“Alta dos combustíveis causará choque inflacionário”, diz economista Juliane Furno
Para a economista e doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, elevação terá efeito em cadeia, levando ao aumento do desemprego.
Publicado 10/03/2022 18:09 | Editado 11/03/2022 12:47
Anunciada nesta quinta-feira (10) pela Petrobras, a elevação do preço dos combustíveis causará um choque inflacionário, fazendo com que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – que mede a inflação oficial do país – chegue a 7% em 2022. A estimativa é da economista e doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, Juliane Furno, que faz ainda outro alerta: a alta terá um efeito em cadeia, conduzindo ao aumento do desemprego no país.
“Desde abril de 2021 o item “combustíveis” alterna entre o primeiro e o segundo lugar entre os itens que mais pesam no cômputo geral da inflação mensal. Portanto, o aumento no preço dos derivados vai ser um verdadeiro “choque” inflacionário em uma economia que já vive com uma inflação a cima do teto da meta”, afirmou ao Portal Vermelho.
A Petrobras anunciou um aumento de 18,7% para a gasolina e de 24,9% para o diesel. Segundo os cálculos da economista, se o reajuste dos derivados for integralmente repassado aos consumidores, o impacto no IPCA será de 1,3 ponto percentual, e a inflação poderá chegar a 7% em 2022, quando o cenário, antes disso, era que ela ficasse em 5%.
“Isso porque o aumento, especialmente do diesel, tem um impacto em cadeia, já que nosso modal de transporte é basicamente rodoviário. Assim o preço de quase todas as mercadorias vai ficar mais elevado, porque esse “custo” de transporte vai ser repassado para o consumidor”, explicou.
Um outro impacto, acrescentou Juliane Furno, é que, caso esse aumento de custos não seja completamente repassado para o consumidor – já que, com a crise, muitas pessoas não vão conseguir comprar uma mercadoria se ela aumentar de preço – quem vai absorver isso será o empresário.
“Só que, se os grandes empresários conseguem absorver esse custo por algum tempo, os pequenos já não conseguem mais. Ou seja, muitos pequenos negócios vão quebrar, e isso vai significar mais gente desempregada e, provavelmente, mais concentração empresarial, cartelizando mais o mercado interno”, alertou.
Na opinião dela, a melhor saída seria o fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada hoje pela Petrobras. “A melhor alternativa é findar a política de preços de paridade de importação, ou – no limite – construir políticas para amortecer seus impactos aos mais pobres, como Vale Gás e subsídios a gasolina para pessoas no Cadastro Único”, defendeu.