Brasileiro que assessorou Castillo quer “2ª independência” continental
Amauri Chamorro já trabalhou em 11 campanhas eleitorais na América Latina, sempre para candidatos progressistas
Publicado 20/06/2021 11:12
O nome do brasileiro Amauri Chamorro ainda é pouco conhecido no País. Mas trata-se do marqueteiro – ou “estrategista político” – que faz carreira assessorando campanhas políticas para candidatos de esquerda na América Latina. Um de seus últimos trabalhos foi prestar consultoria à vitoriosa candidatura de Pedro Castillo a presidente do Peru.
Chamorro também coordenou a estratégia de redes sociais dos governos do ex-presidente equatoriano Rafael Correa a partir de 2011. Recentemente, foi assessor de imprensa de Andrés Arauz, candidato apoiado por Correa e derrotado nas últimas eleições presidenciais no Equador, em abril deste ano.
O marqueteiro foi ao Peru entre o primeiro e o segundo turno das eleições para fazer a campanha de Castillo. Em 9 de junho, três dias após a votação no turno final e antes do término da apuração, postou uma foto ao lado de Castillo nas redes, comemorando a vitória. Em entrevista à TVT, Chamorro foi apresentado como “assessor da campanha”.
A viagem a Lima, a foto e os posts pró-Castillo de Chamorro o tornaram alvo de ataques de apoiadores da ultraconservadora Keiko, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que governou o Peru entre 1990 e 2000. Ela perdeu sua terceira eleição presidencial seguida, desta vez para Castillo, por 44 mil votos. A candidata tem questionado o processo eleitoral, denunciando uma suposta fraude, sem apresentar provas.
Nas redes, Chamorro tem sido acusado por fujimoristas de ser “estrategista conhecido por perpetrar fraudes eleitorais na América Latina” – exatamente um dos flancos que o marqueteiro mais tenta combater. Em geral, acompanham os posts de ataque ao marqueteiro fotos ou vídeos em que ele aparece ao lado de Correa ou do venezuelano Nicolás Maduro.
O fato concreto é que não existem evidências da participação de Chamorro em fraudes. Sua atuação em campanhas nas redes sociais é questionada em países como Equador e Colômbia por outras razões, como ser remunerada com dinheiro público. No Peru, oficialmente a campanha de Castillo tem negado a contratação de Chamorro, embora um membro do partido de Correa confirme que houve uma indicação do marqueteiro a políticos do partido Peru Livre, sigla do presidente eleito.
Ao O Globo, Chamorro reafirmou ter trabalhado na campanha de Castillo, mas diz que não vai questionar declarações do entorno do político peruano sobre o fato. “Sou um soldado da segunda independência da América Latina. Não quero protagonismo – apenas a soberania, a justiça e a dignidade para nosso continente”, disse em nota.
Em seus perfis em redes sociais, Chamorro se apresenta como “criador de estratégias” e analista político, além de defender posições à esquerda. Já trabalhou em 11 campanhas eleitorais na América Latina, sempre para candidatos progressistas. Seu primeiro grande cliente foi o governo Correa, que lhe abriu portas no continente. Ele posta fotos com políticos como o ex-presidente Lula, a argentina Cristina Kirchner, o uruguaio Pepe Mujica, além de Maduro e da hoje vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez.
Chamorro também aparece em fotos como parte da delegação da então chanceler Rodríguez na Organização dos Estados Americanos (OEA), em 2017. No mesmo ano, aparece ao lado do cineasta Marco Enríquez-Ominami Gumucio, que se candidatou à Presidência no Chile e ficou em sexto lugar.
Aos 42 anos, nascido no Equador, filho de uma brasileira e um equatoriano, Chamorro tem dupla nacionalidade. Fez a maior parte de seus estudos no Brasil. Formou-se em Jornalismo em 2003 pela Universidade de Sorocaba e reside atualmente em São Paulo. Concluiu mestrado em Comunicação Política na Universidade Autônoma de Barcelona em 2014. No Brasil, foi professor na Universidade Paulista (Unip) e no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, em Salto (SP).
Na Colômbia, o marqueteiro assessora, desde agosto de 2020, segundo a imprensa local, a prefeitura de Medellín, comandada pelo político de esquerda Daniel Quinteros. De acordo com a revista colombiana Semana, Chamorro tem ali três contratos com a prefeitura, que somam o equivalente a R$ 400 mil. Conforme a própria publicação, as contratações são legais.
Com informações do O Globo