Bolsonaro se reúne com neta de ex-ministro de Hitler em Brasília
Presidente tentou esconder o encontro – que não foi divulgado em suas redes sociais, nem teve registro na agenda oficial
Publicado 26/07/2021 13:43 | Editado 26/07/2021 20:07
Jair Bolsonaro abriu seu gabinete, em Brasília, para receber uma das principais lideranças mundiais da extrema-direita. Na última semana, o presidente se reuniu com a deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido ultraconservador Alternativa para a Alemanha (AfD). Ela é neta do ex-ministro nazista Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, que chefiou por 12 anos o Ministério das Finanças do governo Adolf Hitler.
Já se sabia que, na semana passada, Von Storch havia se encontrado com dois expoentes da base bolsonarista – os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e Bia Kicis (PSL-DF). Mas, aparentemente, Bolsonaro tentou esconder o encontro – que não foi divulgado em suas redes sociais, nem teve registro na agenda oficial da Presidência da República.
Nesta segunda-feira (26), porém, Von Storch divulgou nas redes uma foto da reunião, na qual também aparece seu marido, Sven von Storch. Na legenda da imagem, a parlamentar fala em “fortalecer suas conexões com o Brasil”, além de “defender nossos valores cristãos e conservadores em nível internacional”.
As postagens foram seguidas de inúmeras críticas, inclusive do Museu do Holocausto de Curitiba. A AfD, de acordo com o museu, é “um partido de extrema-direita com tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e com um forte discurso anti-imigração”.
“Gostaria de agradecer ao presidente brasileiro pela amistosa recepção”, escreveu a deputada, que acusou a esquerda de estar “promovendo sua ideologia por meio de suas redes e organizações internacionais em nível global”. Segundo ela, “além dos EUA e da Rússia, o Brasil é um parceiro estratégico global” para que os conservadores possam construir, em todo mundo, “um futuro juntos”.
A AfD, legenda de Von Storch, é conhecida por sua postura ultranacionalista, com um discurso abertamente xenofóbico, sobretudo contra migrantes que chegam à União Europeia. Durante a pandemia de Covid-19 na Alemanha, o partido também liderou os protestos negacionistas, a exemplo do que fez Bolsonaro no Brasil.
A deplorável posição da sigla em meio à crise sanitária abalou as bases partidárias. Apesar de ter conquistado grande força nos últimos anos, o partido começou a enfrentar diversos retrocessos em 2020, quando sofreu as primeiras de muitas perdas políticas em várias áreas da Alemanha.
Diversos membros da AfD já foram processados por apoiar o nazismo ou por minimizar os crimes cometidos pelo 3º Reich. Mesmo assim, o parentesco entre a deputada Von Storch e o nazista Von Krosigk é outro símbolo da ideologia da AfD que não parece constranger parlamentar e partido. Ao contrário, ela é uma espécie de herdeira política da família.
Como ministro de Finanças, Von Krosigk estava à frente da pasta responsável pelo confisco dos bens dos judeus enviados para os campos de concentração sob a ditadura nazista. Em 1949, quatro anos após o fim do nazismo e da 2ª Guerra Mundial, ele foi condenado no Tribunal de Nuremberg a dez anos de prisão por crimes de guerra.
O passado nazista da família de Beatrix von Storch foi destacado pela imprensa alemã a partir de 2014, quando ela foi eleita deputada europeia pela AfD. Em 2016, Von Storch manifestou aprovação à mensagem de um usuário do Facebook que havia perguntado se guardas de fronteira deveriam atirar em refugiados que chegassem ao país, inclusive mulheres com crianças.
Dentro da AfD, a deputada costuma ser apontada como membro da ala “cristã ultraconservadora”. Em 2014, quando os ultradireitistas tomaram o partido, ela afirmou que via a sigla como um veículo para “uma visão cristã da humanidade”. Na imprensa alemã, Von Storch costuma ser classificada como “reacionária”, “arquiconservadora” e “cristã radical”.
Normalmente, governos estrangeiros evitam receber deputados da AfD. Dessa forma, parlamentares da sigla costumam viajar para países que têm governos tão isolados no cenário internacional quanto o partido.
Com informações da DW e da Ansa Latina