Com Bolsonaro e pandemia, expectativa de vida no Brasil cai 4,4 anos
“Entre 1980 e 2019, ganhou-se quatro meses por ano de expectativa de vida. Entre 2019 e 2021, perdeu-se quatro meses por mês de expectativa de vida.”
Publicado 21/02/2022 11:44 | Editado 22/02/2022 08:29
A pandemia de Covid-19 – que foi particularmente agravada no País com a negligência do governo Jair Bolsonaro – retirou 4,4 anos de expectativa de vida dos brasileiros. Em 2019, uma pessoa nascida no Brasil tinha a expectativa de viver, em média, até os 76,6 anos. Hoje vive cerca de 72,2 anos.
Projeções da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam para novas tendências demográficas. Juntos, o bolsonarismo e a pandemia aceleraram o decrescimento da população – e anteciparam em uma década a desaceleração do crescimento da mão de obra.
Segundo a pesquisadora Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações, da Disoc/Ipea, a redução da expectativa de vida foi muito “forte”, em decorrência do “aumento da mortalidade. De março de 2020 a dezembro de 2021, houve perda de 4,4 anos na expectativa de vida.
“Isso é muita coisa. Perder 4,4 anos em 22 meses significa uma perda de vida de 0,36 ano ou quatro meses em cada mês”, argumenta. “Entre 1980 e 2019, ganhou-se quatro meses por ano de expectativa de vida. Entre 2019 e 2021, perdeu-se quatro meses por mês de expectativa de vida.”
A mortalidade da Covid-19 se tornou uma variável importante no envelhecimento populacional, para o qual historicamente pesava mais a queda da natalidade. Além de mais mortes, menos pessoas nasceram. Os nascimentos já vinham diminuindo antes da crise sanitária porque a fecundidade estava caindo no Brasil. Mas, de acordo com Ana Amélia, “a pandemia trouxe também aumento da mortalidade materna, levando à mortalidade de bebês e ao adiamento de gravidezes, acrescenta a pesquisadora.
“Já estava previsto que a população diminuiria a partir de meados da década de 2030, mas com a pandemia isso deve acontecer até o fim desta década. Começa a haver diminuição da população total e também da população em idade ativa (PIA)”, prevê Ana. Segundo projeções da pesquisadora, a população brasileira deve ir de 204,6 milhões em 2020 para 212,2 milhões em 2025, 209,7 milhões em 2030 e 204,2 milhões em 2035. A PIA deve passar de 136 milhões em 2020 para 142,7 milhões em 2025, 139,8 milhões em 2030, e 133,1 milhões em 2035.
Ana Amélia afirma que tanto a população total quanto a PIA devem crescer de 2020 a 2025, apesar de menor natalidade e maior mortalidade. O motivo: a PIA nasceu antes da pandemia e só será afetada pela queda da natalidade decorrente da Covid em 2035. “Quanto à mortalidade, o efeito foi desacelerar o crescimento da PIA para depois levar a uma redução que já estava prevista. Antecipamos em cerca de dez anos a desaceleração do crescimento da mão de obra.”
Ela chama atenção para consequências da transição acelerada como o “desequilíbrio dos mecanismos de transferência intergeracionais” no Brasil. “Em uma população, pais cuidam dos filhos e filhos cuidam dos pais. A tendência é ter mais pais e menos filhos, seja para cuidar, seja para pagar a conta da Previdência”, diz.
O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas por quase 20 anos, a pandemia não mudará o rumo da tendência demográfica no Brasil. “De modo geral, a pandemia aumentou a mortalidade e diminuiu a natalidade. Isso para o mundo e para o Brasil também”, diz. “Desde o início da crise sanitária, diminuiu em 300 mil o número de nascimentos e aumentou em 400 mil o de mortes, o que levou a um crescimento vegetativo menor em 700 mil.”
Em 2019, foram 2,8 milhões de nascimentos e 1,28 milhão de óbitos no país, segundo dados do Portal da Transparência relativos ao registro civil. Em 2020, o número de nascimentos caiu para 2,64 milhões e o número de óbitos subiu para 1,47 milhão, com crescimento vegetativo indo para 1,17 milhão de pessoas. Em 2021, o número de nascimentos caiu para 2,62 milhões e o número de óbitos subiu para 1,73 milhão, com crescimento vegetativo ficando abaixo de 900 mil pessoas.
Diniz Alves observa que o Brasil e o mundo estão passando por um processo de transição demográfica, com diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade. “A pandemia da não vai mudar o rumo da tendência demográfica, de decrescimento, mas deve antecipar isso”, afirma. Ele acredita que a pandemia seja algo pontual e que o Brasil voltará à tendência anterior, com nascimentos diminuindo, a um ritmo menor que na pandemia, e menos óbitos.
Com informações do Valor Econômico