Saiba a repercussão do aumento de juros a 7,75%

O tom geral é de lamento pelo aumento dos juros, mas sempre culpando a flexibilização fiscal como vilão pelo “sequestro” do BC. A austeridade fiscal é a única receita para o mercado que rejeita qualquer incentivo à renda e ao consumo interno.

À direita e à esquerda, as reações à aceleração dos juros diverge e se encontra nas redes sociais. Enquanto setores do mercado comemoram os lucros nas aplicações, setores da indústria e do setor produtivo, assim como do comércio sofrerão os impactos da falta de crédito. Sindicalistas, por outro lado, lamentam esse caráter recessivo da taxa de juros alta. É bom lembrar que o Copom aponta viés de alta dos juros até o fim do ano, podendo ultrapassar os 9% até dezembro.

Parlamentares neoliberais também justificam a medida pela tentativa do governo Bolsonaro em aprovar pedaladas fiscais a partir da PEC dos Precatórios para driblar o Teto de Gastos. Usam a argumentação para tentar refrear Bolsonaro e suas inúmeras tentativas de criar recursos para despesas do Auxílio Brasil, seu novo programa social que pretende substituir o Bolsa Família, às vésperas da eleição.

Incapazes de pensar em medidas para além das bolsas de distribuição de renda, Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes são acusados de populistas. Perdidos em meio ao tiroteio, só sabem cortas gastos de pastas que poderiam contribuir para alavancar a economia, enquanto tentam aumentar sua popularidade com o Auxílio Brasil.

Não há regulação de estoques de alimentos, mudança na política de preços dos combustíveis, estímulo ao mercado interno e desestímulo às exportações do agronegócio ou ainda investimentos em infraestrutura para geração de energia e empregos. A única solução é a pedalada fiscal para desviar do teto de gastos, outra política que poderia ser revista e revogada, pelo caráter de sabotagem que tem sobre a economia.

Precatórios e pedaladas

O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, se manifestou neste sentido legalista, criticando a PEC dos Precatórios como a “institucionalização do calote e da irresponsabilidade fiscal”. Para ele, o custo será a “falta de credibilidade, inflação e explosão dos juros que asfixiam a produção”. “Anote o voto do seu deputado e verifique de que lado ele está. É o Brasil dando vivas ao passado!”, convocou ele, defendendo que a PEC não seja aprovada, o que dificultaria as intenções de Bolsonaro.

Outro que segue nesta linha é o ex-presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (ex-DEM-RJ), conhecido pela defesa ferrenha da austeridade fiscal. “Importante o Parlamento entender que o aumento dos juros tem relação direta com a PEC dos precatórios”, sugere ele, que é contrário ao atraso no pagamento dessas dívidas.

R$ 400 reais “a mais

Para outros, o aumento cavado por Bolsonaro para seu Auxílio Brasil de nada servirá com a inflação e o câmbio explosivos atuais. É o caso do jornalista esportivo Milton Neves. “Sabe o que adianta 400 reais a mais furando teto bisonhamente com dólar a mais de 6 e inflação e juros na lua? Porra nenhuma, burros!”, disse ele, em suas redes sociais, limitando o papel da distribuição de renda sobre o fluxo econômico. Ele também erra ao dizer que o aumento será de R$ 400 a mais.

O comentarista econômico Celso Ming também critica a má administração fiscal de Bolsonaro pela atitude do Banco Central. Como é típico da imprensa econômica hegemônica, gastar com pobres é sempre um mal negócio. Para ele, o principal fator é o afundamento do teto das despesas públicas, que perdeu uma âncora fiscal. “Perdeu porque o presidente Jair Bolsonaro quer se reeleger e decidiu comprar o voto dos pobres e dos caminhoneiros com injeção de dinheiro público na conta bancária deles”, diz o jornalista com desprezo. 

Divida/PIB e crescimento

O economista Felipe Salto, executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), afirma que o aumento da Selic, de 6,25% para 7,75% a.a. mostra que “o Banco Central vai contrair mais intensamente a política monetária para compensar a fiscal”. Para ele, as perspectivas são sombrias, pois “o resultado será a alta da dívida/PIB, que já ocorreria em cenário com juros mais módicos, e a redução do crescimento para 2022”.

Mercado de capitais e poupança

Há ainda, quem critica a alta dos juros básicos por atrapalhar o mercado de capitais. Para estes, a poupança e outras aplicações de renda fixa, portanto, aplicações conservadoras, vão ganhar impulso, transferindo recursos das aplicações mais arriscadas. “Daqui 45 dias voltamos a regra da poupança de remuneração de 6% + TR. E juros futuros projetam acima de 10% no próximo ano. Assim o mercado de capitais fica difícil de andar… com renda fixa tão elevada…”, disse no Twitter o economista e gestor de recursos, Gui Zanin.

Como ele, todos estão fazendo as contas de quanto rendem aplicações de diversos tipos. Até então, esses cálculos eram ignorados devido ao baixo impacto das oscilações de humor do Copom e a taxa “Chilique”. Com o aumento em patamares explosivos, já dá pra começar a se animar em guardar dinheiro, em vez de gastar. Há muitas críticas sobre a ineficácia ou dubiedade dessa ferramenta em controlar a inflação, se usada isoladamente, como é o caso.

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