Um romance crítico sobre o ‘anarco-capitalismo’

O Ancap trata da deterioração da solidariedade social e da escalda do individualismo radical.

Como professor, via com espanto a escalada de ‘intelectuais’ como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino e Leandro Narloch. Para quem é letrado em ciência, não passam de caricatura. Contudo, a vitória do governo Bolsonaro tornou claro a força dessas ideias abertamente negacionistas e reacionárias. Mais do que nunca, é imperativo conhecer e combater tais narrativas em diversos campos. E isso inclui os tais ‘anarco-capitalistas’, uma contradição em termos.

Nesse sentido, o romance de estreia do jornalista Fausto Oliveira, O Ancap, é uma leitura primordial. Mais do que nunca há uma propagação do ultra-liberalismo no Brasil, vendendo ilusões de empreendedorismo MEI e/ou o enriquecimento fácil via mercado financeiro. Nesta obra ficcional (ma non tropo) trata de dois jovens estudantes de Economia que rompem sua amizade porque um deles adere ao anarco-capitalismo e se torna um youtuber influente e abastado, enquanto o outro se forma e abre um empreendimento industrial igualmente bem-sucedido. Mas o primeiro se envolve em um lobby empresarial para tomar de assalto o sistema público de saúde.

O Ancap é um livro provocador. Trata da deterioração da solidariedade social e da escalda do individualismo radical. Ao mesmo tempo, se presta a discutir o papel da ciência, da internet, das perspectivas teóricas e, sobretudo, dos caminhos que podemos tomar como sociedade. De leitura fácil e tema candente, Fausto nos convida e enfrentar as reflexões necessárias para que o Brasil retome um projeto de desenvolvimento e de inserção internacional compatível com sua estatura. Afinal, apesar dos dessabores após a crise global de 2008 e do próprio governo Biden ter abandonado a agenda liberalizante, o atual governo insiste no desmonte dos pilares do Brasil moderno surgidos com a Era Vargas.   

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