MST destaca 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás

Em coletiva de imprensa, o MST destaca a importância do 17 de abril, e denuncia às vésperas da data que as comunidades do campo, indígenas, quilombolas e pequenas(os) agricultoras(es) continuam na mira dos conflitos fundiários no Brasil

Ações de mobilizações de redes, durante o 15º Acampamento Pedagógico Oziel Alves l Foto: Divulgação. Acervo MST.

Na manhã desta sexta-feira (16), profissionais e veículos da mídia progressista estiveram reunidos, em plataforma virtual, para uma coletiva de imprensa onde foram rememorados os 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, tratando também da conjuntura política atual das questões que tocam a reforma agrária no Brasil. 

O evento aconteceu contando com a presença de Marina dos Santos, João Paulo Rodrigues e Francisco Moura.

A análise de conjuntura se aprofundou na crise política, sanitária, alimentar e ambiental no Brasil. O MST dialoga com a imprensa sobre a impunidade dos conflitos no campo e os “entulhos autoritários agrários” – medidas governamentais para favorecer latifundiários do agronegócio.

O tema foi levantado na fala de Marina, que explica que os tais “entulhos” se dão por meio de projetos de leis, medidas provisórias, decretos, e uma série de normativas ligadas a regularização fundiária para impedir ou reverter à posse do direito à terra para indígenas, quilombolas, assentadas(os) e acampada(os).

Um dos elementos principais desses “entulhos autoritários agrários”, segundo Marina, toca a questão dos lotes de comunidades que foram conquistadas por titulação de áreas públicas, na tentativa de transformá-las em privadas. Além de fomentar crimes ambientais, com fogo, desmatamento e venda ilegal de áreas, com o aval do Ministro do Meio Ambiente e do Governo Federal.

Neste cenário, o conjunto do movimento expressa, que mais uma vez, o enfrentamento da milícia com seus jagunços. E por vezes, sofrendo as violências do campo instrumentalizadas pela própria força nacional, sobre a proteção da Polícia Federal se blindando com o apoio do presidente Bolsonaro.

Ou seja, de modo geral, se aponta que estamos muitas vezes sofrendo com os mesmos conflitos que fazem rememorar os 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, de Corumbiara, de Pau D’Arco, entre outros que marcam a memória recente.

Função social da terra e orientações políticas

Juventude Sem Terra planta árvores em homenagem aos mortos no Massacre de Eldorado do Carajás/ES. Fotos: Lavínia Fornasiari/Acervo MST

“Foram com esses massacres que tivemos a popularização do tema da reforma agrária no país”, afirmou João Paulo. “Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso e, depois, no governo Lula. Quando foram conquistadas políticas para Reforma Agrária em ambos os governos. No período em que houve, respectivamente, o maior número de áreas assentadas e a implementação de políticas para as populações do campo, assim como, para a agricultura familiar camponesa”. Mas alerta que ainda há muito o que fazer. “O grilo recebendo o carimbo do estado brasileiro”- denuncia João Paulo.

Temos mais de 250 mil famílias vivendo em beiras de estrada. E agora, o governo  facilita o porte de armamento que favorece as ações das milícias. Com o objetivo de privatizar mais de 200 milhões de hectares de terras para o agronegócio. Na Amazônia em especial, abrindo caminhos com madeireiros ilegais para explorar a soja e a mineração – desabastecendo as políticas de reforma agrária no país.

“Estão extinguindo a função social da terra urbana e rural, à qual levamos nossa denúncia” – ressalta Marina. Seguimos em movimento e levantando algumas orientações políticas: 

“Sobre a produção de alimentos, que tem como prioridade a produção de comida, alimento, e não de commodities. A recuperação e preservação ambiental, temos a meta de plantar 100 milhões de árvores em todo o país, de acordo com o bioma de cada região e de preferência árvores frutíferas. A resistência política por meio da solidariedade, botamos à terra conquistada à serviço dos que mais precisam. Doando alimentos, quentinhas desde os assentamentos, acampamentos e armazéns do campo. Organizar a produção e comercialização para gerar renda e qualidade de vida para nossas famílias”.

“Hoje, nós temos vergonha de dizer que somos brasileiros, mas digamos que temos esperança de luta e resistência por nossas bandeiras”, complementou Marina, que conta que, nos atos, as palavras de ordem também clamam por vacinação para toda a população, auxílio emergencial enquanto durar a pandemia, além da bandeira do Fora Bolsonaro.

Ações da Jornada de Lutas de Abril em memória aos mártires de Eldorado dos Carajás

Doações de 5 toneladas de alimentos para 250 famílias vulneráveis em Maringá/PR. Foto: Breno Thomé Ortega/ Acervo MST.

Em sua fala, Francisco Moura, da coordenação do MST no Pará, ressaltou que após 25 anos do massacre onde persevera a impunidade, “para nós que passamos pelo massacre, fica a dor dos camponeses, das famílias. A dor do MST de não ter um julgamento justo para essa questão de Eldorado dos Carajás[…] Não temos o que comemorar, mas queremos ter um dia um julgamento justo”.

Por isso, destaca que precisamos continuar pressionando os órgãos responsáveis por mediar os conflitos do campo, antes que novos massacres aconteçam. E denunciando as mortes que vem acontecendo de forma silenciosa frente à opinião pública.

Por outro lado, Francisco afirma que “o massacre não caiu no esquecimento pelo movimento e pela sociedade que abraçou essa causa. E principalmente é levantado pela juventude”, que todos os anos mobilizam o Acampamento Pedagógico Oziel Alves, que está em sua 15ª edição, e esse ano acontece de forma virtual por conta da pandemia.

As lutas deste mês, desde 1996, do Massacre de Eldorado dos Carajás, tornaram-se para as famílias Sem Terra o “abril vermelho” de luto e lutas, onde dialogamos com a sociedade, tradicionalmente, com ocupações massivas em latifúndios improdutivos em defesa da reforma agrária popular e em memória dos mártires, por um mundo mais justo e igualitário.

Mas por conta da pandemia, desde o ano passado, este diálogo com a sociedade se tornou um pouco diferente. Transformando as massivas ocupações de abril na ocupação das redes e mídias sociais, em atos e manifestações pontuais que surgiram com novas formas de atuar para fortalecer a Reforma Agrária Popular no país, sem desconsiderar a importância de cuidar do nosso povo, contra os padecimentos da pandemia e mantendo nossas bandeiras de luta.

Com isso, nesta sexta-feira (16), já vamos nos aquecemos para o sábado (17) – dia “D” das ações da jornada – quando teremos às 10h o ato político-cultural em Memória aos 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, que será transmitido nas redes sociais do MST. Contando também com a programação especial do 15º Acampamento Pedagógico Oziel Alves, que acontece de forma virtual. 

A programação segue no domingo (18), com as ações de solidariedade, com doações de alimentos marcadas em todo o país. E se encerra no próximo dia 21, com mutirões do  Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” – que pretende plantar 100 milhões de árvores ao longo de 10 anos.

Autor