Queiroga pede ao Senado para rebaixar covid-19 à situação de endemia
O interesse do governo nessa matéria é eliminar todas as restrições sanitárias, podendo, inclusive, reduzir gastos com a o sistema de saúde dedicado à covid.
Publicado 15/03/2022 19:56 | Editado 15/03/2022 22:00
A possibilidade de o país flexibilizar o estado de emergência sanitária foi o assunto de uma reunião entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD – MG) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta terça-feira (15). “Diante da sinalização, manifestei ao ministro preocupação com a nova onda do vírus, vista nos últimos dias na China. Mas me comprometi a levar a discussão aos líderes do Senado”, publicou o presidente do Senado em sua rede social.
Queiroga, que na semana passada, encontrou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para tratar do mesmo assunto, também deve se reunir com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, sobre o tema.
O próprio Ministério da Saúde confirmou nesta terça-feira (15) dois casos da nova variante deltacron no Brasil, que ainda não foi estudada o suficiente para saber sua gravidade. A cepa do coronavírus vem sendo assim chamada informalmente por combinar características genéticas de duas outras versões do vírus: a ômicron e a delta. Segundo Queiroga, o serviço de vigilância genômica brasileiro identificou dois casos, um em um paciente que mora no Amapá e outro no Pará, ambos na região Norte, onde os índices de vacinação contra a covid-19 são os mais baixos do país.
Embora se passe a mensagem de que a endemização significa o fim da pandemia, portanto o fim da covid, a decretação desse estado sanitário apenas significa que o número de doentes e mortos se equilibrou e tornou-se constante. Ou seja, a doença continua infectando e matando uma parcela da população, podendo haver surtos mais infecciosos, como ocorre com outras doenças.
A pandemia de covid-19 ainda não foi considerada endêmica em nenhum lugar do mundo, principalmente, porque acabamos de sair da maior onda de contágios com a variante ômicron e não se sabe se novas variantes podem mudar o cenário em queda. Aqui no Brasil, foram mais de 3 mil óbitos na última semana
O interesse do governo nessa matéria é eliminar todas as restrições sanitárias, podendo, inclusive, reduzir gastos com a o sistema de saúde dedicado à covid. O problema é que o governo Bolsonaro e seus ministros da Saúde ficaram conhecidos pelo negacionismo e sabotagem da comunicação oficial, das estatísticas da pandemia, da vacinação e do tratamento médico, entre outras críticas apontadas pela CPI da Covid do Senado.
Balanço
Para justificar a endemização da covid, Queiroga apresenta principalmente os dados da campanha de imunização. No entanto, o avanço da vacinação não garante o equilíbrio nos contágios, além de ainda manter a vulnerabilidade de pessoas mais idosas ou com comorbidade ao agravamento da doença, já que o tratamento desses casos graves ainda não conta com medicamentos efetivos.
Segundo dados da última sexta-feira (11), divulgados pela pasta, 91% da população brasileira acima de 12 anos já tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19. Desse total, 84,38% completou o esquema vacinal e apenas 36,48% das pessoas acima de 18 anos receberam a dose de reforço.
Nas últimas semanas, alguns municípios e estados revogaram o uso de máscara em ambientes abertos e fechados. Desde o início da pandemia, em março de 2020, o país já registrou 656 mil mortes para o novo coronavírus e aproximadamente 29,4 milhões de infectados. Com a endemização, as empresas podem acabar com o home office se quiserem, todos os estabelecimentos escolares podem voltar ao ensino presencial, assim como aglomerações para shows e festas retomam plenamente.
Outra crítica de especialistas diz respeito às doenças negligenciadas. A noção de doença negligenciada está associada ao acesso desigual e precário às vacinas e às condições de manter-se saudável. As pessoas que não têm acesso às informações, condições de cuidados, e vacinas são pessoas em situação de vulnerabilidade – seja por estarem em regiões menos favorecidas economicamente, seja por serem regiões distantes de grandes centros urbanos.
Cuidados a serem mantidos
As variantes são decorrentes de mutações naturais no vírus. E estas mudanças no código genético do vírus conseguem se fixar nas populações exatamente pela grande quantidade de transmissões que temos visto. As vacinas estão segurando o agravamento das infecções nas pessoas, mas é fundamental diminuirmos a quantidade de infecções e isto se faz com medidas de cuidados pessoais e políticas públicas que garantam que estes cuidados sejam implementados.
Embora os governos flexibilizem cada vez mais as restrições, sanitaristas ainda acreditam que é cedo para isso. Individualmente, podemos continuar usando máscaras (preferencialmente máscaras filtrantes, como as PFF2, bem ajustadas no rosto, sem escape de ar), manter-se o menor tempo possível em espaços fechados e mal ventilados, com preferência para circular em espaços abertos e ventilados, ao apresentar sintomas isolar-se e comunicar as pessoas de contato nos últimos 5 dias. Evitar aglomerações continua sendo a melhor arma contra a infecção.