Jorge, um escritor-comunista muito amado, por Luciana Bessa

Jorge Amado, comunista, engajado, político, escritor de quarenta e nove obras que nos faz refletir sobre a condição humana.

Jorge, um escritor-comunista muito amado

Luciana Bessa

Nascido em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, na Bahia, Jorge Amado é um dos poucos escritores brasileiros que pôde viver de sua própria arte e um dos mais adaptados para a televisão, o teatro e o cinema.

O antigo ocupante da cadeira nº23 da Academia Brasileira de Letras (ABL) experimentou quase todos os gêneros literários. São quarenta e nove obras – romances, memórias, crônicas, fábulas, poemas, viagens, historietas infantojuvenis –  traduzidos para mais de cinquenta países.

As obras amadianas são painéis políticos e críticos de análise de uma sociedade formada por classes sociais e tipos distintos (coronéis, latifúndios, trabalhadores, meninos de rua, prostitutas, lutadores de boxe, pais de santo). Todos são concebidos por sua força, determinação, humanidade e alegria em viver.

Jorge Amado foi desses homens de alma inquieta, livre e revolucionária. Aos 14 anos de idade, começou a trabalhar como repórter policial no Diário da Bahia e, logo depois, no Imparcial. Junto com amigos, em 1928, fundou a “Academia dos Rebeldes”, porque acreditavam na renovação da literatura baiana – “uma arte moderna, sem ser modernista”.

Por dispor somente da palavra como arma de combate, escreveu uma obra extensa, multifacetada e crítica valendo-se de uma linguagem concisa, direta e fluída, sem deixar de lado os traços poéticos. Como Literatura e Política mantém uma relação de proximidade, Jorge Amado, em 1946, que há muito já simpatiza das ideias socialistas torna-se deputado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apresentou quatorze emendas ao projeto de Constituição e uma delas diz respeito à isenção do tributo à importação e produção de livros. Mas mudam-se os tempos, mudam-se os Governos. Em nossos dias, são as armas que não pagam tributos, os livros, sim!

Seu engajamento político custou-lhe a prisão por três ocasiões (no Brasil) e um exílio  (França e República Tcheca), que nunca arrefeceu sua luta. Pelo contrário, nesta época escreveu OMundodaPaz, que lhe valeu o Prêmio Stalin da Paz, no ano 1953.

Seu primeiro romance vem à público em 1931 – O país do carnaval – e faz um retrato crítico e irônico da maior festa do Brasil, um país “verde por excelência”, “Futuroso”, “esperançoso”, contudo, marcado por grandes problemas sociais, políticos e econômicos. O que esperar de uma nação promissora que diante das mazelas de seus habitantes e a concentração de poder na mão de um grupo de políticos, que passa um ano inteirinho planejando a “festa da carne”?, Jorge nos faz pensar. Em 1933, publicou Cacau e, no ano seguinte, Suor, que expõe as condições subumanas em que vivem os moradores de um prédio na ladeira do Pelourinho, seguido de Jubiabá (1935), que toca em pontos como: o racismo, o sincretismo religioso, o mundo do trabalho etc. No final dessas narrativas, temos um herói engajado na luta por uma sociedade mais igualitária. Ao leitor, uma “sugestão”:  sejamos comunistas.

A imagem da mulher nordestina, em especial a da Bahia, é destaque em obras como Gabriela, Cravo e Canela (1958), Dona Flor e seus dois Maridos (1966), Tereza Batista Cansada de Guerra (1972) e Tieta do Agreste (1977).  Distante das personagens apresentadas no Romantismo, as personagens amadianas sãos concebidas por sua feminilidade, inteligência, garra, sensualidade, astúcia, determinação em não se deixar domesticar pelo sexo oposto, já que são conhecedoras de artifícios para arredar caminhos e chegar onde desejam. Elas (Gabriela, Flor, Tereza, Tieta), a todo instante, procuram modificar (ou pelo menos contribuem para essa modificação) as regras do jogo impostas por uma sociedade machista e opressora.

Jorge, comunista, engajado, político, é um nordestino amado por muitos e que espera ser lido por todos. Afinal, o escritor tem consciência do papel social que exerce na sociedade do qual faz parte, por isso se expõe e suscita questionamentos.

Luciana Bessa é Coordenadora da Roda de Poesia no Gesso do Coletivo Camaradas e idealizadora do Blog Literário Nordestinados a Ler.

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