O que esperar na saúde, política, economia e em outros temas vitais ao Brasil em 2022
Especialistas ouvidos falam em novos aprendizados e das muitas dificuldades que teremos de enfrentar nessas áreas
Publicado 08/01/2022 03:16 | Editado 08/01/2022 03:38
SAÚDE
São cinco reportagens, a primeira sobre saúde, na qual os professores Domingos Alves, do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública (FSP), ambos da USP, enfatizam que as dificuldades enfrentadas em 2021 podem representar sementes para novos aprendizados que, bem cultivados, devem criar para 2022 cenários melhores.
Além dos problemas sanitários, a pandemia deixou exposta também as desigualdades sociais do País. Segundo Alves, “os cientistas da área da saúde fizeram toda a diferença no combate à pandemia”, mostrando que “saúde pública se faz com ciência, e não com política”. Já para Vecina Neto, a desigualdade mata mais que o vírus e destaca que “o Brasil, segundo maior produtor de alimentos do mundo, está tendo fome crônica, aguda na população, por falta de um Estado que promova segurança alimentar”.
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ECONOMIA
Segundo avaliação de especialistas da USP, a economia brasileira em 2021 não esteve para brincadeiras e não deve gerar boas expectativas para 2022. Segundo o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, “o grande problema é que o diagnóstico feito pelo governo para as causas da inflação está errado”. Como o País vem atacando a inflação com aumento das taxas de juros, o professor alerta que “a situação, provocando uma diminuição da atividade econômica”, só deve piorar.
Para o professor Alex Ferreira, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP em Ribeirão Preto, com a inflação 6,45% acima da meta estabelecida e a taxa de juros com um aumento prefixado de 1,5%, o Brasil não deve esperar muito para 2022.
E as previsões de crescimento devem continuar ruins até 2024, continua Ferreira, já que “as taxas de crescimento esperadas para o biênio 2023 e 2024 também são baixas, de 2% ao ano”. Nessa velocidade, estima o professor, “iria demorar 35 anos para dobrar a nossa renda total. É um cenário desolador”.
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MEIO AMBIENTE
Na visão de especialistas e ambientalistas da USP, o saldo do ano não é positivo e exige mudanças de políticas e de relacionamento com o meio ambiente, pautadas não apenas pela economia, mas pela qualidade de vida de maneira geral.
De acordo com o professor de Biologia, Marcelo Marini Pereira de Souza, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, o ano de 2021 foi marcado pelas “queimadas, devastação das nossas vegetações nativas e prejuízos enormes à biodiversidade”. A década da biodiversidade, segundo Souza, acabou no final de 2020 e deixou em seu lugar “cada vez mais pastagem, desmatamento, matança e extinção”.
Souza acredita que as promessas da COP26 são um indicativo de que existem “pessoas preocupadas com os aspectos decorrentes das mudanças climáticas” e com todo o processo que envolve não somente a economia, mas a perda de biodiversidade e da qualidade de vida de uma maneira geral.
Especialista em política climática mundial pela USP, a professora Helena Margarido Moreira concorda que o País acumulou pontos negativos na área ambiental em 2021 e destaca a questão indígena. Foi “um ano de não demarcação de terras indígenas e de tentativas de reduzir as áreas já demarcadas”, argumenta, citando como exemplo a Terra Indígena Apyterewa, no Pará, já que o local sofreu nas mãos de agentes federais em 2021.
Segundo a professora Helena, o setor energético é um dos que mais precisam de atenção. Helena acredita que o Brasil tem todo o potencial para aproveitar o atual momento em que há uma demanda por economia de baixo carbono e garantir políticas públicas, planejamento e investimentos tecnológicos “em novos tipos de energias, que sejam limpas, renováveis”.
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EDUCAÇÃO
Na área da educação, 2021 termina com resultado nada animador. A dificuldade do País em lidar com problemas estruturais obrigou parte significativa dos alunos a ficar sem estudos durante a pandemia pela falta de acesso à internet, computadores, tablets ou celulares. Para educadores da USP, a pandemia intensificou e escancarou a desigualdade social. Contudo, houve avanços, principalmente quanto ao letramento digital de professores e alunos, o que abre perspectivas de recuperação para 2022.
O educador Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Polo Ribeirão Preto do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, conta que o desempenho ruim do País não se restringe à leitura, mas também à matemática e às ciências, “que são as áreas que o Pisa avalia e o Brasil sempre esteve na rabeira do ranking”.
Já a professora Elaine Assolini, do Departamento de Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, avalia que a pandemia intensificou, principalmente, “a desigualdade social que marca este país” e que, para mudar o rumo da educação, “é fundamental que as políticas públicas cuidem sobretudo da alfabetização e do letramento de crianças, jovens e adultos neste país. Caso contrário, nós vamos continuar com índices baixíssimos quando somos avaliados por diferentes órgãos”.
A necessidade forçada de adaptação a meios tecnológicos e diferentes recursos digitais ampliou o nível de letramento digital dos alunos e dos professores, avalia Elaine. Segundo a professora, essa interação garantiu um aprendizado importante que deve ser aproveitado agora na retomada das aulas presenciais.
A ideia também é defendida pelo professor Ramos, que destaca “o enorme esforço que as escolas, os professores e os gestores escolares realizaram tanto na escola pública quanto na escola particular para que os alunos mantivessem suas atividades escolares” no período de pandemia. Esforços esses que se traduziram no desenvolvimento de instrumentos “que servirão de bússola para a retomada da educação em 2022”.
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POLÍTICA
A disputa eleitoral no Brasil vem criando clima de polarização nas urnas entre a extrema direita do atual presidente Jair Bolsonaro e a centro-esquerda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda à espera da chegada de uma terceira ou até mesmo uma quarta via para a corrida presidencial. Essa polarização, segundo especialistas políticos da USP, não é perigosa, desde que apareçam outras opções para o eleitor brasileiro, que deve se atentar ao histórico e se orientar pelo programa de governo apresentado por cada candidato.
Frente às dificuldades enfrentadas nas políticas sanitárias do atual governo, o brasileiro aprendeu a olhar as políticas públicas com mais sensibilidade e importância, avalia o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor da Unesp de Araraquara. Para Nogueira, a população passou por um processo de assimilação tanto com a figura do presidente quanto com o cenário político nacional. Diante do fracasso da política sanitária do governo atual, “acho que houve uma ampliação da sensibilidade dos cidadãos em relação à relevância que políticas públicas, sobretudo aquelas de caráter social, têm na vida atual”, afirma o professor.
A polarização, diz o cientista político José Álvaro Moisés, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é natural, “principalmente quando você tem uma sociedade com posições contrapostas e que se apresentam com objetivos, com projetos, buscando realizar aquilo que corresponde ao que a sociedade espera”. A polarização, garante, só se torna um problema a partir do momento em que ela impede o surgimento de novas alternativas.
Por outro lado, o professor Nogueira avalia que a polarização nas eleições faz parte do processo democrático, mas é importante que essa disputa tenha qualidade para não cair no populismo. Nesse cenário de polarização, o eleitor brasileiro estará em uma situação “extremamente difícil e complexa nas eleições de 2022”, avalia Moisés.
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