Entidades LGBTI+ denunciam pastor que “ora” pela morte de ator gay

Pastor José Olímpio será investigado por post que fez no Instagram

Entidades denunciam crime de homofobia

Ativistas do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), do Grupo Gay de Maceió (GGM) e da Aliança Nacional LGBTI+ foram recebidos em audiência, na manhã da terça-feira (20), pelo Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público de Alagoas, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, para tratar do pedido feito por ofício pela Aliança para averiguação e possível tomada de providências em relação ao caso do pastor José Olímpio, da Assembleia de Deus em Alagoas.

A seguinte postagem foi atribuída ao líder religioso sobre o estado de saúde do ator Paulo Gustavo, que está internado há mais de 30 dias por complicações da covid-19: “Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”

Segundo postagem do Ministério Público de Alagoas no Instagram em relação ao caso, a instituição instaurou notícia de fato para apurar crime de racismo e também requisitou instauração de inquérito à Delegacia-Geral da Polícia Civil para investigar o fato. Na reunião, o Procurador-Geral afirmou “O MP é a casa de todos e não permitirá intolerância de gênero.”

Leia a íntegra da nota-réplica DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+ DE REPÚDIO AO PASTOR JOSÉ OLÍMPIO – RÉPLICA

A Aliança Nacional LGBTI+, juntamente com as demais entidades que a esta subscrevem, vem a público se manifestar sobre a fala e posterior nota do Pastor José Olímpio sobre o ator Paulo Gustavo.

Leia a nota do pastor

É louvável que o Pastor peça desculpas por sua infeliz fala dizendo que iria orar para que o “dono” de Paulo Gustavo o levasse para “junto de si” (o “dono” seria Deus ou o diabo, na visão do Pastor?), entretanto, o dano já foi causado, como o ditado popular bem diz: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”.

Temos aqui duas coisas que não voltam atrás, a palavra pronunciada e a oportunidade de ficar em silêncio perdida. Deus em toda sua misericórdia deu a vida de seu único filho e salvador Jesus Cristo para que a humanidade fosse salva de seus pecados, o maior ato de amor já narrado na literatura cristã.

Jesus em sua infinita sabedoria definiu como mandamento o amor ao próximo, Mateus 22:39, jamais Jesus desejou a morte de qualquer pessoa. Jesus se preocupava, entretanto, com a hipocrisia das pessoas que julgavam o próximo sem se preocupar com a trave em seu próprio olho, Mateus 7:1-5. Jesus foi uma pessoa de paz, em todo o evangelho só se utilizou de força física para expulsar os mercadores dos templos, Mateus 21:12-17 e Lucas 19:45-48.

Nós amamos os pecadores, mas abominamos o pecado, e desejar a morte alheia é um pecado. Que Vossa Senhoria receba o perdão divino, mas suas ações na Terra precisam de resposta, até mesmo Jesus, filho de Deus, não se eximiu da lei dos homens, a enfrentou.

Ao desejar a morte de uma pessoa durante uma pandemia, usando sua voz como figura pública ajuda a propagar o preconceito estrutural no país, um preconceito que mata, invisibiliza e marginaliza toda a população LGBTI+ em diversos níveis.

Não à toa que o país que mais mata transexuais no mundo é o Brasil, esse discurso de menosprezo alheio em razão de sua orientação sexual e identidade de gênero faz com que as mortes se acumulem mais a cada ano.

O preconceito que permeia a sociedade brasileira é antigo, quando não havia separação entre Igreja e Estado a pena nos imposta era a morte na fogueira, a legislação era tão severa que explicava que a morte na fogueira era para que sequer tivessem lembrança de nós. Sempre existimos e resistimos e, hoje, não nos calaremos.

O Direito não se antecipa aos fatos sociais, ele existe em decorrência deles, e nesse sentido a LGBTIfobia passou a ser crime em razão de decisão proferida na ADO26.

Assim, provocaremos as autoridades competentes para que seja instaurada investigação sobre a possível prática do crime narrado no artigo 20 da Lei 7.716/89 em sua espécie qualificada, §2º. Além disso, buscaremos reparação dos danos morais coletivos causados em Ação Civil Pública.

A LGBTIfobia não pode ser tolerada, não podemos tolerar a intolerância. Buscaremos reparação pelo dano causado e esperamos, de todo o coração, que o arrependimento seja sincero e que a religião jamais volte a ser usada como instrumento de propagação de ódio.

Curitiba, 19 de abril de 2021

Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+

Rafaelly Wiest
Diretora Administrativa da Aliança Nacional LGBTI+

Patrícia Mannaro
Secretária Executiva da Aliança Nacional LGBTI+

Claudio Nascimento
Diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI+

Amanda Souto Baliza
OAB/GO 36.578
Coordenadora Adjunta da Área Jurídica

Pastor Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Titular de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+

Assinam esta nota:

Nildo Correia – Grupo Gay de Alagoas

Messias Mendonça – Grupo Gay de Maceió

Kamila Emanuele – CAERR

Givanildo Lima – ARTGAY/AL

Fábio de Jesus – Rede Gay Brasil

Isadora Padilha – Movimento dos Povos das Lagoas

Ticiane Simões – Ateliê Ambrosina

Wilza Rosa – CAVIDA

Marcelo Nascimento – Fundador do Movimento LGBTI+ em Alagoas ;

Waneska Pimentel – Associação Cultural Joana Gajuru

Annabella Andrade – Coletivo ” O Direito Achado na Rua”

Indianarae Siqueira – REBRACA

Marcelo Cerqueira – Grupo Gay da Bahia

Otávio Reis – Quibanda Dudu –

Gilvan Dias Medeiros – Associação As Musas de Castro Alves do Recôncavo – ASMUSADECAR

Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Alagoas MNPR/AL e Fórum Nacional dos Usuários do Sistema

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