Governo Bolsonaro interfere politicamente no Enem, criticam deputados
Após debandada de técnicos do Inep, órgão responsável pelo exame, Bolsonaro afirma que Enem passa a ter a cara do governo. Deputados condenam afirmação e cobram explicações
Publicado 16/11/2021 16:49
A declaração de Bolsonaro em Dubai, nesta segunda-feira (15), sobre as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será realizado nos dias 21 e 28 de novembro, repercutiram no Parlamento. Em entrevista na saída da Expo 2020, Jair Bolsonaro afirmou à imprensa que agora, as questões da prova “começam a ter a cara do governo”.
Para deputados do PCdoB, a declaração explicita interferência política e ideológica na formulação do exame, tal qual denunciado pelos servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela prova, antes da debandada das últimas semanas. Ao todo, 37 servidores deixaram o órgão e afirmaram ter sofrido pressão psicológica e vigilância velada na formulação do Enem deste ano para que evitassem questões polêmica, que poderiam “incomodar o governo”.
“É inaceitável que o presidente afirme que as questões do Enem “começam a ter a cara do governo”. A prova acontece no domingo, após a debandada de servidores do Inep em meio a denúncias de assédio moral, incompetência e ingerência política. A Comissão de Educação da Câmara quer que o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, explique as declarações do presidente Jair Bolsonaro. Servidores do Inep detalham interferência no conteúdo das questões e entrada de pessoas não autorizadas na área onde são elaboradas as provas. Jair Bolsonaro e sua equipe têm muito a explicar”, afirmou o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros.
Já o vice-líder da legenda, deputado Orlando Silva (SP), destacou que as declarações revelam que Bolsonaro “participa da quebra de sigilo da prova”. “É criminoso o que acontece no MEC. Por perseguição ideológica, arruinaram uma estrutura de Estado e produziram um fracasso na principal política pública de acesso à universidade. Em qualquer governo, seria caso de demissão do ministro. No atual, é para demissão do presidente. A declaração de Bolsonaro comprova a interferência política e ideológica na formulação do Enem, revelando que o próprio presidente participa da quebra de sigilo da prova. Mais um crime para a coleção do bandido serial”, criticou Orlando.
O deputado Rubens Jr (PCdoB-MA) ironizou a postura do presidente em suas redes sociais fazendo referência ao polêmico escola sem partido – defendido por Bolsonaro. “E Bolsonaro que defendia “escola sem partido” agora interfere no Enem para as questões “terem a cara do governo””, afirmou.
A audiência com o ministro da Educação deve entrar da pauta da Comissão de Educação esta semana. Na última, o presidente do Inep, Danilo Dupas, foi ouvido sobre o assunto pelos parlamentares do colegiado, mas disse que gostaria de tratar internamente a questão.
Convocação
O líder da Oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), diz que os parlamentares do bloco estão exigindo a convocação do ministro da Educação para que explique a afirmação de Bolsonaro de que o Enem “começa a ter a cara do governo”. “Absurdo! O Enem é um exame técnico, respeitado e que está acima de ideologias. Vamos à luta pelos nossos jovens!”, convocou.
“Um Enem com a ‘cara do governo’ terá homofobia, misoginia, fake news, racismo. O que Bolsonaro e sua trupe não querem é pluralidade e democracia. E com isso colocam em risco o futuro de milhões de estudantes. Isso é simplesmente ilegal”, criticou a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT).
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) diz que Bolsonaro “afundou a Educação na baderna e no horror”. “Triste paisagem do Enem 2021, que começa domingo: crise no INEP, menor número de inscritos em 16 anos, denúncias de espionagem, pressões para trocar pedagogos, interferência político-ideológica para mudar perguntas da prova.”
“Enem com a cara do Governo Bolsonaro? Vai ter questão sobre rachadinha, propina em vacina e orçamento secreto?”, ironizou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).