Cientista indicado por Bolsonaro para COP26 pede demissão: “Eu tentei”
Coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Lucon, pede demissão num atitude sintomática para a presença brasileira na conferência em Glasgow.
Publicado 03/11/2021 20:15 | Editado 03/11/2021 20:16
O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo nesta terça-feira (2), ainda no início das negociações da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — COP26. Ele foi nomeado para a função ainda em maio de 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro. Quem confirma a situação é a reportagem do G1, que também falou com o cientista.
O gesto drástico em plena COP26 é visto como sintomático da falta de prioridade do governo brasileiro ao debate na Escócia. Bolsonaro fez questão de ir Europa passear pela Itália, e nem chegar perto do Reino Unido no mesmo período em que ocorrer a COP26.
“O Fórum tem um objetivo na sua criação e eu não consegui cumpri-lo. Se ele não está sendo cumprido, é capaz de existirem pessoas melhores que eu para fazer isso”, disse Lucon, por telefone. Ele está em Glasgow, na Escócia, onde está ocorrendo a conferência climática.
Questionado sobre algum impedimento externo que possa ter dificultado o trabalho, o agora ex-coordenador disse que “ninguém o impediu e que tampouco é uma questão de competência”.
“Aqui na COP eu sou politicamente neutro. Não vou fazer nenhuma crítica ao governo, ou a ninguém, não vou fazer. Mas a COP poderia ser melhor aproveitada. Eu tentei, mas eu não consegui”, disse.
Outros especialistas e ambientalistas apontam as dificuldades de gestores em tentar fortalecer o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima diante de mandatários como Ricardo Salles ou Bolsonaro. Não há recursos nem diálogo com o governo, servindo apenas para ser usado como peça de manobra internacional, quando útil.
Oswaldo Lucon é integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização científico-política criada em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização Meteorológica Mundial. Ele também é assessor para mudanças climáticas da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo e é pesquisador do tema.
O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima é um comitê híbrido, ou seja, tem membros da sociedade civil e do governo, tendo à sua frente o presidente do país. Foi criado com o objetivo de fazer deliberações e orientar sobre as políticas do clima no país.
Dentre as atribuições do Fórum está a responsabilidade de indicar os membros da sociedade civil que fazem parte do Fundo Nacional Sobre Mudança do Clima. O Fundo foi criado em 2009 para apoiar projetos para reduzir as emissões de gases que causam efeito estufa e para adaptação do país para os efeitos da mudança climática, como falta de água em regiões do semiárido.
Com informações do G1