Jornal Nacional ataca Bolsonaro por mentir sobre 300 crianças mortas
Após censuras vindas de diversos setores sanitários pela declaração de Bolsonaro desestimulando a vacinação de crianças, a Rede Globo se manifestou em seu principal telejornal.
Publicado 07/01/2022 08:07 | Editado 06/01/2022 23:43
Os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos abriram o Jornal Nacional desta noite de quinta-feira com editorial criticando e responsabilizando o presidente Jair Bolsonaro por mais declarações chocantes desestimulando as famílias brasileiras a vacinar seus filhos contra a covid.
Em uma entrevista à TV Nova Nordeste, Bolsonaro minimizou o número de mortes por Covid nessa faixa etária. Disse que não conhece nenhum caso, embora o próprio Ministério da Saúde de seu governo contabilize 308 mortes de crianças de 5 a 11 anos até agora.
Bolsonaro também duvidou da honestidade da Anvisa por ter aprovado a vacinação infantil contra covid e chamou quem defende a imunização de “tarados por vacinas”. As cenas de banalização das mortes foram publicadas nas redes sociais do presidente.
O editorial considerou mentira e desinformação a afirmação do presidente e um desrespeito com as famílias que perderam quase três mil crianças e adolescentes para a covid. O texto ainda defendeu a legislação e o trabalho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob ataque e ameaças do presidente e seus apoiadores.
O texto ainda qualifica de “estapafúrdia” a sugestão do governo de consultar a população sobre o assunto, quando apenas médicos especialistas devem decidir sobre prescrição de medicamentos, e não o público leigo. Conclui responsabilizando o presidente pelas consequências do que diz ao prejudicar a vacinação das crianças.
Médicos pediatras
A Sociedade Brasileira de Pediatria atestou durante a consulta pública sobre vacinação infantil aberta pelo governo que, embora a Covid seja mais perigosa para adultos, nenhuma doença para a qual exista vacina mata mais crianças do que a covid. Foram 2 mil e 500 óbitos na população abaixo de 19 anos e em torno de 300 óbitos na população entre 5 e 11 anos. Nenhuma outra doença imunoprevenível (aquelas com vacina disponível), matou esse número de pessoas.
A Sociedade Brasileira de Pediatria repudiou publicamente a declaração de Bolsonaro. Em uma nota, a entidade afirma que o Brasil deve temer a doença, nunca o remédio; que a vacina previne dor, morte, emergências e internações em todas as faixas etárias.
Repercussão
Bolsonaro é um crápula, um cafajeste que desafortunadamente está causando terríveis prejuízos ao povo brasileiro. A crueldade do genocida não poupa nem crianças.
Ele será derrotado. Mas não basta! É preciso ser exemplar: que seja julgado pelo TPI e termine seus dias na cadeia.
— Orlando Silva (@orlandosilva) January 6, 2022
Qual interesse em vacinar as crianças? SALVAR VIDAS! Algo que o próprio presidente não fez na pandemia, né?! #VacinasSalvamVidas pic.twitter.com/p9Fb5vvniq
— Manuela (@ManuelaDavila) January 6, 2022
O Brasil vai decidir neste ano se é tarado por vacina ou pela morte.
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) January 6, 2022
Bolsonaro sabe bem o que faz e fala. Ele é responsável pelas suas omissões, mentiras, ofensas e crimes. Já passou da hora dele ser responsabilizado! pic.twitter.com/sP5SxlFPW4
— Randolfe Rodrigues ?? (@randolfeap) January 7, 2022
As VACINAS são para salvar VIDAS! Esse é o interesse da ANVISA e de seus servidores. Quem queria ganhar dinheiro com “vacina fake” era a trupe do seu governo @jairbolsonaro , como ficou claro na CPI/COVID. https://t.co/DxdVMMDo9g
— Randolfe Rodrigues ?? (@randolfeap) January 7, 2022
Bolsonaro segue como mercador da morte.Tem a vida associada a assassinos,armas,milícias. Na pandemia é principal responsável pelo morticínio.A CPI dissecou esse monstro e o indiciou por 9 crimes.Os demais poderes devem fazer sua parte sem cálculo político e estancar a impunidade. pic.twitter.com/kbCaXGkASs
— Renan Calheiros (@renancalheiros) January 7, 2022
Ao invés de criar obstáculos, o governo federal deveria acelerar a vacinação de crianças, como outros de países já fizeram. Um dia D nacional de vacinação das crianças, como já fizemos em outras épocas, para termos a volta as aulas com todas já com duas doses. #AnoNovoDoseNova
— Lula (@LulaOficial) January 5, 2022
O Governo é responsável pelo atraso da vacinação infantil contra COVID. O negacionismo de Bolsonaro fará com que algumas crianças não tenham sequer iniciado o esquema vacinal quando voltarem às aulas. Cada dia sem vacina é um dia em que milhares de pessoas podem ser contaminadas.
— Jandira Feghali ??? (@jandira_feghali) January 6, 2022
Leia a íntegra do editorial do Jornal Nacional:
As declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre as mortes de crianças por covid afrontam a verdade e desrespeitam o luto de milhares de brasileiros – parentes e amigos das mais de 300 vítimas de 5 a 11 anos.
O presidente também desrespeita todos os técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ao questionar qual seria o interesse da Anvisa com a autorização da vacinação de crianças. O interesse da Anvisa está expresso na lei que a criou: coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, em defesa da saúde da população.
O 4º artigo da lei determina que a agência atue como entidade administrativa independente e que as prerrogativas necessárias ao exercício adequado de suas atribuições sejam asseguradas. Não é isso que o presidente tem feito ao ameaçar divulgar nomes de integrantes da Anvisa que aprovaram a vacinação infantil. E, agora, ao questionar a lisura do órgão.
Por fim, as declarações do presidente Jair Bolsonaro contrastam com aquilo que prevê o artigo 196 da Constituição que ele jurou respeitar: a saúde é direito de todos os cidadãos – e dever do Estado.
O governo Bolsonaro retardou a decisão sobre as vacinas para crianças desde o dia 16 de dezembro de 2021 até quarta-feira (5), data limite imposta pelo Supremo Tribunal Federal. Convocou uma consulta pública estapafúrdia, porque remédios não podem ser aprovados pelo público leigo, mas por cientistas.
Em razão dessa demora, as famílias brasileiras têm ainda que aguardar ao menos mais sete dias até a chegada das primeiras doses pediátricas.
Como se não bastasse, nesta quinta-feira (6), ele insistiu em atacar as vacinas. O presidente Jair Bolsonaro é responsável pelo que diz, pelo que faz. Espera-se que venha também a ser responsável por todas as consequências daquilo que faz e diz.