Governo Bolsonaro mira cobaias em Manaus usando estudo da Prevent Senior

A pesquisa, assinada pelos médicos da empresa, serviu como uma espécie de argumentação teórica para o ministério receitar na capital amazonense, por meio do aplicativo TrateCov, hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia contra a Covid-19

Mayra Pinheiro depõe na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Um estudo da Prevent Senior, empresa acusada de usar pacientes da Covid-19 como cobaias receitando hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia contra o vírus, e de pressionar médicos a prescrever o “kit covid”, foi usado como base pelo Ministério da Saúde para implantar o aplicativo TrateCov em Manaus.

A pesquisa de maio do ano passado, assinada pelos médicos da empresa Daniella Cabral de Freitas, Henrique Godoy e Sérgio Antônio Dias da Silveira, serviu como uma espécie de argumentação teórica para o ministério receitar, por meio do aplicativo, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina de forma indiscriminada a pacientes.

No início de janeiro deste ano, quando a capital vivia um momento grave da epidemia e já sofria com a falta de oxigênio na rede hospitalar, a pasta de Saúde chegou na capital com o novo instrumento. O TrateCov, que ficou pronto com urgência, foi o principal foco da ação da pasta no Amazonas.

A secretária de Gestão do Trabalho da pasta, Mayara Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, responsável em propagar o TrateCov na capital amazonense, apresentou uma nota informativa da pasta citando o uso da hidroxicloroquina pela Prevent como um caso de sucesso.

O fato veio à tona durante depoimento à CPI, nesta terça-feira (28), da advogada Bruna Morato, que representa os médicos que denunciaram a Prevent Senior por uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia contra Covid-19.

“Eles assinam a nota informativa que foi apresentada pelo Ministério da Saúde naquele momento, exatamente dando esse endosso em relação ao, digamos assim, acompanhamento, ao tratamento que a Prevent Senior fazia”, revelou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

Naquele momento, a senadora afirmou que Mayra Pinehiro apresentou uma nota para toda a Nação brasileira. “Ela faz a recomendação ao uso da hidroxicloroquina e cita, por exemplo, a rede Prevent Senior como se fosse um case de sucesso”, criticou.

Afastamento

A revelação feita pela senadora maranhense revoltou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), para quem se trata de um caso muito sério. “O que a senhora está dizendo é o seguinte: a Doutora Mayra, que continua lá no cargo, em maio do ano passado usa como exemplo esse protocolo assinado por esses três profissionais de saúde. Isso foi em maio de 2020, mas ela continuou com esse protocolo mesmo com a Organização Mundial de Saúde dizendo que não valia nada, mesmo com todo mundo falando que não valia nada. Ela persistiu nisso até criar um aplicativo e levar a Manaus em janeiro”, resumiu Omar.

Com base no artigo 243 do Regimento Interno do Senado, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou uma questão de ordem pedindo o afastamento imediato de Mayra Pinheiro da sua função.

“Eu rogo à direção desta CPI, na qual me incluo, para buscarmos, em audiência, o quanto antes, com o ministro Ricardo Lewandowski, apresentar os fatos novos, que tornam inevitável a necessidade de afastamento da senhora Mayra Pinheiro para o bem da condução das investigações”, defendeu.

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