Home office: o que era emergencial acabou permanente e cresceu

Um ano e meio depois do início da pandemia, adaptações ainda são necessárias, mas o estresse acompanha o trabalhador mesmo no home office

Enquanto a vacinação não atingir o número necessário para evitar transmissão comunitária, o trabalho presencial deve ser muito bem avaliado

Adaptação foi a marca da pandemia para a sobrevivência de quase todos e com as empresas não foi diferente. Para manter seus negócios e a segurança dos funcionários, muitas se adaptaram ao home office de maneira integral. E o que era solução de curto prazo, hoje, mais de um ano e meio depois, permanece e até cresceu.

É o caso da empresa especializada na criação, transformação e aceleração de negócios digitais de Ribeirão Preto dirigida pelo CEO Fabrício Gimenez. A opção pelo home office integral, conta o CEO, foi a forma mais efetiva de oferecer segurança aos funcionários e clientes. Mesmo tendo boa estrutura de ferramentas digitais, a empresa de Gimenez precisou de investimentos para habilitar o trabalho 100% remoto. Segundo o CEO, após garantir a segurança física, teve que “fazer o acolhimento emocional” dos funcionários e, num terceiro momento, “entender as necessidades mais específicas” de cada membro das equipes, definindo novas estratégias “para engajar e propiciar um ambiente sustentável dentro do home office”.

Sobre a preocupação de algumas empresas quanto ao rendimento de seus times num modelo híbrido ou 100% remoto, Gimenez assegura que não foi o caso, já que sua empresa trabalha pautada no impacto gerado pelo colaborador e não em horas trabalhadas. As equipes, conta o CEO, são autônomas e funcionam “como microcélulas de quatro a seis pessoas que são responsáveis por entregas bem específicas de projeto”. Assim, se alguém não corresponde ao esperado, o problema “é rapidamente identificado pelo próprio time e tratado pela organização”, informa. 

Mas, adianta Gimenez, o que se verificou com o home office foi “um nível de entrega acima do que estava projetado”. Tanto que, no auge da pandemia, sua empresa investiu, e continua investindo, acrescenta o CEO, em ações visando à saúde mental de seus funcionários, promovendo encontros, palestras, diálogos e orientando “as lideranças médias a conversar com os times e assim por diante, para que a gente sempre tivesse como pauta o equilíbrio”.

“Estresse acompanhou trabalhador no home office”

O lado positivo de fazer a própria jornada de trabalho pode não se confirmar para quem não respeita os horários- foto: Freepik

Especialista em sociologia do trabalho, a professora Vera Lucia Navarro, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, afirma que o estresse continua acompanhando os trabalhadores no home office. A ideia de que trabalhar em casa evita o estresse do transporte e dá liberdade para organizar a própria jornada de trabalho pode até ser válida, adianta a professora, mas, na prática, durante o período de pandemia, “a gente viu uma intensificação do trabalho muito grande mesmo”. Seja trabalhando em casa ou fora dela, “o estresse acompanhou o trabalhador”, diz a especialista. 

E, como muitos funcionários estendem seu horário no home office, a situação pode se agravar. O lado positivo de fazer a própria jornada de trabalho pode não se confirmar para quem não respeita os horários. As poucas horas de sono e a falta de descanso nos fins de semana são exemplos de problemas vistos no modelo de trabalho remoto que, afirma Vera, podem afetar outros aspectos da vida. 

O alerta da professora Vera para um melhor gerenciamento do home office em tempo integral continua valendo, já que ela mesma avisa ainda não ser hora de relaxar com as medidas protetivas contra o novo coronavírus. Enquanto a vacinação não atingir o número necessário para evitar transmissão comunitária, “o trabalho presencial deve ser muito bem avaliado”.

Edição de entrevista à Rádio USP

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