Crise do PSDB se aprofunda e pode resultar na destruição da legenda

Sem sucesso, mais um aplicativo foi testado para as prévias dos tucanos. No domingo (21), o vexame foi grande com a suspensão do pleito por defeito no aplicativo. A falha acabou expondo um partido dividido e sem condições de colocar na disputa uma candidatura competitiva

Na madrugada desta quarta-feira (24), mais um aplicativo foi testado sem sucesso para a realização das prévias do PSDB para escolher seu candidato a presidente em 2022. No domingo (21), o vexame dos tucanos foi grande com a suspensão do pleito por causa do defeito no dispositivo que custou a bagatela de R$ 1 milhão. A falha acabou expondo um partido dividido e sem condições de colocar na disputa uma candidatura competitiva.

O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio e os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP), os candidatos na prévia, trocaram acusações que vão desde a ação de bolsonaristas a favor do governador gaúcho até a compra de votos. Um caos. Tudo com cobertura midiática intensa.

“Eu vejo duas questões importantes a colocar. A primeira é que nós temos uma bancada que tem se comportado como bolsonarista ao longo das votações mais relevantes. A segunda é que eu considero o PSDB um caminhão carregado de maçãs, mas tem uma que está estragando bastante como outras: Aécio Neves”, disparou o ex-prefeito de Manaus.

“Faz muito tempo que o Arthur Virgílio se transformou numa figura pouco relevante no PSDB, onde ninguém o leva muito a sério. Em 2018, já tínhamos visto esse filme, quando, sem qualquer apoio, se declarou candidato contra Alckmin (Geraldo, candidato a presidente) em troca de alguma visibilidade, e, ao final, saiu desferindo ataques violentos ao candidato e ao partido”, disse Aécio, que acusou o ex-prefeito de ser laranja de Doria.

Apoiadora de Leite, a deputada Mara Rocha (AC) acusou a campanha de Doria de tentar comprar seu voto. “Estou saindo desse partido e vou para o PL porque eu sou Bolsonaro”, disse ela. “Não houve compra de votos, não houve irregularidades. Se tivesse havido, denuncia-se, comprova-se, demonstra-se. Colocações feitas ao sabor e ao calor de uma prévia, prefiro não levar em consideração”, respondeu Doria.

Revoada

Fraude ou não, o fato é que os tucanos enfrentam grave crise e uma perspectiva de debandada dos seus parlamentares e quadros. Geraldo Alkmin, candidato a presidente em 2018, estava de mala pronta para ingressar no PSD. Só não formalizou o ingresso por conta da atual crise.

Em longa reportagem, o El País ouviu cinco parlamentares da legenda e representantes da cúpula que confirmaram a debandada. “As prévias nos deixaram fissuras que não serão sanadas”, relatou um deles ao jornal.

“Terceiro partido que mais apoiou as pautas bolsonaristas nos quase três anos de Governo, o PSDB está em vias de sofrer uma debandada de seus parlamentares. A revoada tucana deve ocorrer em abril, quando se abre a janela partidária. Até 13 dos 33 deputados federais do partido podem deixar a legenda, que se desgastou neste fim de semana ao adiar a definição de seu candidato à presidência da República. Ao menos oito já teriam sinalizado a intenção a dirigentes estaduais e nacionais. Os outros cinco ainda esperam as movimentações em seus Estados para decidirem se ficam no partido. No Senado, a perda seria menor, apenas um de seis parlamentares. A principal razão para a potencial desfiliação em massa é a sobrevivência política”, diz a reportagem.

Guinada à direita

Nesse contexto de crise, vale destacar a guinada à direita dada pelo partido que surgiu para ser social-democrata, sendo capaz de eleger, por duas vezes, um presidente (Fernando Henrique Cardoso) e foi o principal opositor aos governos petistas. Em 2014, contudo, o candidato derrotado Aécio Neves se afasta das posições históricas da legenda e abre o caminho para o golpe parlamentar que afastou do poder Dilma. Mais tarde a ascensão de Bolsonaro conta, por exemplo, com o apoio de Doria numa campanha colada com o capitão.

Em artigo publicado no Sul21, a cientista política Céli Pinto diz que os tucanos não têm condições de apresentar um candidato de centro para a disputa. “Após o melancólico desastre de 2018, quando Alkmin não conseguiu 5% dos votos, pretendia voltar como prefeito de São Paulo. Doria é um tucano de pobres plumagens, segundo alguns, compradas na 25 de Março. É rico, mas brega, e o PSDB gosta de rico com origem na USP”, disse. 

Ela avaliou que Doria apostava todas as suas fichas na administração da pandemia de covid-19 para ser o candidato do partido. “No entanto o partido, mesmo em frangalhos, se dividiu, e um jovem governador apareceu para aqueles que não engoliam o apresentador de TV disfarçado de governador, como o novo, a salvação da lavoura. Deu no que deu, o PSDB viveu algumas semanas gloriosas e a grande mídia também. Parecia que finalmente tinham encontrado o substituto de Bolsonaro, pouco importando se fosse Doria ou Leite. Mas o evento correspondeu à crença de que um moribundo melhora um pouco antes de morrer.  As prévias do partido viraram uma luta de rinha de galos sem regras. Lá se foi o sonho do centro novamente”, avaliou.

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