Clima afeta menos a agricultura em 2022, que dólar e demanda externa
De acordo com professor da Esalq (USP), Fábio Marin, clima não é maior vilão, pois os componentes do aumento do dólar e da demanda da pandemia devem continuar para o próximo período, enquanto o La Niña pode trazer chuvas para a próxima safra.
Publicado 07/10/2021 20:58 | Editado 07/10/2021 21:04
O Brasil enfrenta sua pior seca em 91 anos, que se torna uma ameaça contra safras de grãos no País. O plantio de soja, no Centro-Sul, por exemplo, já enfrenta deficiências por essa razão, o que traz impactos negativos para produtores, mas principalmente para o consumidor de alimentos.
Nesse cenário, as crises econômica e política instauradas no País se somam e potencializam o cenário de instabilidade com a variação cambial e a forte exportação da produção brasileira com a pandemia e lucratividade externa. Portanto, há um desequilíbrio na demanda conforme aumentou muito as exportações, reduzindo os estoques locais, gerando forte inflaç˜ão.
Mas o professor Fábio Marin, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, surpreende ao observar que a questão climática tem menor efeito sobre o fenômeno econômico do que se imagina. “O maior vilão não é o clima, apesar do segundo ano com dificuldades climáticas em todo o centro-sul do Brasil. Tivemos outros dois componentes que são: o aumento do preço do dólar e a pandemia”, analisa ele, lembrando do encarecimento das commodities brasileiras.
O preço alto do dólar também foi sentido pelo produtor, que viu a compra dos insumos ficar mais cara, além da oportunidade do produtor exportar por um preço maior que contamina os preços locais. Já o consumidor da classe mais baixa acaba sendo o mais afetado com a alta inflação na compra de alimentos, cenário que pode se estender para 2022, na opinião do professor.
Embora não seja economista, o especialista em agricultura acha difícil haver uma queda significativa da cotação do dólar para os próximos meses, assim como o problema do clima permanece em aberto.
“A pandemia também causou um certo desarranjo nas cadeias de produção, conforme houve um aumento na demanda internacional que afetou os preços”, explicou Marin.
Desses fatores, portanto, o clima é o único com chances de reversão ainda na safra de verão. A maioria dos grãos, segundo o professor, são plantados a partir deste mês, para colheita em março e abril, escapando da seca atual. Algo que ninguém pode garantir ainda, salientou ele. A expectativa e previsão é que, com uma boa safra, a produção possa ser retomada em níveis maiores e a crise, atenuada, apesar da pressão do dólar e da demanda da pandemia.
Marin enfatiza que o ano foi muito bom para o produtor que, com a inflaç˜ão e variação cambial, mais que compensou a rentabilidade da baixa produtividade. A variação do dólar afetou o produtor apenas na compra de insumos importados e combustíveis.
A cana-de-açúcar e o café foram as principais safras afetadas pela crise hídrica e por um cenário climático desfavorável, como o caso da geada nos cafezais. As usinas não passaram no vermelho pela alta do preço do açúcar e do etanol. “Podemos esperar, infelizmente, o aumento do preço do nosso cafezinho, devido à complexidade da produção dessa fruta”, indica Marin.
“O clima da safra de verão ainda está em aberto. Com um clima adequado, esse quadro se reverte completamente”, analisa ele. Por conta do fenômeno La Niña, em que as águas do Oceano Pacífico se resfriam, as condições de chuva nas regiões Norte e Centro-Oeste podem melhorar.
Com o La Niña, a expectativa é de chuvas abaixo da média no sul do país. São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas numa zona de transição e a parte norte com chuvas acima da média. Portanto, a soja e o milho cultivados no Mato Grosso deve ser favorecido pelas chuvas acima da média. “Os produtores do Sul precisam se precaver controlando custos e alterando o período de plantio, como já se definiu com a ocorrência do La Ni`ña”, recomendou.
Ouça a entrevista clicando aqui
Edição de entrevista à Rádio USP