Com Bolsonaro, BNDES investe um terço dos governos Lula e Dilma
Banco chegou ao pico de R$ 190 bilhões em empréstimos em 2013, considerando valores corrigidos pela inflação
Publicado 10/01/2022 11:10 | Editado 10/01/2022 18:06
Criado no segundo governo Vargas, em 1952, o quase septuagenário BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) atingiu seu auge durante as gestões dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Mas sua “reestruturação” conservadora, após o golpe de 2016, reduziu sensivelmente os investimentos do banco estatal – que, sob o governo Jair Bolsonaro, é nitidamente subaproveitado.
Em junho de 2022, a instituição completa 70 anos ainda em fase de retração do crédito. Durante sua expansão nos governos petistas, o BNDES chegou ao pico de R$ 190 bilhões em empréstimos em 2013, considerando valores corrigidos pela inflação. A previsão é que em 2021, com Bolsonaro, o banco tenha desembolsado R$ 64 bilhões – cerca de um terço. O número oficial será conhecido em março.
O montante do terceiro ano bolsonarista é semelhante ao de 2020 em termos nominais – e só fica acima dos R$ 55 bilhões a valores correntes de 2019, ano que marca o “piso” de uma série desde 2010. O governo ultraliberal, sob a orientação de Paulo Guedes, travou os investimentos no Brasil – e os números de 2019 mostram que a pandemia – posterior àquele ano – não pode ser responsabilizada.
Na opinião de economistas, o desembolso de R$ 64 bilhões em 2021 é resultado de um nível de atividade na economia com alta incerteza e também do aumento de juros, o que retrai a demanda por investimentos. A meta de desembolso para 2022deve ser conhecida até fevereiro – quando o BNDES divulgar a revisão do planejamento estratégico. Mas não há perspectivas de expansão.
Desde o governo ilegítimo de Michel Temer (2016-2018), houve enxugamento da carteira de ações de empresas participadas com o intuito de reduzir o risco associado a esse portfólio. O BNDES é acionista de grandes companhias. Apenas cinco delas (Petrobras, JBS, Eletrobras, Copel e Cemig) representavam, em 30 de setembro de 2021, mais de 80% do valor total da carteira, avaliada, na data, em R$ 77,7 bilhões.
Há ainda outro elemento no papel atual do BNDES, que passa pela devolução de empréstimos bilionários feitos ao banco pelo Tesouro Nacional. A operação permite reduzir a dívida pública mobiliária federal. O saldo desses empréstimos chegou aos R$ 500 bilhões.
Embora todo esse movimento tenha começado em 2016, foi com Bolsonaro que a diretriz se aprofundou. Ao tomar posse, em 2019, o presidente prometeu desvendar a suposta “caixa-preta” no BNDES. Pouco ou quase nada foi encontrado. “O ideal seria definir uma política de Estado de longo prazo para o BNDES, de 20 anos, e mandá-lo executar”, diz um técnico do banco. Na prática, desde Vargas, o BNDES tem sido usado pelos governos para fazer política industrial de curto prazo.
A posição do BNDES fica evidenciada nas contas de Carlos Antonio Rocca, coordenador do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec/Fipe). Ele diz que, em 2011, o banco representava 22% das dívidas das empresas brasileiras somadas. Em setembro, esse percentual tinha caído para 8%. Em dez anos, o BNDES encolheu para quase um terço do tamanho que tinha. As empresas passaram a se financiar de outras formas, numa evidência de que governos direitistas desperdiçam o potencial do BNDES como indutor do crescimento e do desenvolvimento do Brasil.
Técnicos do banco questionam se a substituição do BNDES por fontes de mercado será suficiente para suprir um possível ciclo virtuoso de investimentos no futuro em cenário de retomada da economia. Levantam ainda dúvidas se com maior crescimento, a partir de 2023, poderiam faltar recursos no banco para atender à demanda.
Em 2013, os recursos líquidos captados pelas empresas foram equivalente a 6,8% do Produto Interno Bruto (PIB) – e o BNDES, sozinho, respondeu por 1,27% desse total, diz Rocca. Em 2020, a captação líquida das empresas foi de 4,4% do PIB e a parcela do BNDES no bolo foi reduzida a 0,09%.
Com informações do Valor Econômico