Governador de Pernambuco diz que Bolsonaro é o adversário a ser batido

“Temos de ter a capacidade de fazer uma grande frente pela civilidade, pelos valores democráticos e pela melhoria da vida do povo com políticas públicas inclusivas. Não tenho dúvida de que derrotar o presidente Jair Bolsonaro e todos aqueles que o apoiam é uma causa em favor do povo brasileiro e das gerações futuras”, defendeu Paulo Câmara (PSB)

(Foto: Sérgio Bernardo/SEI)

Em entrevista à revista Veja, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), diz que todas as lideranças políticas do país precisam se conscientizar de existe um único adversário a ser batido: Jair Bolsonaro. Por isso, o governador acredita que a formação de uma frente ampla é de fundamental importância para o processo eleitoral do próximo ano.

“Temos de ter a capacidade de fazer uma grande frente pela civilidade, pelos valores democráticos e pela melhoria da vida do povo com políticas públicas inclusivas. Não tenho dúvida de que derrotar o presidente Jair Bolsonaro e todos aqueles que o apoiam é uma causa em favor do povo brasileiro e das gerações futuras”, defendeu o governador.

De acordo com ele, no momento, o ex-presidente Lula reúne as melhores condições para liderar esse processo. “A possibilidade de aliança com o presidente Lula é real. Ele continua sendo o político mais popular no Nordeste. Aqui ele é imbatível. O que vai nos unir em 2022 é tirar o presidente Bolsonaro do poder e mudar tudo que está acontecendo no Brasil”, afirmou.

Confira a íntegra da entrevista:

O PSB estará ao lado do PT nas mudanças do ano que vem?

Desde a redemocratização, o PSB caminhou muito mais ao lado do PT do que como oposição. Em 2018, na minha reeleição, o PT estava nos apoiando. A gente tem tido esse cuidado de conversar com os partidos progressistas, que estão conscientes da grande tarefa para 2022, que é combater a forma como o Brasil vem sendo administrado. O PT tem clara a posição de oposição ao governo Bolsonaro. Nós também.

Quais são as dificuldades para estabelecer desde já essa aliança?

Há uma diretriz do PSB de só discutir alianças em 2022. Mas as portas estão abertas. Não apenas ao PT, mas a todos os partidos do campo progressista que queiram conversar sobre um Brasil melhor. Uma aliança com a PT é uma das alternativas. A possibilidade de aliança com o presidente Lula é real. Ele continua sendo o político mais popular no Nordeste. Aqui ele é imbatível. O que vai nos unir em 2022 é tirar o presidente Bolsonaro do poder e mudar tudo que está acontecendo no Brasil.

O senhor acredita na inocência do presidente Lula?

Os processos dele foram anulados. O necessário agora é fazer o que a Justiça determinou: que sejam iniciadas como apurações, sem contaminação, seguindo o que diz a lei. Agora o ex-presidente vai ter todo o direito de defesa, que não deram a ele antes. A parcialidade do ex-juiz Sergio Moro foi demonstrada e reconhecida pela Justiça.

Tudo o que a Lava-Jato descobriu sobre corrupção envolvendo o ex-presidente, portanto, deve ser desconsiderado?

Os processos judiciais é que vão dizer. Algumas ações já foram arquivadas e outras não estão no mesmo caminho. É preciso imparcialidade e respeito aos ritos da Justiça, como aconteceria com qualquer cidadão e como a Constituição preconiza.

O PSB apoiou e votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Isso não é uma contradição?

No meu entendimento, não do PSB, o impeachment não fez bem para o Brasil. Com a assunção do presidente Temer não houve a pacificação. Houve apenas uma mudança de rota fruto de um processo que terminou sem resultar em melhoria do país. O país piorou com a chegada do Temer. E a gente vê também que foi um processo traumático e o crime de responsabilidade que tanto foi propagado não se configurou. O partido sempre teve discussões em relação a isso. Aqui em Pernambuco já fizemos esse debate e acreditamos que o impeachment da presidente Dilma foi ruim para o Brasil.

Quais os argumentos para convencer o eleitor a dar uma segunda chance para Lula e ao PT?

A candidatura do Lula é uma opção contra a forma como o Brasil vem sendo administrado. O país fez avanços importantes nos governos do ex-presidente. A desigualdade na região Nordeste foi diminuída nesse período. Houve obras estruturantes e uma preocupação efetiva com a redução da pobreza, além de políticas públicas que chegavam a todos. Houve claramente ações de crescimento do país e respeitabilidade internacional – o que não existe mais.

Qual a avaliação que o senhor faz do governo Bolsonaro?

 É um absoluto retrocesso, um desastre. Não há mais política de educação. A saúde foi esse desastre que a pandemia revelou. São quase 600 mil vidas perdidas. Segurança também é assunto que não existe no âmbito federal. E não há pautas que pensem a economia a curto, médio e longo prazo. Todos sabemos que a economia é muito baseada em expectativas. O Brasil vive expectativas negativas. Vivemos um momento muito difícil e que vai exigir esforço em 2022 para unificar este país contra o governo atual. Destruir é muito fácil e rápido.

O senhor riscos vê à democracia?

