Diretora da Precisa age na CPI a favor do patrão e do governo Bolsonaro
Emanuella Medrades atua para proteger Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, empresa acusada de realizar transações fraudulentas na intermediação da venda da vacina indiana Covaxin ao governo Bolsonaro
Publicado 14/07/2021 13:12 | Editado 14/07/2021 15:43
A diretora-executiva da Precisa Medicamentos, Emanuella Medrades, depõe na CPI da Covid nesta quarta-feira (14) no intuito de proteger Francisco Maximiano, dono da empresa, que será ouvido em agosto. Tanto que chama atenção a orientação excessiva do advogado Ticiano Figueiredo para empregada, sendo que o profissional também é o mesmo do patrão.
Ela responde sobre os índicos de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin, intermediada pela empresa entre a farmacêutica Barach Biotech e o Ministério da Saúde. O imunizante foi comprado por R$ 1,6 bilhão numa transação considerada fraudulenta. Foram 20 milhões de doses ao preço unitário de US$ 15 dólares, considerada a mais cara já comprada pelo governo Bolsonaro.
Na questão mais polêmica, ela negou que tenha apresentado no dia 18 de março a primeira invoice (nota fiscal internacional) ao Ministério da Saúde conforme declararam o diretor de logística da pasta, Luiz Ricardo Miranda, e o consultor William Santana em depoimento à CPI.
“A invoice só foi enviada no dia 22 e eu desafio para provarem ao contrários os senhores William e Luis Ricardo”, disse a depoente, que só nesta quarta-feira quebrou o silêncio, uma vez que novo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) deu poderes à comissão até para prendê-la caso usasse o direito concedido pelo habeas para obstruir os trabalhos.
Exposta a um vídeo de uma audiência no Senado no dia 23 de março, quando ela mesmo diz que entregou o documento na quinta-feira passada, portanto dia 18, a depoente afirmou que no vídeo não entrava em detalhes.
Após ela manifestar o desejo de sofrer acareação, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) declarou: “A Comissão é inteligente. É muito inteligente. E aqui não tem bestinha. Concordo. Ela tá pedindo acareação, acho que nós devemos fazer acareação, até porque ela é que está sendo acusada e ela faz questão de fazer acareação”, disse Aziz.
No documento, pedia-se o pagamento antecipado de US$ 45 milhões, quantidade insuficiente de doses e faturamento em nome da Madison Biotech, uma offshore com sede em Cingapura, paraíso fiscal. Todos esses itens estão fora do contrato.
O depoimento dela foi ao encontro da posição dos governistas que alegam a não existência da invoice quando o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o seu irmão Luis Ricardo, que confirmou o recebimento do dia 18, levaram a denúncia a Bolsonaro num encontro no dia 20 de março, no Palácio da Alvorada.
O presidente teria prometido acionar a Polícia Federal e culpou seu líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como responsável pelas negociações. Bolsonaro está sendo acusado de prevaricar por não levar a denúncia aos órgãos de controle.
Contradições
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) disse que as contradições apresentadas no depoimento são muitas. “Elas vão além dessa posta neste vídeo. Até porque isso hoje não tem mais importância porque o próprio presidente da República já confirmou que recebeu as denúncias. Ele não confirmou ainda, e é importante que confirme, é se falou do líder do seu governo ou se não falou. É isso apenas o que precisa ser comprovado com relação ao que envolve essa discussão”, afirmou o relator.
Apesar de uma reunião no dia 20 de novembro no ministério (registrada em ata) confirmar o preço da vacina em US$ 10, Medrades negou a ofertada. Segundo ela, o valor era apenas uma expectativa.
Diante das contradições, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que a ordem “cronológica dos acontecimentos” só depõe contra a Emanuela. “Eu gostaria aqui, com muita tranquilidade, de dizer a você, que tem idade pra ser minha filha: o seu depoimento pra mim não acrescenta nada contra a materialidade. Pra mim está comprovado que é um contrato fraudulento, superfaturado, de um esquema de propina dentro do Ministério da Saúde.”
De acordo com ela, a CPI já possui oitiva de testemunhas, vídeos, e-mails e o contrato. “Aqui o que nós estamos buscando é autoria, quem são os autores destes crimes contra a administração pública: possível crime de peculato, de corrupção ativa, de corrupção passiva, de advocacia administrativa, de tráfico de influência, de organização criminosa”, disse.
Pediu serenidade a depoente. “Eu não gostaria nunca de vê-la como a mão do gato. Sabe o que que é a mão do gato? Aquela que é usada para que terceiros possam se aproveitar e cometer alguma irregularidade”, aconselhou.