Omar Aziz: “Bolsonaro tripudiou da vacina e Pazuello mentiu”
“Em um mês de CPI, já tivemos as conclusões: o governo não quis comprar vacina” afirmou o senador, que preside a comissão que apura ações e omissões do governo federal no combate à pandemia.
Publicado 31/05/2021 17:49
O presidente da CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que já “está provado” que o governo federal “não quis comprar vacina”.
“Em um mês de CPI, já tivemos as conclusões: o governo não quis comprar vacina, está provado, tripudiou da vacina, e acreditou na imunidade de rebanho e no tratamento precoce. Não tem pra onde correr”, disse Omar Aziz.
“Pior, divulgando isso sem acompanhamento médico e isso comprometeu muitas vidas”, acrescentou.
Aziz declarou que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, durante seu depoimento na CPI, “conseguiu, de cada fato que aconteceu, criar uma versão de um fato que ele mesmo disse: “Um manda e o outro obedece”. Simples assim, e rindo, de uma forma jocosa em relação às famílias que perderam pessoas pela Covid”.
“Todos nós, não há exceção no Brasil, que não tenham perdido um familiar, um amigo, um vizinho ou alguém que conhecêssemos, todos nós tivemos esse tipo de perda. Infelizmente isso aconteceu. Então não foi uma mentira, foram várias mentiras ao longo do depoimento dos dois dias e, infelizmente, ele estava munido de um habeas corpus e nada podemos fazer”, afirmou em entrevista ao portal IG.
O presidente da CPI declarou que não foi somente na desculpa de Pazuello (ele alegou que foi ao estabelecimento para comprar máscara) ao entrar num shopping sem máscara em Manaus que ele mentiu. No fim de semana passado, Pazuello participou de um ato ao lado de Bolsonaro, sem máscara.
Questionado se existem contradições entre o que Pazuello fala e o que pratica, Aziz respondeu que existem “várias”.
“Várias, não só essa, por isso a gente afirma que não estamos dizendo algo sem o fato concreto, ele [Pazuello] mente. Aquilo lá [ato de Bolsonaro com motociclistas] é o verdadeiro “motoqueiros do apocalipse”, está morrendo um monte de gente e o cara diz que aquilo não era um ato político, era o que aquilo ali?”, questionou.
“‘Vamos passear de moto e fechar todas as ruas do Rio de Janeiro, porque eu sou o presidente eu mando e faço o que quiser?’, coloca mil policiais para dar segurança e fazer um passeio a troco de quê? Por que o presidente quer passear de moto? Fechar uma cidade para ele andar de moto enquanto morre gente”, continuou.
“Aí vem um general de três estrelas e dá essa desculpa esfarrapada para o comando do Exército. Ou ele está muito confiante que o Bolsonaro irá protegê-lo, ou ele menospreza a inteligência de generais acima dele no Exército brasileiro”, comentou.
“Aquilo lá não era um cortejo fúnebre de apoio a alguma coisa, aquilo era um cortejo para o ego do presidente, e ali se dispõe um palanque sem máscara com o ex-ministro, que é tratado como herói porque mentiu. Em vez de nos proteger, que é o papel das Forças Armadas, de proteger o povo brasileiro, ele protegeu o Bolsonaro”.
Aziz considera que “com o depoimento da Pfizer e do Butantan, não tem mais o que falar sobre o descompromisso em comprar vacinas, que levou ao óbito de milhares de pessoas”.
“No depoimento do Dimas Covas, ele afirmou que se o governo brasileiro tivesse feito um contrato, ele disse o seguinte: ‘Nós estivemos em uma reunião e oferecemos 60 milhões de vacinas e eles não deram atenção’. Depois, em uma reunião entre o Ministério da Saúde e o Butantan, ficou acertada a compra de 48 milhões de vacinas. No dia seguinte, o presidente, pelas redes sociais, disse, atacando, que quem mandava era ele e que não ia comprar a ‘vachina’ chinesa, e esculhambou a China”, relatou o senador.
Numa live na última quinta-feira (27), Jair Bolsonaro pediu a Aziz “pelo amor de Deus, encerra logo essa CPI”.
Em resposta, o presidente da CPI ironizou: “eu quero fazer um apelo ao presidente: Pelo amor de Deus, compre vacina”. “Se o presidente colocar 500 milhões de doses para vacinar com duas doses cada brasileiro, acaba a CPI. Mas, enquanto isso, não irá acabar”, completou.
“Agora, ele pedir para acabar a CPI, lógico que vai acabar um dia, mas ela só tem um mês, ainda faltam dois, e após isso eu atenderei ao pedido do presidente. Isso se tivermos investigado tudo e ela não for prorrogada”.
O senador falou da crise de falta de oxigênio em Manaus em janeiro.
“Eu sei quantas pessoas me mandaram mensagem pedindo “pelo amor de deus, salve meu pai e minha mãe que não tem oxigênio” e você não poder fazer nada, porque não tinha oxigênio para salvar as pessoas”, contou.
Ele também falou emocionado da morte do seu irmão por Covid-19, o empresário Walid Aziz, em janeiro.
“Eu evito responsabilizar, porque foi um fato, uma coisa que aconteceu, que eu não desejo para ninguém. Meu irmão estava internado, ele faleceu. Aconteceram muitas coisas. Não é vingança, eu procuro justiça, que é vacinar as pessoas, não tem outro jeito”, reafirmou.
Sobre ameaças, Aziz declarou que sofre “toda hora, mas fazer o quê?”.
E deu um recado a quem achava que a CPI não iria longe. “Àqueles que acharam que a CPI ia dar em pizza, se enganaram, porque nós já chegamos aos responsáveis pela não compra das vacinas”, afirmou.
O presidente do Senado afirmou que ainda é “prematuro” se discutir uma possível prorrogação dos trabalhos da comissão, que completou um mês de instalada na quinta-feira (27).
De acordo com o regulamento do Senado, caso seja decidido pelo presidente e pelo relator, a CPI pode ser prorrogada por mais 90 dias, além dos 90 iniciais.
“Minha pretensão é acabar em três meses, mas esta não é uma decisão apenas minha, é do Senado. Acho hoje muito prematuro falar em prorrogação”, afirmou Aziz.
Fonte: Hora do Povo