Legado de governos progressistas em Santos é tema de livro
“Santos, 1989” resgata a origem de políticas de combate à epidemia de aids e de humanização da saúde mental, entre iniciativas, em outras áreas, que conquistaram repercussão mundial.”
Publicado 23/04/2021 14:29
Políticas públicas em diversas áreas que o Brasil tem hoje (apesar do processo de destruição em curso desde o golpe de 2016) e que nasceram de governos progressistas em Santos, litoral de São Paulo, estão agora registradas em livro. “Santos, 1989 – as políticas públicas que inspiraram um país (e o mundo também)” resgata a história de iniciativas em saúde, educação, assistência social, cultura, entre outras, que quebraram paradigmas, obtiveram reconhecimento fora do país e foram nacionalizadas.
A frente ampla denominada “Unidade Democrática Popular”, encabeçada por partidos de esquerda e que reuniu legendas, lideranças e movimentos dos mais variados espectros políticos, esteve no comando da Prefeitura de Santos por dois períodos consecutivos: 1989 a 1992, com Telma de Souza; e 1993 a 1996, com David Capistrano da Costa Filho, ambos do PT. Além dessa sigla, o PCdoB, o PSB, o PV fizeram parte do primeiro período; PMN, PPS, PC e até o PSDB constituíram a aliança na segunda gestão.
O livro – de autoria do jornalista e professor Wagner de Alcântara Aragão e recém lançado pela Editora Alameda – ressalta como a composição de forças progressistas foi fundamental para que o interesse público superasse a resistência de monopólios privados e segmentos reacionários.
Exemplos
A obra relembra, por exemplo, o enfrentamento da epidemia de aids, processo marcado por ações que, anos depois, se tornariam políticas públicas federais. Ainda na área de saúde, o livro aborda o processo de intervenção na Casa de Saúde Anchieta, manicômio privado, e a consequente humanização no tratamento de doentes mentais – marco inicial do modelo adotado pelo Brasil e até hoje tido como referência no mundo.
O “Todo Criança na Escola” – renda mínima a famílias para promover a universalização do ensino e o combate à evasão – é outro programa fruto daquele período em Santos, mencionado no livro, e cuja filosofia norteou, anos depois, o Bolsa Família. A erradicação dos cortiços, por meio da locação social (instrumento que também passou a ser adotado por administrações de outros municípios) , também é lembrada.
“Santos, 1989” conta ainda como o transporte coletivo começou a ser tratado como um direito social, e não um negócio. Diante do locaute promovido pela empresa privada concessionária de linhas, a Prefeitura encampou os serviços e implantou a tarifa zero aos domingos. Foram medidas que, apesar da forte pressão enfrentada, hoje se mostram como pioneiras: anos depois, em 2015, uma emenda constitucional tornou oficialmente o transporte como direito social e a tarifa zero agora é pauta até entre grupos políticos mais conservadores.
O modelo de comunicação pública de prestação de serviços e cidadania, representado pelo D.O. Urgente; a despoluição das praias; a ampliação de equipamentos públicos de cultura (como a criação do cinema de arte, da gibiteca e da biblioteca na orla; e ainda, de bibliotecas em bairros, entre outros), de esportes (a escolinha de surfe e a pistas de skate da Praça Palmares e Praça da Paz Universal) são outros legados resgatados.
Linguagem
Não se trata, contudo, de inventário de obras e ações, ou um relatório de prestação de contas. O livro mescla memórias do autor (à época, adolescente) com o rigor jornalístico. Há entrevistas com personagens do período (como a ex-prefeita Telma de Souza, o ex vice-prefeito Sérgio Sérvulo da Cunha e jornalistas que conduziram o D.O. Urgente e noticiavam os fatos), manifestações de fontes diversas à época (entre lideranças, personalidades e o cidadão comum) e dados diversos.
O objetivo, segundo o autor, foi o de recuperar a memória daquela fase, para que atuais e futuras gerações identifiquem que políticas e serviços públicos são frutos, principalmente, de concepções do modo de governar.
O livro tem texto de apresentação (orelha) da própria Telma de Souza, e prefácio do médico e professor Ubiratan de Paula, que foi chefe de gabinete de Capistrano.
Lançamento
Um bate-papo virtual promovido pela editora em dia 26 de fevereiro marcou o lançamento. Além do autor e de Telma de Souza, participaram do evento o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy, o deputado estadual paulista Paulo Fiorilo e o jornalista Oswaldo de Mello, que foi editor do “D.O. Urgente”, jornal de comunicação pública criado na gestão Telma e que circulou até 2017.
“O livro traz recordações sobre os bons exemplos que Telma e David Capistrano deram para a população brasileira. ‘Santos, 1989’ merece ser lido por toda a população; em especial – pelos exemplos formidáveis das administrações do PT da cidade -, merece ser lido pelos nossos filiados, do PT”, declarou Suplicy, no bate-papo de lançamento.
O deputado Paulo Fiorilo enfatiza a importância do livro em resgatar o legado dos dois governos. “Ao ler o livro, a gente vai comparando o que foi o governo da Telma, o que foi o governo do David, com o que foi o nosso governo [na cidade de São Paulo] na época, de Luíza Erundina. Foram governos que têm uma muita importância muito grande para o modo petista de governar”, afirmou o parlamentar.
Serviço
O livro pode ser adquirido por meio deste endereço: https://www.alamedaeditorial.com.br/historia/santos-1989-de-wagner-de-alcantara-aragao.
O bate-papo de lançamento está disponível neste link: https://youtu.be/tTGo0VifNxY