EUA conseguem suspender Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Foram 11 votos de diferença em 175 países. Decisão teve 93 votos a favor, 24 contrários e 58 abstenções
Publicado 07/04/2022 19:28 | Editado 07/04/2022 20:00
A Assembleia Geral das Nações Unidas suspendeu, por iniciativa dos EUA, nesta quinta-feira (7), a Rússia do Conselho de Direitos Humanos por relatos de “violações e abusos grosseiros e sistemáticos por tropas russas na Ucrânia.
A Rússia disse que a tentativa de expulsá-la do Conselho de Direitos Humanos é um ato político de países que querem preservar sua posição dominante e controle sobre o mundo. “O que vemos é uma tentativa dos EUA de manter sua posição dominante e controle total, de continuar sua tentativa de colonialismo de direitos humanos”, disse Gennady Kuzmin, vice-embaixador da Rússia na ONU, antes da votação.
A iniciativa norte-americana teve 93 votos a favor e 24 contrários (entre China, Cuba, Bolívia e Vietnã). Cinquenta e oito países se abstiveram, incluindo o Brasil, mas seus votos não contaram para a contagem final. Uma maioria de dois terços dos membros votantes foi necessária para suspender a Rússia do conselho de 47 membros.
A resolução adotada pela assembleia-geral, de 193 membros, expressa “grave preocupação com a atual crise humanitária e de direitos humanos na Ucrânia”, particularmente com relatos de abusos. Os votos contrários se manifestaram com o argumento de que a suspensão da Rússia ocorre antes de uma investigação sobre alegações de abusos de direitos na Ucrânia. As abstenções também demonstraram o desconforto de 58 países com a decisão.
“Um movimento tão precipitado na Assembleia Geral, que obriga os países a escolherem um lado, agravará a divisão entre os Estados membros, intensificará o confronto entre as partes envolvidas – é como jogar lenha na fogueira”, disse o embaixador da China na ONU, Zhang Jun, disse antes da votação.
As suspensões são raras. A Líbia foi suspensa em 2011 por causa da violência contra manifestantes por forças leais ao então líder Muammar Kadafi.
A votação, que faz de Moscou o primeiro membro permanente do Conselho de Segurança da ONU a ter sua filiação revogada de qualquer órgão das Nações Unidas, foi imediatamente bem recebida por Kiev, mas criticada por Moscou.
A Rússia tinha alertado os países que um voto sim ou abstenção seria visto como “gesto hostil”, com consequências para os laços bilaterais.
“Os criminosos de guerra não têm lugar nos órgãos da ONU destinados a proteger os direitos humanos. Grato a todos os estados membros que apoiaram a resolução relevante da AGNU e escolheram o lado certo da história”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter.
De sua parte, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, lamentou a decisão. “Lamentamos por isso”, disse Peskov em entrevista à Sky News da Grã-Bretanha. “E continuaremos defendendo nossos interesses usando todos os meios legais possíveis”, disse ele.
O país estava em seu segundo ano, de um mandato de três, no conselho, com sede em Genebra, que não pode tomar decisões juridicamente vinculantes. Suas decisões, no entanto, enviam mensagens políticas importantes e podem autorizar investigações. Tinha poder de veto, ao lado do Reino Unido, China, França e Estados Unidos.
O país é um dos membros mais expressivos do conselho e sua suspensão o impede de falar e votar, dizem as autoridades, embora seus diplomatas ainda possam participar dos debates.
“Eles provavelmente ainda tentarão influenciar o conselho por meio de procuradores”, afirmou um diplomata em Genebra.
No mês passado, o conselho abriu investigação sobre denúncias de violação de direitos, incluindo possíveis crimes de guerra, na Ucrânia desde o ataque da Rússia.
Desde que a invasão russa da Ucrânia começou em 24 de fevereiro, a assembleia-geral adotou duas resoluções denunciando a Rússia, com 141 e 140 votos a favor. Moscou diz que está realizando “operação especial” para desmilitarizar a Ucrânia.
Os Estados Unidos anunciaram que pediriam a suspensão da Rússia, depois que a Ucrânia acusou tropas russas de matar centenas de civis na cidade de Bucha. O tema tem sido motivo de controvérsia com a Rússia acusando a Ucrânia de encenar as mortes.
A Rússia nega atacar civis na Ucrânia. O embaixador na ONU, Vassily Nebenzia, afirmou na terça-feira que enquanto Bucha estava sob controle russo, “nenhum civil sofreu qualquer tipo de violência”.
O embaixador da Rússia em Genebra, Gennady Gatilov, chamou a ação dos EUA de “bravata infundada e puramente emocional que fica bem na câmera – exatamente como os EUA gostam”.
“Washington explora a crise ucraniana para seu próprio benefício na tentativa de excluir ou suspender a Rússia das organizações internacionais”, disse Gatilov, em comentários retransmitidos por um porta-voz da missão diplomática russa.
Das agências de notícias