 27/04/2022 03:44 | Editado 27/04/2022 09:18
O sindicalista Gregório Poço, uma das principais lideranças do PCdoB no movimento sindical desde a redemocratização, morreu na madrugada desta quarta-feira (26), aos 65 anos. Trabalhador do transporte público e militante do Partido desde a década de 1980, ele foi presidente do Sindicato dos Condutores de São Paulo – hoje como Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano (Sindmotoristas).
Gregório estava internado no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, à espera de um transplante de fígado. Nos últimos dias, porém, seu quadro se agravou. A causa de sua morte é falência herpática. O velório será realizado na sede do Sindicato dos Condutores, no bairro da Liberdade.
“O Gregório foi o maior líder sindical que nós, trabalhadores do transporte público, já tivemos. Era uma figura popular, habilidosa e combativa, que traduziu para todos nós a essência do sindicalismo classista”, afirma Alcides Amazonas, ex-dirigente do Sindicato dos Condutores e atual presidente do PCdoB São Paulo. “Eu próprio, a exemplo de centenas de outros camaradas, me filiei ao Partido a convite do Gregório”.
Nascido na capital paulista, em 31 de agosto de 1956, Gregório Antônio de Souza Poço entrou para o serviço público de transporte em 1982 – ele era eletricista de Manutenção da antiga CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos). Quatro anos depois, foi eleito diretor representante dos funcionários da empresa. Por ter participado da greve de 1987, foi demitido, ao lado de outros trabalhadores grevistas – o que o ajudou a se consolidar como uma das referências da categoria.
Reintegrado à CMTC na gestão Luiza Erundina (1989-1992), Gregório foi um dos construtores, em 1989, da Corrente Sindical Classista (CSC), vinculada ao PCdoB. Graças, em boa medida, à sua destacada liderança, a categoria dos trabalhadores do transporte se tornou uma das principais bases da CSC, com centenas de militantes organizados em praticamente todas as regiões de São Paulo.
Foi assim que Gregório foi eleito para a direção do Sindicato dos Condutores, tendo ocupado, por duas vezes, o cargo de secretário-geral – o segundo mais importante na entidade. Suas gestões coincidiram com as grandes mobilizações em defesa da CMTC como empresa pública, bem como com as lutas pela valorização de motoristas, cobradores, fiscais e outros trabalhadores do transporte público.
O número de diretores ligados à CSC crescia a cada pleito sindical. De 14 dirigentes classistas eleitos e 1994, o número saltou para 20 ao longo da gestão. A privatização da CTMC, no governo de Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo (1993-1996), não diminuiu o ânimo do núcleo de base da CSC na categoria, apesar das inúmeras demissões.
Com ousadia, a corrente do PCdoB ousou lançar uma chapa, encabeçada por Gregório, na eleição seguinte para a diretoria do Sindicato dos Condutores, em novembro de 1997. O recém-lançado Cem Anos dos Comunistas no Movimento Sindical – de autoria do sindicalista Nivaldo Santana e da jornalista Guiomar Prates – relembra o contexto daquele pleito:
A eleição de 1997 encontrou uma direção sindical desgastada. O acordo campanha salarial de 1996 aumentou a jornada de trabalho, de 6h40 para 7h10. O desgaste cristalizava-se numa grande rejeição ao presidente, que era da Articulação.
Entre as diversas posições, a CSC aparecia como principal alternativa, contando com a liderança e a capacidade de Gregório, e com centenas de militantes na base sindical, nas Comissões de Garagem e nas Cipas. Essa militância formada em uma concepção sindical classista, estruturada, atuante, intransigente face à corrupção, faria toda a diferença durante a disputa eleitoral.
A Corrente Classista definiu sua linha eleitoral em meados do ano, por aclamação, em um histórico encontro com 611 participantes. Lançou Gregório para presidente, mas defendeu uma chapa de unidade, com diretores, inclusive o presidente, escolhidos em prévia nas garagens.
Mas a chapa única não se viabilizou, pois a Articulação Sindical recusou as prévias e só aceitava a chapa única se ela indicasse o presidente. Esgotadas as negociações, três chapas se inscreveram para a eleição.
A apuração dos votos, no Complexo Esportivo Baby Barioni, foi o estopim da festa: a Chapa 3, da CSC, conquistara um feito histórico, ao receber 13.518 votos, contra os 7.759 da Chapa 2 e os 452 para a Chapa 1. “Foi uma das mais importantes vitórias do nosso campo político”, diz Nivaldo Santana, secretário Sindical do Partido. Com 55 mil trabalhadores na base, o Sindicato dos Condutores estava sob a inédita direção classista.
A gestão durou três anos e foi decisiva para outra façanha: a eleição de um representante classista da categoria para a Câmara Municipal de São Paulo. Em 2020, com 18.498 votos, Alcides Amazonas foi eleito vereador pelo PCdoB. Seu mandato recebeu apoio permanente da base dos condutores e resultou em medidas importantes, como a Lei Municipal 13.207/2001, que garantiu a manutenção dos empregos dos cobradores de ônibus.
Gregório continuou sua atuação junto às bases da categoria e foi presidente do CMTC Clube por mais de uma década. Em 2012, concorreu a vereador nas eleições municipais. Ao mesmo tempo, presidia o comitê dos trabalhadores do transportes ligados ao PCdoB São Paulo – a base dos condutores. Devido a problemas de saúde, porém, teve de se afastar de suas tarefas por diversas vezes nos últimos anos. De dores na coluna à luta por um transplante de fígado, passou por diversas internações hospitalares.
Na semana passada, sua vez na fila do transplante havia chegado – mas já era tarde. Segundo os médicos, nem mesmo um novo fígado garantiria sua sobrevivência. Em seus últimos dias, Gregório estava inconsciente. Um triste fim para um grande líder sindical que elevou justamente a consciência de tantos trabalhadores.