Intermediária da Covaxin não informa Anvisa sobre vacina, desde maio
Instituto Albert Einstein espera Anvisa avalizar testes de fase 3 da vacina indiana, mas a empresa responsável investigada pela intermediação não envia as informações necessárias, há mais de dois meses.
Publicado 18/07/2021 17:12 | Editado 18/07/2021 17:13
Enquanto a Anvisa e instituições de pesquisa fizeram sua parte em mobilizar os testes clínicos de fase 3 da Covaxin, para avaliar a segurança e eficácia da Covaxin, a intermediária que lucraria com a operação ainda não forneceu as informações necessárias para o início dos testes, que já poderia ter iniciado em junho. Também não justificou o motivo disso, quando procurada.
A Precisa Medicamentos se ofereceu para intermediar uma operação que não precisa de intermediários, e, assim, justificar a elevação de preço das doses da vacina indiana Covaxin. Apesar disso, desde maio, mais de dois meses atrás, a Anvisa aguarda a empresa enviar os documentos exigidos pela agência sanitária brasileira. A empresa é investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito que analisa porque o governo se reuniu com uma intermediária para discutir custos superfaturados da vacina, quando podia comprar diretamente do laboratório indiano.
Na Índia, esta etapa já apontou resultado preliminar de eficácia de 77,8% da Covaxin contra Covid-19, divulgado no início de julho. No mundo, 30 mil voluntários serão convocados para a fase 3, sendo que o Brasil é um dos países que participam da pesquisa.
O estudo no Brasil foi aprovado pela Anvisa em 13 de maio e a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) emitiu o parecer favorável dois dias depois. No fim daquele mês, o cadastro para a triagem de voluntários foi aberto, e no Instituto de Pesquisa Clínica de Campinas (Ipecc) resultou em 7,3 mil interessados inscritos nos primeiros três dias.
O estudo no Brasil é coordenado pelo Instituto Albert Einstein, em São Paulo, que aguarda o processo andar na Anvisa, desde maio. O Instituto instrui os centros de pesquisa das cinco cidades selecionadas – Campinas, São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Campo Grande (MS).
Propina sobre cada dose
A CPI da Covid apura as supostas pressões do governo para liberação do imunizante, além das suspeitas de irregularidades no contrato, uma vez que ele foi o mais caro adquirido pela União, firmado em R$ 1,6 bilhão para 20 milhões de doses. O contrato escandaloso também é investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União.
Depoimentos e documentos colhidos pela comissão mostram que, ao mesmo tempo em que o Ministério da Saúde colocava obstáculos para a aquisição de imunizantes como a Coronavac e a Pfizer, participava, em paralelo, de negociações com suspeitas de irregularidades e até pedido de propina, como no caso da Covaxin.
Depoentes ligados à Precisa têm dado depoimentos truncados à CPI, negando informações e pedindo habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para não precisar responder às perguntas. Não há, por exemplo, informações conclusivas sobre a remuneração da intermediária ou sobre como seriam feitas as operações financeiras.
Bolsonaro defende Pazuello
Ao sair de hospital paulistano, após quatro dias de internação por obstrução intestinal, o presidente Bolsonaro falou à imprensa, defendendo o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Em vídeo revelado pela reportagem da Folha de S. Paulo, nesta sexta (16), o general chegou a confirmar o compromisso de fechar o contrato com a World Brands, empresa de importação de Santa Catarina, para comprar a Coronavac, por quase o triplo do valor acertado com o Instituto Butantan. Pazuello foi demitido quatro dias depois desse encontro.
Bolsonaro argumentou que muitas pessoas são recebidas no ministério e que se fosse algo secreto ou superfaturado, Pazuello não estaria no vídeo. Questionado se achava normal o ministro receber os intermediários, Bolsonaro respondeu: “Se eu tivesse na Saúde, eu teria apertado a mão daqueles caras tudo. Ele defende que foi um encontro informal do ministro com empresários, sem formalizações. “Geralmente quando o cara faz, fala em propina, é pelado dentro da piscina”, diz ele, referindo-se à estratégia para não ser gravado numa fala comprometedora.
Já o ex-ministro se contradisse à CPI, em 19 de maio, ao dizer aos senadores que não liderou as negociações com a Pfizer porque um ministro jamais deve receber ou negociar com uma empresa. No entanto, além de receber a empresa no gabinete, Pazuello gravou vídeo em que o empresário identificado como “John” pelo ministro agradece as eventuais parcerias “com tanta porta aberta que o ministro nos propôs”.
“O Elcio [Franco, secretário-executivo do ministério] trabalhou muito bem nessa questão. Não tem um centavo nosso despendido com essas pessoas que foram lá vender vacina”, disse o presidente Bolsonaro. “Brasília é o paraíso dos lobistas, dos espertalhões. Ou não é?”
Sobre a Covaxin, Jair Bolsonaro afirmou que o governo não gastou “um centavo” com a vacina. O que ele omite é que o Ministério da Saúde já havia reservado R$ 1,6 bilhão para a compra, negócio que só foi cancelado depois que o escândalo ganhou o noticiário. “A CPI daqui fica o tempo todo me acusando de corrupto. Eu não comprei, eu não paguei. E quem paga é alguém lá do ministério, é todo dia uma narrativa.”
Com informações do G1