Expectativa tensa com Bolsonaro na ONU
Para que diabos Bolsonaro foi para Nova York? Bem, por isso: fazer o Brasil passar uma vergonha olímpica.
Publicado 21/09/2021 10:24

O presidente extrema-direita Jair Bolsonaro chegou a Nova York na segunda-feira. E esta terça-feira vai cumprir uma tradição de mais de meio século: desde 1955, é a vez do presidente brasileiro fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral anual da ONU.
Mais uma vez, já no primeiro dia na cidade, Bolsonaro se superou. E por falar nisso, ele superou toda a vergonha sofrida pelo Brasil desde que chegou ao poder, no primeiro dia de 2019.
Nova York tem protocolos rígidos de controle de pandemia. Requer, por exemplo, a apresentação de um certificado de vacinação para quem pretende entrar em espaços fechados, como cafés, lojas e restaurantes.
Forte inimigo da imunização – recentemente, seguindo o conselho de uma ex-jogadora de vôlei que se tornou comentarista internacional de uma emissora de extrema direita, ele decidiu suspender a vacinação de adolescentes -, Bolsonaro é o único membro do G20 que não foi vacinado . E numa ridícula tentativa de desafio, no dia da sua chegada saiu do hotel sem tomar banho depois da longa viagem (ou tomou banho e vestiu as mesmas roupas com que viajava …) para comer uma fatia de pizza com a mão uma calçada, cercada por vários cúmplices , ou melhor, membros de sua comitiva. Entre eles, ninguém menos que o Ministro da Saúde do Brasil. Tudo, é claro, sem máscara de proteção.
A ONU tem determinações igualmente rígidas de proteção contra a pandemia, mas não pode impedir a entrada de líderes em suas dependências. O restante da comitiva, independente do grau de importância, deve apresentar comprovante de vacinação e usar máscara.
Pois bem, o presidente brasileiro será o único que se apresentará como se nada tivesse acontecido. Com isso, nada fará senão sedimentar ainda mais o isolamento do Brasil no cenário global.
Após o assédio sofrido pelo país, que até recentemente possuía uma das políticas de relações exteriores mais respeitadas do mundo, havia uma expectativa tensa no Brasil em relação ao que o Bolsonaro dirá nesta terça-feira. Em seu depoimento de 2019, ele mentiu abjetamente com a naturalidade de quem respira e em 2020 proferiu coisas estúpidas que seriam cômicas se não fossem patéticas. Pois é, sua estreia na cidade causou tanto constrangimento que é melhor não falar.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, falou diretamente ao brasileiro: “Se você não quer se vacinar, é melhor não vir.” Bem, ele não foi vacinado e foi, em sinal de independência. Ou melhor, de delírio.
Bolsonaro se reuniu nesta segunda-feira com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson . Para esta terça-feira está agendada uma reunião com seu colega da Polônia, o igualmente de extrema direita e igualmente desequilibrado Andrzej Duda. E nada mais.
Reunião com Joe Biden, de jeito nenhum. Ou com qualquer outro representante importante.
Para que diabos Bolsonaro foi para Nova York? Bem, por isso: fazer o Brasil passar uma vergonha olímpica.
Na hora certa: um dos integrantes de sua comitiva, diplomata cuja identidade não foi divulgada, fez um exame médico no hotel. Resultado positivo. Covid-19 . Ele teve contato direto com pelo menos 30 pessoas. Alguns dos quais, por sua vez, tiveram contato direto com a comitiva de Bolsonaro.
E que? Bem e nada.
Bolsonaro se declara auto-imune. E não se refere a bom senso, postura, compostura, decência ou inteligência.
Ele se refere à pandemia que já dizimou quase 600 mil vidas no Brasil, principalmente pela indiferença do governo genocida por ele chefiado.
Fonte: Pagina12