Operação policial no Rio de Janeiro gera polêmica entre deputados
Homenagem a policial morto e elogio ao assassinato de 25 moradores da favela causa controvérsia entre parlamentares.
Publicado 06/05/2021 22:12 | Editado 06/05/2021 22:24
A operação policial realizada nesta quinta-feira (6) no Jacarezinho, Rio de Janeiro, repercutiu nos discursos de parlamentares no Plenário da Câmara dos Deputados. A operação foi a mais letal da história do estado, foram 25 mortos após intenso tiroteio durante a manhã.
A Câmara fez 1 minuto de silêncio em respeito a uma das vítimas, o policial civil André Leonardo de Mello Frias. A homenagem foi solicitada pelo deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), que afirmou a intenção de homenagear apenas o policial civil e não as outras vítimas, que seriam “vagabundos”.
O pedido gerou reação de vários parlamentares, como a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Não podemos julgar a priori que as pessoas mortas eram criminosas, ninguém aqui pode dizer que todos ali assassinados eram bandidos. Ou a gente aprofunda o debate, ou fica difícil esse tipo de polêmica”, lamentou.
O 1º vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que conduzia a sessão, afirmou que a Casa “não é tribunal” para julgar o resultado da operação e que a homenagem ao policial não caracteriza as outras vítimas como bandidos ou não.
“Este ambiente aqui não é um tribunal e não vamos julgar quem tem ou não razão. Vamos fazer 1 minuto de silêncio porque a morte de um policial é uma ocorrência que exige a nossa solidariedade. Ao fazer 1 minuto de silêncio, eu tenho que registrar que não estamos julgando todos os mortos como bandidos porque isso não nos cabe”, afirmou.
Inteligência
Ex-governadora do Rio de Janeiro, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) denunciou que recebeu notícias de pessoas mortas dentro da própria casa e que a operação mobilizou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pública. Ela disse que a polícia precisa trabalhar com inteligência para combater o crime, e não com ações violentas.
“Nós gostamos das coisas certas. Bandido se prende, condena, não mata. Não existe lei que autorize policial a chegar a um local com 170 mil pessoas e sair atirando. Desde quando uma pessoa suspeita tem que morrer?”, questionou.
Otoni de Paula, no entanto, parabenizou a Polícia Civil pela operação e pelo “cancelamento do CPF de 25 marginais”. “Cada bandido preso ou abatido é a garantia da promoção, da libertação do nosso povo tão sofrido, de moradores, principalmente, das comunidades”, disse. O parlamentar afirmou ainda que “alguns partidos gostam de bandidos”, fala que também gerou reação em Plenário.
A líder do Psol, deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), destacou que “cancelar CPFs” é uma gíria de milícia e lamentou a realização de operações policiais com troca de tiros durante a pandemia. “Para enfrentar esse quadro, não é a lógica da guerra às drogas que é a guerra aos pobres. Tem que se controlar armas e munições, e não seguir com essa lógica sangrenta que precisa ser interrompida em defesa da vida”, disse.
Repercussão no Rio
POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA NÃO,
POLITICA DE TERROR!A Chacina do Jacarezinho não é sobre um debate ideológico.
É sobre quem é favor da vida e quem é contra porque a política de segurança colocada é uma política de terror nas favelas e periferias. + #ChacinaDoJacarezinho pic.twitter.com/6amP8vkn5E
— Dani Monteiro #VacinaAuxílio&ÁguaJá ✊? (@danimontpsol) May 6, 2021
Eu acho que a gente vive numa bolha pq o que não falta são problemas para nos debruçarmos. É inadmissível que numa operação policial militar se registre, de repente, 30 mortos. E ainda existe quem diga que é pouco, que devem matar mais 30. Realmente tem alguma coisa fora de nexo
— Eliomar Coelho (@EliomarCoelho) May 6, 2021
Não aceitaremos a “justificativa” de que todos os mortos eram suspeitos. Nossa Constituição não prevê pena de morte e é obrigação do Estado respeitar a lei. A favela tem direitos! No meio do genocídio da pandemia, vemos que o genocídio da população negra e favelada não para. https://t.co/UUdA2mggAg
— Mônica Francisco (@MonicaFPsol) May 6, 2021
O silêncio do governador diante da maior chacina da cidade do Rio é ensurdecedor. Nd pode justificar uma operação como essa, q matou 25 pessoas. Além de ordenar uma pol. de seg. bélica, o gov se omite diante do rastro de sangue negro deixado no chão pelo massacre do Jacarezinho.
— Renata Souza (@renatasouzario) May 6, 2021
Absurda operação no Jacarezinho, ao arrepio da decisão do STF, com mais de 20 mortos até agora e o número não para de crescer! Submeter inocentes a risco de morte é inaceitável! Não tem efetividade essa fracassada forma de combater o crime no RJ!
— Waldeck Carneiro (@WaldeckCarneiro) May 6, 2021
Com informações da Agência Câmara de Notícias