Entidades LGBTI+ denunciam pastor que “ora” pela morte de ator gay
Pastor José Olímpio será investigado por post que fez no Instagram
Publicado 22/04/2021 19:47
Ativistas do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), do Grupo Gay de Maceió (GGM) e da Aliança Nacional LGBTI+ foram recebidos em audiência, na manhã da terça-feira (20), pelo Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público de Alagoas, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, para tratar do pedido feito por ofício pela Aliança para averiguação e possível tomada de providências em relação ao caso do pastor José Olímpio, da Assembleia de Deus em Alagoas.
A seguinte postagem foi atribuída ao líder religioso sobre o estado de saúde do ator Paulo Gustavo, que está internado há mais de 30 dias por complicações da covid-19: “Esse é o ator Paulo Gustavo que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”
Segundo postagem do Ministério Público de Alagoas no Instagram em relação ao caso, a instituição instaurou notícia de fato para apurar crime de racismo e também requisitou instauração de inquérito à Delegacia-Geral da Polícia Civil para investigar o fato. Na reunião, o Procurador-Geral afirmou “O MP é a casa de todos e não permitirá intolerância de gênero.”
Leia a íntegra da nota-réplica DA ALIANÇA NACIONAL LGBTI+ DE REPÚDIO AO PASTOR JOSÉ OLÍMPIO – RÉPLICA
A Aliança Nacional LGBTI+, juntamente com as demais entidades que a esta subscrevem, vem a público se manifestar sobre a fala e posterior nota do Pastor José Olímpio sobre o ator Paulo Gustavo.
É louvável que o Pastor peça desculpas por sua infeliz fala dizendo que iria orar para que o “dono” de Paulo Gustavo o levasse para “junto de si” (o “dono” seria Deus ou o diabo, na visão do Pastor?), entretanto, o dano já foi causado, como o ditado popular bem diz: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”.
Temos aqui duas coisas que não voltam atrás, a palavra pronunciada e a oportunidade de ficar em silêncio perdida. Deus em toda sua misericórdia deu a vida de seu único filho e salvador Jesus Cristo para que a humanidade fosse salva de seus pecados, o maior ato de amor já narrado na literatura cristã.
Jesus em sua infinita sabedoria definiu como mandamento o amor ao próximo, Mateus 22:39, jamais Jesus desejou a morte de qualquer pessoa. Jesus se preocupava, entretanto, com a hipocrisia das pessoas que julgavam o próximo sem se preocupar com a trave em seu próprio olho, Mateus 7:1-5. Jesus foi uma pessoa de paz, em todo o evangelho só se utilizou de força física para expulsar os mercadores dos templos, Mateus 21:12-17 e Lucas 19:45-48.
Nós amamos os pecadores, mas abominamos o pecado, e desejar a morte alheia é um pecado. Que Vossa Senhoria receba o perdão divino, mas suas ações na Terra precisam de resposta, até mesmo Jesus, filho de Deus, não se eximiu da lei dos homens, a enfrentou.
Ao desejar a morte de uma pessoa durante uma pandemia, usando sua voz como figura pública ajuda a propagar o preconceito estrutural no país, um preconceito que mata, invisibiliza e marginaliza toda a população LGBTI+ em diversos níveis.
Não à toa que o país que mais mata transexuais no mundo é o Brasil, esse discurso de menosprezo alheio em razão de sua orientação sexual e identidade de gênero faz com que as mortes se acumulem mais a cada ano.
O preconceito que permeia a sociedade brasileira é antigo, quando não havia separação entre Igreja e Estado a pena nos imposta era a morte na fogueira, a legislação era tão severa que explicava que a morte na fogueira era para que sequer tivessem lembrança de nós. Sempre existimos e resistimos e, hoje, não nos calaremos.
O Direito não se antecipa aos fatos sociais, ele existe em decorrência deles, e nesse sentido a LGBTIfobia passou a ser crime em razão de decisão proferida na ADO26.
Assim, provocaremos as autoridades competentes para que seja instaurada investigação sobre a possível prática do crime narrado no artigo 20 da Lei 7.716/89 em sua espécie qualificada, §2º. Além disso, buscaremos reparação dos danos morais coletivos causados em Ação Civil Pública.
A LGBTIfobia não pode ser tolerada, não podemos tolerar a intolerância. Buscaremos reparação pelo dano causado e esperamos, de todo o coração, que o arrependimento seja sincero e que a religião jamais volte a ser usada como instrumento de propagação de ódio.
Curitiba, 19 de abril de 2021
Toni Reis
Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+
Rafaelly Wiest
Diretora Administrativa da Aliança Nacional LGBTI+
Patrícia Mannaro
Secretária Executiva da Aliança Nacional LGBTI+
Claudio Nascimento
Diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI+
Amanda Souto Baliza
OAB/GO 36.578
Coordenadora Adjunta da Área Jurídica
Pastor Gregory Rodrigues Roque de Souza
Coordenador Titular de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+
Assinam esta nota:
Nildo Correia – Grupo Gay de Alagoas
Messias Mendonça – Grupo Gay de Maceió
Kamila Emanuele – CAERR
Givanildo Lima – ARTGAY/AL
Fábio de Jesus – Rede Gay Brasil
Isadora Padilha – Movimento dos Povos das Lagoas
Ticiane Simões – Ateliê Ambrosina
Wilza Rosa – CAVIDA
Marcelo Nascimento – Fundador do Movimento LGBTI+ em Alagoas ;
Waneska Pimentel – Associação Cultural Joana Gajuru
Annabella Andrade – Coletivo ” O Direito Achado na Rua”
Indianarae Siqueira – REBRACA
Marcelo Cerqueira – Grupo Gay da Bahia
Otávio Reis – Quibanda Dudu –
Gilvan Dias Medeiros – Associação As Musas de Castro Alves do Recôncavo – ASMUSADECAR
Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Alagoas MNPR/AL e Fórum Nacional dos Usuários do Sistema