Eu vejo na internet o que eles falam sobre esporte, não é sério…

Quantos mais ocupariam os pódios se o caminho não fosse tão árduo? Quantos jovens deixam de praticar algum esporte por dificuldades financeiras, ou ainda quantos jovens nem chegam a conhecer qualquer esporte além do que quadra poliesportiva caindo aos pedaços da sua escola pública permite?

Dificilmente houve alguém que não tenha se emocionado com Ítalo Ferreira conquistando o primeiro ouro para o Brasil através do surfe na Olimpíada em Tóquio, onde mal conteve o choro ao ser entrevistado. Até mesmo o jornalista embargou a voz, tamanha emoção pela conquista e a história carregada pelo rapaz.

De forma parecida nos sentimos com a Rayssa Leal, prata no skate street e uma das mais jovens medalhistas da história dos Jogos Olímpicos, com apenas 13 anos. É todo um sentimento muito válido, de um país caloroso e que acolhe principalmente aqueles que sonham e superam barreiras para chegar onde estão.

Mas essa emoção por vezes esconde uma parte muito relevante desses tipos de trajetórias: quantos mais ocupariam os pódios se o caminho não fosse tão árduo? Quantos jovens deixam de praticar algum esporte por dificuldades financeiras, ou ainda quantos jovens nem chegam a conhecer qualquer esporte além do que quadra poliesportiva caindo aos pedaços da sua escola pública permite?

Mesmo com os poucos dados e recortes que temos da prática esportiva no Brasil, é possível perceber a relação entre o abandono do esporte e a falta de incentivo. Em pesquisa realizada em 2013 pelo Ministério do Esporte – hoje extinto pelo Bolsonaro –, a maior taxa de abandono acontece entre 16 e 24 anos (45% de todos que largam o esporte). O principal motivo do afastamento é colocado em torno do conflito com outras tarefas prioritárias como trabalho, estudo e família (69,8% são os que alegam esse conflito como motivo de abandono). Ao passo que isso acontece, a imensa maioria das escolas no País mal possuem o mínimo de infraestrutura esportiva e programas de incentivo a qualquer prática.

Ainda que agora se evidencie a demanda de maior incentivo ao esporte no Brasil em suas inúmeras modalidades por conta dos Jogos Olímpicos, houve quem aproveitasse do momento para criticar a política de incentivo ao esporte da China, como se houvesse exploração de crianças e adolescentes para que se profissionalizem em modalidades esportivas. Além de tudo que já se pratica em escolas de excelência por todo o país, hoje a China tem um plano ousado de fabricar craques no futebol de campo e a política de Estado primordial para isso começa pelas escolas.

Segundo o diretor do Comitê de Especialistas para a Promoção do Futebol de Campo do Ministério da Educação chinês, Jin Zhiyang, o objetivo do governo é chegar a 50 mil colégios no país com treinamento de futebol até 2025. (Se isso não se trata de uma política pública ideal a ser copiada, se trata de quê?) Até 2017 já eram mais de 20 mil escolas com treinamento de futebol, alinhadas com o propósito de popularização do esporte e com toda a estrutura necessária para apoiar os jovens, encontrar talentos e auxiliar na formação de uma carreira esportiva para aqueles que assim desejam.

Fato é que, no Brasil, uma minoria suja considera mais edificante ver crianças em farol trabalhando do que o dia todo na escola, se desenvolvendo integralmente em todas as suas capacidades, com acesso à esporte, cultura e lazer. Teve até deputado mau caráter pedindo revisão do Estatuto da Criança e Adolescente para liberar o trabalho infantil (!!!).

Mas esta é uma parcela tão pequena que ainda não conseguiu superar a garra de Ítalos, Rayssas, Daianes, Rafaelas, Ketleyns, Martas e tantos outros que passam por cima de todas as barreiras sociais possíveis para chegar no pódio e provar que, se tivéssemos o mínimo de incentivo, chegaríamos muito mais longe.

Publicado originalmente no Blog da Juventude Pátria Livre

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