Nova Zelândia: como é viver em um país que controlou a pandemia?

Além do fechamento de fronteiras, país fez quarentena rigorosa, testagem em massa e rastreamento dos cidadãos

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern - Reprodução/Video/Facebook

Sair de casa para encontrar os amigos, frequentar bares e baladas, ir a um show no fim de semana e ter serviços e o comércio funcionando normalmente parecem atividades distantes demais da realidade da maioria dos países, devido à pandemia de Covid-19, principalmente no Brasil, onde a doença se alastra com expressiva velocidade e intensidade. Mas não para os neozelandeses.

O país de 5 milhões de habitantes registrou desde o início da pandemia apenas 26 mortes e 2,6 mil casos. O Brasil se aproxima de 400 mil óbitos e 14 milhões infectados. Lá, no dia 30 de março, foram registrados apenas 2 casos, enquanto que aqui, aproximadamente 84 mil infectados.

“A gente não está vivendo a mesma coisa que o resto do mundo. Nova Zelândia é um país que andou paralelo a tudo isso. Tivemos no ano passado lockdown por 40 dias. Jacinda [primeira-ministra] cercou todos os pólos de contaminação, que eram poucos, isolou todo mundo, fechou as fronteiras e os casos acabaram”, afirma a brasileira Carolina Nery, de 43 anos, que vive em Christchurch, no sul da Nova Zelândia.

Foi somente no dia 19 de abril, 400 dias depois de fronteiras fechadas, que a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, do Partido Trabalhista, reabriu as fronteiras apenas para a Austrália sem restrições, no que os dois países vêm chamando de “bolha”.

Além do fechamento de fronteiras, também foi feito quarentena rigorosa logo no início da pandemia, testagem em massa e rastreamento dos cidadãos. Esta última ferramenta ajudou a localizar, por exemplo, por quais lugares uma pessoa contaminada passou e com quais outras teve contato. Essa estratégia também foi realizada por meio de um aplicativo, no qual os neozelandeses registravam, através de um QR Code, os lugares visitados.

Bem como em outros países, o governo neozelandês estabeleceu quatro estágios para controle da pandemia, que vai do nível um, quando a doença está contida, até o nível quatro, de máximo alerta e maiores restrições, como lockdown. Hoje, a única medida obrigatória é o uso de máscaras em alguns espaços e o fechamento de fronteiras.

A artista e professora acredita que a gestão da pandemia estabelecida por Ardern foi o que de fato possibilitou o país a controlar a situação.

“Eu acho que isso colaborou: a martelada que foi dada pela primeira-ministra, porque ela fez a gente ficar em casa, ninguém saiu mesmo. A gente ficou uns 40 dias dentro de casa.” Hoje, “aqui ninguém usa máscara. Mas não é falta de regra, mas é porque realmente a gente não tem caso nenhum. Então a gente está com vida normal. Não sinto medo. A gente se sente bem protegido aqui”, afirma Nery.

A brasileira Cristiane de Morais Ramos, que também mora em Christchurch, também afirma que as pessoas perderam um pouco o medo, porque realmente os casos são ínfimos.

“A gente realmente leva uma vida normal aqui. A única coisa que faz a gente lembrar que ainda tem coronavírus é porque as fronteiras estão fechadas. Eu, por exemplo, não posso sair do país agora porque se eu sair, eu não consigo voltar. Nesses casos, a gente lembra”, afirma a brasileira, qe trabalha como atendente em uma loja.

Economia

A gestão da pandemia também levou os números da economia do país a reagirem rapidamente. Em dezembro de 2020, o ministro da Economia, Grant Robertson, declarou que a Nova Zelândia havia se recuperado dos impactos econômicos, com um crescimento recorde trimestral de 14% entre julho e setembro. No trimestre anterior, o PIB havia diminuído 11%.

“O crescimento econômico é o resultado de nossa decisão de agir com força e rapidamente durante a pandemia da covid-19. (…) Demos apoio a mais de 1,8 milhão de trabalhadores com o Plano de Subsídio Salarial e investimos bilhões de dólares em infraestrutura, formação e criação de empregos”, afirmou o ministro Robertson.

Segundo Ramos, a população teve um aumento “considerável” do salário mínimo, “porque ele [ministro da Economia] quer incentivar o consumo interno país, sempre fala pra gente viajar aqui dentro, então se incentiva que se gaste dinheiro”, afirma a brasileira. “A gente esperava que fosse ser pior. Eu esperava que fosse ser pior na empresa que eu trabalho, mas não fez tanta diferença em questão financeira, mesmo que alguns lugares infelizmente tiveram problemas relacionados ao turismo. Hotéis fecharam, bares fecharam.”

Como a pandemia está controlada no país, a ideia é começar a imunização em massa da população apenas no segundo semestre deste ano. “Como aqui a gente não tem muitos casos, não foi prioridade também na lista de países a terem a vacina. O que se tem agora são as pessoas que trabalham no aeroporto tomando vacina, que trabalham nos lugares de quarentena, as pessoas dos familiares e os idosos, de cidades que tem mais perigo”, explica Ramos.

Como os neozelandeses veem o Brasil?

“Péssima”. Esta é a percepção dos neozelandeses sobre a gestão de Jair Bolsonaro acerca da pandemia, nas palavras de Carolina Nery. “Jornais saem sempre falando do Brasil e é sempre assim: “o governo que está matando”. Aqui a Jacinda é de um governo socialista, tendendo para a esquerda, e os jornais tendem para o mesmo lado dela. Trump e Bolsonaro aqui são tidos como completamente sem credibilidade, desde o início”, afirma Nery. “Olhando para o Brasil, realmente cai a ficha da liberdade que a gente está tendo aqui, que não se compara.”

Na mesma linha, Cristiane de Morais Ramos afirma que a imprensa da Nova Zelândia trata Bolsonaro como o “Trump brasileiro”. “Tem várias notícias do Brasil e todo mundo acha que é o segundo Trump, que ele está querendo fazer a população morrer, essas coisas. Da mesma forma como muitas pessoas do Brasil veem ele.”

Fonte: Brasil de Fato