Exército é único vendedor de bombas usadas para atacar indígenas
Não se sabe até o momento se alguma investigação está em andamento para apurar acesso aos artefatos restritos.
Publicado 11/07/2021 15:36
Indígenas de quatro comunidades Yanomami na região do Palimiu, em Roraima, foram atacados por garimpeiros entre maio e junho. Os invasores chegam sempre por barco atirando contra a comunidade e utilizando bombas de gás lacrimogêneo para desorientar os indígenas.
A situação, já grave em sua essência, fica ainda pior quando se tenta mapear de onde partem esses ataques. Os 20 mil garimpeiros que ocupam hoje a Terra Indígena Yanomami têm livre acesso às comunidades já que o governo federal não emprega efetivo para garantir a segurança dos indígenas.
Segundo o próprio Comando Militar de Área do Exército do Brasil, “os agentes lacrimogêneos e os seus dispositivos de lançamento são produtos controlados de uso restrito cuja aquisição somente pode ser realizada com autorização do Exército, por meio do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC), conforme Decreto 10.030/2019”.
De acordo com este decreto, somente órgãos públicos podem adquirir produtos controlados de uso restrito, ou seja, somente as Forças Armadas e de segurança pública (Polícia Militar, Civil e Federal) podem utilizar as bombas de gás lacrimogêneo.
Questionado sobre como as bombas chegaram às mãos dos garimpeiros ilegais, o Exército Brasileiro informou apenas que “os fatos ocorridos na Comunidade Indígena do Palimiu estão sob investigação da Polícia Federal”.
A reportagem tentou ouvir a Polícia Federal por 21 dias, mas os questionamentos sobre a existência de uma investigação sobre o desvio de produtos controlados de uso restrito não foram respondidos.
Foi deflagrada no último dia 29 de junho a operação Omama de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A operação conjunta vem sendo executada pela Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Exército, Força Aérea Brasileira (FAB), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Força Nacional (FN).
Segundo a Funai, as equipes realizaram incursões estratégicas em diversos garimpos, com apoio de aeronaves, equipamentos e tropas especiais, visando apreender e inutilizar maquinários, aeronaves, insumos e outros materiais utilizados na extração de ouro.
Mais um balanço foi divulgado no último dia 06 e as instituições relataram a apreensão de uma aeronave, uma máquina caça-níquel, quatro embarcações, dois motores, 12 geradores de energia, 22 bombas de propulsão, 3 mil litros de combustível, além de celulares, aparelhos GPS e aproximadamente R$ 3 mil em cédulas. Segundo o levantamento, cinco balsas também foram desativadas.
O primeiro levantamento foi divulgado no último dia 1º, dois dias após o início da operação, e foram registradas a destruição de seis acampamentos na região do Homoxi, além da apreensão de três motores e 2,5 mil litros de combustível.
“Apesar das dificuldades climáticas, de locomoção e logísticas da região, o trabalho na terra indígena Yanomami segue, conforme o cronograma, buscando interromper o fluxo da exploração ilegal de minérios, bem como a escalada de violência na região”, informou a Polícia Federal em nota.
Apesar de não informar se alguma pessoa foi localizada e/ou detida, a PF classificou os resultados até agora como “extremamente satisfatórios” e garante que a operação segue e que não tem data para ser encerrada.
Seis crianças, com idades entre dez e onze anos, e dois adolescentes que pescavam em uma canoa no Rio Uriracoera próximo à Comunidade Tipolei, na região do Palimiu, quando foram derrubados da canoa por garimpeiros ilegais em junho.
Armados, os agressores aceleraram contra os Yanomami e bateram com o barco contra a canoa, fazendo com que os indígenas caíssem na água e a embarcação afundasse.
Os jovens e crianças conseguiram fugir pelo rio e pela mata, enquanto ouviam os garimpeiros, chamando por eles, oferecendo bolachas e alimentos. Assustados com o ataque e temendo por suas vidas, os Yanomami fugiram até a Comunidade Yakepraopë.
O clima de ameaças persegue os Yanomami desde o dia 27 de abril, quando os indígenas interceptaram uma carga de quase mil litros de combustível para aeronaves do garimpo. Desde o episódio, os invasores perseguem, ameaçam e atacam os povos originários da região.
Outras duas crianças, de um e cinco anos, morreram afogadas ao cair no Rio Uriracoera enquanto fugiam dos tiros de um ataque à comunidade Yakepraopë em maio deste ano. Após este episódio, um cachorro foi morto com um tiro pelos garimpeiros ilegais como forma de ameaça aos indígenas.
Fonte: Brasil de Fato