América Latina: Nosso 11 de setembro
A data de 11 de setembro na América Latina registra o golpe no Chile, em 1973, um dos mais truculentos.
Publicado 11/09/2021 10:15 | Editado 10/09/2021 18:37
No dia 11 de setembro, o Chile, com o exemplo de Salvador Allende na memória, hoje ocupa menos espaço na grande imprensa internacional do que o das Torres Gêmeas de Nova York, apesar daquela marcada pelo fogo a várias gerações latino-americanas.
Em vez disso, esses meios de comunicação destacam o atentado terrorista em Manhattan em 2001, que de fato causou espanto mundial e pelo menos três mil fatalidades, e minimizam o golpe de Augusto Pinochet no país sul-americano em 1973, com dezenas de milhares de vítimas e um regime repressivo que durou 17 anos.
Recordo, como se fosse hoje, os quase mil dias que cobriram para a Prensa Latina o rico processo chileno daquela época, seus avanços e retrocessos, as passeatas quase diárias, as greves de negócios e os primeiros atos terroristas que marcaram o 11 de setembro.
Entre os principais efeitos impostos pelas forças desestabilizadoras, lideradas pelos Estados Unidos, estão o transporte, o comércio, a alimentação e a eletricidade.
Na manhã do dia 11, os correspondentes da Prensa Latina, liderados pelo jornalista Jorge Timossi, ouviram as últimas palavras de Allende e testemunharam o atentado ao Palácio de La Moneda, em meio a diversos tiroteios.
Recebemos e transmitimos relatos da repressão contra os pontos de resistência popular em Santiago e no interior e tomamos conhecimento de amigos e conhecidos detidos, assassinados e desaparecidos.
Após o corte das comunicações internacionais, sofremos um prolongado ataque e testemunhamos a fúria com que os militares destruíram o escritório vizinho da revista Punto Final. E, finalmente, o cerco e a perseguição militar aos conspiradores golpistas da embaixada cubana.
Após 17 anos de ditadura militar e três décadas de governos civis essencialmente ligados ao esquema econômico neoliberal e à Constituição do regime de Pinochet, os chilenos assumiram o desafio de realizar mudanças profundas.
Nos massivos protestos populares de 2019, que o atual governo reprimiu com força, os manifestantes ergueram o rosto de Allende ao lado da bandeira chilena.
Em seguida, houve mobilizações que culminaram na vitória plebiscitária para substituir a antiga Carta Magna por meio de uma Assembleia Constituinte, todas conquistas importantes conseguidas com dificuldade, passo a passo, e com a grande imprensa contra ela.
Em novembro próximo realizar-se-ão eleições gerais definitivas que, apesar das manobras das forças conservadoras do país, servirão para esclarecer o futuro político chileno, em um contexto regional de crescente presença de governos progressistas.
Neste 48º aniversário do 11 de setembro chileno e latino-americano – e no vigésimo aniversário do colapso das Torres Gêmeas – a validade do exemplo de Allende cresce ainda mais, apesar da divulgação insuficiente.
Fonte: Prensa Latina