Guedes diz que aumento de juros dá lição aos Bancos Centrais do mundo

Ministro da Economia de Bolsonaro rebate críticas de que inflação ajudou contas públicas, ao defender que queda do déficit primário deve-se a controle de gastos

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: Antonio Cruz/Agência Brasil e Pavel Danilyuk /Pexels

Mesmo com economistas considerando que a melhora nas contas públicas, em 2021, deveu-se à inflação das receitas tributárias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, atribui o resultado a sua competência no controle de gastos. Ele chega a dizer que o aumento vertiginoso de juros pelo Banco Central, com a meta de reduzir a inflação, é uma lição ao mundo, que continua “dormindo ao volante”. Os Bancos Centrais pelo mundo temem o aumento de juros pelo seu caráter recessivo sobre a economia, sem segurança de reduzir a inflação.

Segundo o ministro, os fortes aumentos de juros promovidos pelo Banco Central no segundo semestre e a retirada de estímulos fiscais pela equipe econômica ao longo de 2021 permitirão que a inflação tenha pouso suave neste ano. “Os bancos centrais do mundo estão dormindo ao volante. Quanto mais hesitante for a política monetária, mais difícil será combater a inflação”, declarou.

Economistas atribuem a diferença entre receita e gastos do Governo, principalmente, à forte arrecadação devido à inflação, além do corte de gastos e investimentos mesmo com a necessidade premente, em meio à recessão e à pandemia. O arrocho salarial dos servidores, que não recebem aumento de salário desde 2018 também contribui para melhorar o superávit fiscal. Apesar disso, Guedes comemora sua poupança em meio à miséria, morte e fome.

Guedes classificou de “extraordinário” o resultado primário do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) no ano passado, que apontou o menor déficit fiscal desde 2014. Este resultado, no entanto, só interessa ao “mercado”, ou seja, especuladores financeiros que despejam dólares em aplicações conforme observam que o governo tem capacidade de pagar altos juros por seu “investimento”. Para o brasileiro, o resultado é pífio, com a inflação crescente, a recessão econômica se agravando ainda mais que na pandemia, e a taxa de emprego que não melhora.

Guedes e sua macroeconomia não admitem que a inflação não se resolve apenas com taxa de juros e geração de desemprego. É preciso haver uma sólida política de segurança alimentar, investimentos públicos em infraestrutura para gerar empregos e novos investimentos, e estímulo de crédito para investimentos da indústria e da construção civil. Isso, sem mencionar a necessidade premente de mudar a política de preços da Petrobras que afeta toda a cadeia produtiva com os altos custos dos combustíveis.

O tamanho dos gastos nas contas públicas do ano passado é 95,3% menor do que o registrado em 2020, que chegou a R$ 743,2 bilhões. Esse resultado foi impulsionado pelos gastos extraordinários de combate a pandemia de covid, embora em 2021 os gastos tenham sido descontinuados, mesmo com a necessidade de investimentos em testagem, saúde, vacinas e pesquisas. Em 2021, as despesas extraordinárias relacionadas com a pandemia somaram R$ 109,3 bilhões. Em 2020, esses gastos totalizaram R$ 524 bilhões.

Contas do Governo Federal em R$ bilhões, valores corrigidos pela inflação

O déficit primário ocorre quando as despesas do governo superam as receitas com impostos e tributos. O resultado primário não considera os gastos com o pagamento de juros da dívida pública, ou seja, o desvio de recursos dos cofres para especuladores financeiros não entram nessa conta, o que certamente derrubaria este resultado primário.

“Houve dúvidas, críticas, acusações de populismo fiscal, todas equivocadas a respeito das nossas contas. Tivemos resultado extraordinário de déficit de 0,4% do PIB [Produto Interno Bruto], de R$ 35 bilhões apenas”, declarou o ministro durante a apresentação do resultado primário em 2021.

Guedes admitiu que a inflação veio acima do esperado, mas rebateu as críticas de que a inflação impulsionou as receitas do governo no ano passado. Para Guedes, a recuperação da economia após a fase mais aguda das medidas de distanciamento social em 2020 foi o principal fator para o melhor desempenho das contas públicas. Ele insiste nessa narrativa da recuperação da economia, mesmo com o próprio governo admitindo que a recuperação foi menor do que a esperada, e menor do que a anunciada, devido a erro de cálculo (calculado).

Funcionalismo

Sobre os gastos para este ano, o ministro disse que estava certo ao congelar o salário do funcionalismo público até o fim de 2021. Em um momento em que diversas categorias promovem protestos e paralisações, Guedes disse que não faz sentido o governo conceder reajustes neste ano porque a pandemia ainda não acabou.

“Estávamos certos quando não deixamos os recursos destinados ao combate à pandemia virarem aumentos salariais. Tivemos coragem de controlar o Orçamento, sem reajustes de salários. Qual o sentido de pedir reajuste de salários mesmo agora, ainda em guerra [contra a pandemia]?”, questionou o ministro.

Para Guedes, nos últimos anos, o governo deu prioridade aos gastos com a saúde em 2020, e o corte de gastos em 2021 não se repetirá. Com isso, ele faz uma promessa que não tem condições de cumprir, conforme os cortes no orçamento em pastas prioritárias como Educação e Trabalho, se confirmam. “O ajuste feito em 2021 não acontecerá de novo. O sacrifício já foi feito. A atual geração pagou por sua guerra [contra a pandemia]”, declarou Guedes, antecipando o populismo fiscal em período eleitoral.

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