Bolsonaro libera destruição de cavernas para “alegrar sua seita”
A medida feita em conluio com mineradoras, não tem chance de prosperar neste final de governo. Decreto poderia destruir ecossistemas delicados que poderiam agravar a pandemia.
Publicado 15/01/2022 19:34
Um decreto do presidente Jair Bolsonaro publicado no último dia 12 altera as regras de proteção das cavernas brasileiras e, segundo ambientalistas, pode levar à destruição de centenas de grutas em todo o país e de milhares de espécies que vivem nesses ambientes. Especialistas apontam também o risco de novas epidemias e pandemias como a do coronavírus, com o desabrigo de populações de morcegos que vivem nesses ambientes.
A medida presidencial soa esquisita em meio a tanta tragédia num mesmo país. Uma medida complexa e polêmica que deveria passar por audiências e debate público, é objeto de decreto presidencial, que se sabe que não terá efeito prático. É mais um decreto de Bolsonaro feito para agitar o Twitter.
Quem explica esse paradoxo é o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), que desmascara a estratégia única de Bolsonaro em seu governo sem realizações úteis para a sociedade brasileira. Ele chama a estratégia de “revanche dos idiotas”, referindo-se à agitação que provoca na base do bolsonarismo.
“Sabendo que é absurdo e ilegal o decreto que autoriza construções em cavernas classificadas como relevantes e que ele será derrubado, o que Bolsonaro ganha com isso? Revoltar 80% da população e alegrar os 20% de lunáticos de sua seita. É a revanche dos idiotas”, disse o deputado.
Mineração e morcegos
A nova norma autoriza intervenções em qualquer tipo de caverna, inclusive as de relevância máxima, para obras e empreendimentos considerados de utilidade pública. O decreto foi pensado para beneficiar as mineradoras, setor que apoia politicamente Bolsonaro.
Entre 5 de novembro e 9 de dezembro de 2021 foram realizadas oito reuniões para formatar as novas regras com participação dos ministérios do Meio Ambiente, das Minas e Energia e da Infraestrutura, além de integrantes das procuradorias jurídicas. Em algumas delas, houve participação de representantes do setor de mineração, mas espeleologistas e ambientalistas não foram convocados, apesar da manifestação de interesse em participar do processo de elaboração das novas normas.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) e a deputada Áurea Carolina (PSol-MG) foram os primeiro a garantir o combate parlamentar ao decreto. Contarato disse que o decreto fragiliza os mecanismos de proteção das cavernas brasileiras. “As cavernas são bens da União e constituem parte do patrimônio cultural do Brasil. Não temos dúvidas sobre os fortes interesses econômicos por trás dessa manobra”.
A deputada mineira disse estar mobilizada para reverter o decreto. “Cavernas são ecossistemas fundamentais para a biodiversidade, o abastecimento de aquíferos e a formação de solo. Imaginem os impactos de sua destruição!”, disse ela.
Este aspecto biológico mencionado é destacada como uma das principais ameaças do decreto, já que implica em agravar epidemias e a própria pandemia do novo coronavírus. Cavernas são ecossistemas complexos e exclusivos de animais como morcegos que, sob intervenção construtiva seriam afetados em seu delicado equilíbrio. São ocupações de áreas florestais que levam ao desequilíbrio ambiental e promoverem o contato entre animais e seres humanos, que faz os vírus sofrerem mutação para contagiarem o ser humano.
As cobranças sobre o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, também tomaram a timeline das redes sociais. Ele, por sua vez, desconversou cobrindo seu perfil oficial de visitas às inundações em Minas Gerais. Sua única manifestação após decidir as regras com o setor da mineração está no texto do próprio decreto, em que diz que a medida vai gerar emprego e renda, possibilitando investimentos em projetos de rodovias, ferrovias e mineração, entre outros.
O Brasil é internacionalmente conhecido pela sua impressionante biodiversidade, mas há ainda outro patrimônio natural pelo qual o nosso país deveria ser reconhecido: suas cavernas. + pic.twitter.com/ajHP9ZbSVV
— Frente Ambientalista (@ambientalfrente) January 13, 2022
Em poucas décadas, tudo que a mineração tocou em Minas vai ter destruído as florestas, sumido com a água, comido as montanhas, soterrado as cavernas e colapsado a biodiversidade por uns trocados que já terão desaparecido. Ficarão as crateras e os alertas de rompimento de barragem
— Aroeira ? (@andrearoeirap) January 10, 2022
A exploração das cavernas faz todo o sentido para Bolsonaro. Nada a ver com arqueologia. Ele espera encontrar nelas o Homo Vagabundus, o Broncosauro, que deu origem à sua espécie. Coisa afetiva.
— Palmério Dória (@palmeriodoria) January 15, 2022