Ministério recua e volta a recomendar vacinação de adolescentes
Anúncio ocorre após STF autorizar a vacinação por governadores e prefeitos e chuva de críticas pelo estímulo à desinformação e negacionismo
Publicado 23/09/2021 00:16 | Editado 23/09/2021 00:47
O Ministério da Saúde voltou a recomendar a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos contra a covid-19 – incluindo jovens sem comorbidade. O anúncio foi feito na noite desta quarta-feira (22) durante coletiva de imprensa, uma semana após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticar campanha antecipada dos estados e falar que existem “eventos adversos a serem investigados”.
De acordo com secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, um comitê formado por representantes da pasta e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou que a morte de uma jovem de 16 anos em São Bernardo do Campo não está relacionada à vacina. “Os benefícios da vacinação são maiores que os eventuais riscos de eventos adversos”, disse.
A Anvisa já havia apontado na segunda-feira (20) que não havia relação causal entre a morte da adolescente em 2 de setembro, com a vacina da Pfizer contra a Covid-19. O diagnóstico referendado pelo Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e outros Imunobiológicos (CIFAVI) concluiu que a morte foi causada por um quadro clínico característico de uma doença autoimune. Anteriormente, no dia 17 de setembro, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo já havia concluído o mesmo diagnóstico.
Na ocasião, a Secretaria afirmou que se tratava de “uma doença autoimune, rara e grave, normalmente sem uma causa conhecida capaz de desencadeá-la, e não há como atribuir relação causal entre PTT e a vacina contra COVID-19 de RNA mensageiro, como é o caso da Pfizer”, afirmou a secretaria.
Na coletiva, Cruz disse que, até o momento, somente o imunizante da Pfizer possui autorização da Anvisa para ser aplicado na faixa etária de 12 a 17 anos. A pasta constatou ainda que, apenas em 0,7% de todas as doses aplicadas em adolescentes no Brasil, foram utilizados imunizantes sem autorização da agência. Apenas a Pfizer tem essa autorização.
Em entrevista ao portal Vermelho, o infectologista Marcos Boulos, afirmou que outras vacinas podem ser utilizadas, pela segurança que já demonstram em epidemias anteriores. Ele explica que apenas grandes corporações farmacêuticas como a Pfizer têm recursos e agilidade para garantir testes como este, comparado a farmacêuticas estatais.
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Logo que foi anunciado o recuo na quinta-feira passada (16), a SBIM (Sociedade Brasileira de Imunizações) e os conselhos Conass (Nacional de Secretários de Saúde) e Conasems (Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) repudiaram a ação.
As críticas à posição do Ministério giraram em torno da dubiedade e desinformação que o governo estimula, a partir da recomendação de um presidente claramente antivacina. O ministro Marcelo Queiroga questionou a propriedade sobre a imunização da faixa etária e um funcionário lançou suspeita de que a vacina teria causado morte. Tudo foi feito sem qualquer respaldo científico.
Ontem, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal Ricardo) Lewandowski determinou que os próprios estados e municípios devem decidir se vão ou não vacinar os jovens, seguindo evidências científicas.
“Hoje, o ministério não suspende mais de forma cautelar a imunização em adolescentes sem comorbidades. Essa vacinação tem a aprovação da Anvisa e está liberada pelo ministério. Mostrou-se que, de fato, os benefícios para imunizar esse grupo são maiores que os eventuais riscos de eventos adversos na imunização desses adolescentes”, reforçou.
Mais vulneráveis e dose de reforço
O secretário-executivo destacou que a recomendação da pasta é que seja priorizada a imunização de adolescentes considerados mais vulneráveis, incluindo jovens de 12 a 17 anos com deficiência permanente, com algum tipo de comorbidade e jovens privados de liberdade.
“Não só esse grupo, mas também aquela população que necessitará de reforços de vacinação deve ser priorizada e o encurtamento de prazo da segunda dose da população adulta também deve ser priorizado”, concluiu.