Setor de óleo e gás encolhe em 2021, com perdas para os trabalhadores e a sociedade
Segundo dados do IBGE, nos três primeiros trimestres do ano, houve uma redução de 2,4% na média de empregos e uma queda de 9,5% no rendimento dos trabalhadores, em comparação ao mesmo período de 2020. Especialistas atribuem o encolhimento ao desmonte do Sistema Petrobras. Bahia foi o estado mais afetado pelas privatizações.
Publicado 13/01/2022 17:39 | Editado 13/01/2022 17:48
O setor de óleo e gás no Brasil registrou aumento no nível de desemprego no ano passado, contrariando promessas do governo e expectativas do mercado de que a política de privatizações de ativos da Petrobras teria impactos positivos sobre emprego e rendimentos. Estatísticas oficiais mostram justamente o oposto.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que na média anual dos trimestres de 2021 (até o terceiro trimestre, último dado disponível), o efetivo de trabalhadores no setor de óleo e gás no país teve queda de 2,4% (de 159.086 postos de trabalho, em 2020, para 155.227, em 2021), em comparação com a do ano anterior.
A redução ocorreu também na renda dos trabalhadores do setor de extração e respectivas atividades de apoio, que, segundo a PNAD, tiveram declínio médio nos seus rendimentos de aproximadamente 9,5%. Os dados foram analisados pelo pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rafael Rodrigues da Costa, juntamente com os economistas do Centro de Economia Política do Petróleo (Cepetro), Pedro Gilberto Cavalcante Filho e Claudiane de Jesus.
A Bahia, estado do Nordeste que concentra mais ativos da Petrobrás à venda, teve forte participação nesses resultados, após o encolhimento da estatal na região, com as vendas dos campos terrestres na bacia do Recôncavo e mais recentemente da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) e sua logística de terminais e de armazenamento. Desde 2015, a Petrobrás colocou, ao todo, 378 ativos em desinvestimento, sendo 116 na Bahia (31% do total), segundo levantamentos do Ineep (vide gráfico abaixo).
No estado da Bahia, a média anual de 2021 registra uma retração de postos de trabalho de 28,9% em comparação ao mesmo período do ano passado. Uma perda média equivalente a 7.000 empregos (de 25.788, em 2020, para 18.328, em 2021). A queda nos salários do setor de óleo e gás na capital baiana chegou a 22,9%, saindo de um patamar de renda média próximo a R$ 7.180,00, em 2020, para algo em torno de R$ 5.140,00, em 2021.
Ou seja, a saída da Petrobrás de alguns segmentos, e a consequente entrada das empresas privadas, não surtiu efeitos positivos nem na geração de novos postos de trabalho, nem no aumento da renda. Os resultados não surpreendem a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que vem alertando seguidamente para consequências negativas da privatização de ativos da Petrobrás, como a RLAM.
“Queda do emprego e do salário e aumento nos preços dos produtos ao consumidor são efeitos nefastos de um mesmo fenômeno, que é a criação dos monopólios privados regionais, resultantes da venda equivocada e ativos da Petrobrás”, destaca o coordenador-geral da entidade, Deyvid Bacelar, também diretor do Sindipetro-BA.
Embora a pandemia do coronavírus possa ser considerada também um fator importante para a diminuição nos postos de trabalho, o movimento de queda no mercado de trabalho baiano é um fenômeno que vem ocorrendo simultaneamente ao início do programa de desinvestimentos da Petrobrás, desde o final de 2015, diz o pesquisador do Ineep Rodrigues da Costa, com base nos dados do IBGE.
Ao comparar o estoque de empregos no setor de óleo e gás na Bahia ao programa de desinvestimentos da Petrobrás, é possível observar que no 3º trimestre de 2015 o setor empregava até 37.890 pessoas. Hoje, o setor petrolífero ocupa menos de 8.760 postos de trabalho na região, de acordo com as estatísticas do terceiro trimestre da PNAD 2021.
Com informações da Comunicação da FUP.