É preocupante ver essas agressões contra o Supremo Tribunal Federal, governadores e prefeitos. Mas confiamos nos poderes constituídos e sabemos que, mesmo tendo uma pessoa que não está à altura do cargo de presidente, o país vai superar tudo isso. Depreciar a imagem pública de pessoas e instituições não encontrarão co na sociedade. O Brasil é maior que isso.

Parte da bancada do seu partido apoiou o voto impresso, defendido pelo presidente Bolsonaro. Isso não é outra contradição?

Quem defende pautas bolsonaristas está fora de sintonia com o que pensa o PSB. Aqui não é lugar para pessoas que pensam desse jeito. O PSB é um partido progressista, que sempre lutou pela liberdade e justiça, pela pauta de direitos humanos. Quem acha que pode flertar com o bolsonarismo ou com qualquer ação autoritária pode ter certeza de que o caminho não é pelo PSB. Pessoas que insistem em continuar defendendo esse tipo de pauta no PSB com certeza não vão ter lugar.

Até que ponto a politização das polícias militares preocupa?

Essa questão da politização é grave e nós, governadores, devemos estar muito atentos. É um risco, uma ameaça. Em Pernambuco, tratamos essa questão de maneira muito clara e rígida junto aos comandos. Não vamos admitir a politização e isso está sendo colocado claramente para todos os comandantes.

Mas um dos casos mais emblemáticos ocorreram justamente em Pernambuco, onde duas pessoas foram atingidas por tiros de bala de Borracha durante uma manifestação contra o governo Bolsonaro.

Essa ação foi desastrosa, não obedeceu a nenhum tipo de padrão operacional e deixou duas pessoas com lesões permanentes. Tivemos o cuidado de apurar tudo, removemos os associados e mudanças no alto-comando. Ficou muito claro nesse episódio que nossa gestão não vai admitir que a polícia extrapole suas prerrogativas. Esses fatos não podem se repetir. Não podemos afirmar, porém, que isso que aconteceu no Recife tenha sido uma ação influenciada pela extrema direita ou por grupos ligados ao bolsonarismo.

O senhor diz que o Nordeste é lulista. O Auxílio Brasil não pode inverter essa tendência?

Esse Auxílio Brasil é uma ideia do governo federal para de alguma forma influenciar as eleições de 2022. A população não quer migalhas e auxílio, quer emprego e possibilidade de os filhos estudarem. E gestores que têm cuidado com a saúde da população. O que se tem de discutir no Brasil não é apenas a instalação do auxílio, que é importante e necessário neste momento que estamos vivendo com o desemprego, o aumento da fome e da miséria. Torna-se necessário discutir também a porta de saída, e a gente não vê nenhuma discussão. O governo não fez estudo ou debate, não conversou com ninguém. Não oferece alternativas que vislumbrassem o que população realmente quer: emprego e serviços públicos de qualidade.

A pandemia vai influenciar no resultado das urnas?

São quase 600 000 vidas perdidas. Todos conhecemos pessoas que infelizmente não resistiram. Hoje vemos uma conscientização maior sobre o uso de máscaras, o respeito ao distanciamento social e aos horários restritos. A pandemia está muito viva na vida das pessoas. E as marcas dela também. Esse é um debate que não pode estar ausente em 2022 diante da gravidade da Covid. A gente tem de ter a responsabilidade de contar a verdade desse processo, o que poderia ter sido feito e não foi, todas as omissões que ocorreram. Isso vai estar presente, não tem como não estar, apesar da vacina. A gente tem de ter a responsabilidade, como gestor público, de nunca mais deixar acontecer fatos graves como vimos no Brasil neste período.

As pesquisas mostram que a maioria do eleitorado não quer Bolsonaro nem Lula. O senhor acredita numa alternativa aos dois, uma chamada terceira via?

Sempre há espaço para a apresentação de candidaturas. A história recente do Brasil mostra isso. Algumas surgiram de repente e outras são fruto de discussão. Lula foi eleito presidente depois de disputar e perder três eleições. Fernando Henrique Cardoso foi eleito a partir de experiência no Ministério da Fazenda com o Plano Real. Bolsonaro foi eleito dentro do ambiente conturbado que estava no Brasil. Evidentemente que pode surgir uma terceira via.

O senhor defende a criação de uma frente de oposição?

O adversário em 2022 é Jair Bolsonaro. Isso é muito claro. Vamos estar abertos as discussões contra a forma como o Brasil vem sendo administrado, até porque a gente entende que está claro o mal que o presidente tem feito ao povo brasileiro. O PSB tem muito a contribuir no debate em 2022, seja em aliança com o PT ou o PDT, seja em movimentos que pode realizar. Temos de ter a capacidade de fazer uma grande frente pela civilidade, pelos valores democráticos e pela melhoria da vida do povo com políticas públicas inclusivas. Não tenho dúvida de que derrotar o presidente Jair Bolsonaro e todos aqueles que o apoiam é uma causa em favor do povo brasileiro e das gerações futuras. O que não podemos admitir é o Brasil continuar mais quatro anos sendo governado desta forma, no improviso, sem planejamento, com políticas públicas que têm feito mal à população.

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