CPI tem dossiê com acusações de que Prevent Senior “bombava” kit covid

Era tanta certeza da eficácia do ki covid, que a direção médica realizava competições internas com quem prescrevia mais hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina para os pacientes idosos que chegavam doentes.

Diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior na CPI da Pandemia Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Ainda no primeiro ano da pandemia, quando a ciência correia contra o tempo para entender o novo coronavírus, o plano de saúde privado Prevent Senior tinha muita segurança de que remédios eram eficazes para “prevenir” a doença. Era tanta certeza, que a direção médica realizava competições internas com quem prescrevia mais hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina para os pacientes idosos que chegavam doentes.

É o que revela um dossiê feito por 12 médicos com as supostas irregularidades praticadas pela empresa entregue à CPI da Covid no Senado. O UOL obteve acesso ao documento e aponta um detalhamento de como ocorria a “competição” induzida para impulsionar a prescrição do kit covid, com supostas provas por meio de mensagens recebidas por aplicativos com gráficos e cobranças administrativas aos médicos.

A Prevent Senior nega as denúncias, acrescentando que elas são “sistemáticas e mentirosas”, exigindo apuração investigativa pela PGR (Procuradoria-Geral da República). A empresa acusa os denunciantes anônimos de estarem fraudando dados da empresa para se beneficiar em eventual acordo com a empresa.

O kit covid é composto por uma série de medicamentos testados em pesquisas, que não comprovaram ter eficácia no tratamento, podendo até causar efeitos colaterais graves em pacientes com comorbidades. Há pesquisas que apontam para suspeita de aceleração da morte de pacientes que usaram os medicamentos. Apesar disso, o presidente da República Jair Bolsonaro (ex-PSL) fez propaganda sistemática dos medicamentos, até na recente Assembleia Geral da ONU, sob crítica generalizada por todo o mundo. Os fármacos utilizados, ainda hoje, no tratamento visam apenas aliviar sintomas como febre e dificuldades respiratórias, somente após o avanço do contágio.

Mesmo sem diagnóstico confirmado de covid, e sem o consentimento dos pacientes, o dossiê diz que a empresa prescrevia o tratamento precoce. O que chama a atenção dos senadores são os relatos consistentes de que havia gráficos para cobrança de desempenho, metas de prescrição e mensagens motivacionais de engajamento, distribuídos internamente em grupos no WhatsApp por um dos diretores da Prevent, o cardiologista Rodrigo Esper.

As cobranças vinham em termos explícitos:

“Pessoal, não podemos perder o foco. Voltamos a ter rendimentos ruins. Não podemos perder o tônus. Ainda não atingimos o pico da epidemia e caímos o rendimento. Peço que imediatamente todos os tutores de plantão conversem com suas equipes e salientem a importância do tratamento precoce. Isso é muito importante! Obrigado.”

Após verificar o agravamento e morte de pacientes que usaram o remédio malárico e reumatológico associado ao antibiótico, a empresa passou a promover o “kit Prevent”, ampliado com antiparasitário, corticóide e vitaminas. A empresa parecia estar determinada a surpreender o mundo com uma cura própria para a pandemia.

Golden Day

De acordo com mensagem enviada por um dos diretores da Prevent em 12 de abril de 2020, havia uma atenção maior como segundo dia de sintomas, o Golden Day. “Acerte o alvo. O segundo dia de sintomas é o que queremos. E o melhor: a prescrição está na sua mão. E nós estamos com você”, diz trecho da mensagem. “Indique o tratamento e deixe que o resto nós nos encarregamos de fazer.”

Segundo relatos na denúncia à CPI, o ambiente era de “ameaças e hostilidade” com diretrizes transmitidas de maneira informação, via mensagens eletrônicas, para reduzir risco de demandas judiciais. O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou em depoimento à CPI que algum profissional tenha sido demitido por ter se recusado a aplicar o “tratamento precoce”, embora admita demissões por “falhas éticas e morais”.

Com informações do UOL

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