Educação e democracia, substantivos femininos, por Rozana Barroso
Meu objetivo é ação. Estou na batalha da construção de uma frente ampla com tantas outras mulheres incríveis, que tem o mesmo objetivo que o meu: a luta por um Brasil democrático, mais igualitário e justo
Publicado 01/10/2021 12:09 | Editado 01/10/2021 15:27
Sou Rozana Barroso, uma mulher negra, LGBTQI+, de 22 anos, que luta insistentemente para ocupar seu lugar na política brasileira. Atualmente, sou presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a UBES, a maior entidade estudantil da América Latina, e estou na linha de frente da luta política pela educação e pelos direitos civis dos brasileiros. Sou uma ativista da educação. Mas o meu caminho não é fácil.
Nasci em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. Filha da trabalhadora doméstica Edilma e do músico Wagner, jamais imaginei que fosse preciso tanta força e luta para ocupar meu espaço na política – local que muitos insistem em dizer que não me pertence.
Ainda estudante, com 14 anos, precisei trabalhar como camelô para ajudar a renda da minha família. Foi neste momento que conheci mais de perto as lutas sociais e a UBES. Percebi que eu sou do tamanho dos meus sonhos e posso muito mais, assim como toda a juventude negra pode também. Notei que, pela educação, podemos transformar o nosso país e diminuir as desigualdades. E esse foi um caminho sem volta: marcado por paixões e vitórias, mas também por muito preconceito e racismo.
Em maio de 2020, tornei-me presidenta da UBES. Eu já havia feito parte do corpo de diretores da entidade, mas agora estava à frente da entidade em um momento único e muito triste da história: na pandemia do novo coronavírus. Escolas fechadas, estudantes sem condições de acessar as aulas remotamente e a fome voltando a fazer parte do cenário brasileiro. Confesso que respirei fundo e, com frio na barriga, começamos a desenhar estratégias para mitigar os efeitos da desigualdade e ações práticas para ajudar os estudantes brasileiros.
Se a situação brasileira já era caótica, no âmbito pessoal as coisas não se tornaram mais fáceis. No primeiro vídeo que postei como presidenta da UBES, sofri um terrível ataque racista. Foram centenas de mensagens racistas, me chamando de macaca, que aquele não era meu local, entre tantas outras infelizes expressões. Mas não esmoreci. Sei que neste momento político do Brasil, o jogo sujo é uma realidade. Então, fiz da tristeza a minha força.
Sabia da violência política do gênero, mas nunca imaginei sentir isso todos os dias na minha pele. Em pleno 2021, vivemos num Brasil que tem um Governo genocida, regido por Bolsonaro, e que não escuta as mulheres, mas não podemos ceder. Mesmo sofrendo ataques frequentes, principalmente por meu gênero, não me calo. Meu objetivo é ação. Estou na batalha da construção de uma frente ampla com tantas outras mulheres incríveis, que tem o mesmo objetivo que o meu: a luta por um Brasil democrático, mais igualitário e justo.
Nada abala minha crença de que o caminho para alcançar esse objetivo é a educação. Vi isso acontecer na minha cidade, quando os primeiros estudantes da periferia se formaram na universidade. Vejo isso diariamente, com tantas histórias de estudantes que conheço de perto. Vejo isso na minha história pessoal. Ninguém vai me dizer – e nem a qualquer mulher -, onde não devo estar.
Vivemos num momento delicado no qual nossos direitos básicos correm perigo. E não vamos ficar de braços cruzados. Por isso, convoco todas as mulheres a estarem ao meu lado neste dia 2 de outubro nas ruas para mostrar que este Governo não nos representa! Que somos mais fortes e vamos transformar o nosso país! #ForaBolsonaro!