Bolsonarismo se isola cada vez mais e será derrotado, diz Flávio Dino
“Só não temos hoje uma tragédia ainda maior porque o STF, o Congresso e os governadores viabilizaram o combate mínimo à pandemia”, diz o governador
Publicado 09/04/2021 14:30 | Editado 09/04/2021 16:10
Se não houvesse enfrentamento à política criminosa do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia, o Brasil já teria atingido a marca de 1 milhão de mortes por Covid-19 – quase o triplo do patamar atual (345 mil óbitos). A opinião é do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). “Bolsonaro não gosta da ideia de que existem controles ao seu próprio poder. Um desses controles é o federalismo. Daí ele ter muita repulsa, rejeição e ódio dos governadores”, afirma Dino, tachando o presidente como “esse desastre, essa pessoa insensata e insana”.
Em sua opinião, o bolsonarismo, ao tentar boicotar o combate à crise sanitária, teve respostas à altura dos poderes legislativo e judiciário, bem como dos executivos estaduais. “Só não temos hoje uma tragédia ainda maior porque o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso e os governadores, lá atrás, viabilizaram o combate mínimo à pandemia”, declara Dino em entrevista à Deutsche Welle, publicada nesta sexta-feira (9).
Ainda assim, a gestão Bolsonaro contra-ataca e tenta intimidar quem lhe contesta. Em março, as redes bolsonaristas tentaram incitar motins de policiais e militares com base em fake news – o que levou 16 governadores a assinarem uma carta conjunta. “O que desejamos com a carta foi mostrar esse risco, mais essa ameaça à democracia.” Segundo Dino, a “indústria de fake news” não cessa. “É algo rotineiro, visando desestabilizar os governos estaduais, porque objetivamente eles são instrumentos de contenção do poder do Bolsonaro. Acredito que, com esse propósito de alerta, debate, reflexão e de provocação às demais instâncias de controle, a carta foi e é extremamente útil.”
Para o governador maranhense, tampouco é nova a tentativa de Bolsonaro atacar a democracia. “No ano passado, ele já havia ido à porta do quartel do general do Exército, chamado Forte Apache, fazer uma espécie de exortação golpista. Naquele instante, o Supremo reagiu muito fortemente, por intermédio do inquérito policial das fake news”, lembra Dino.
“Agora, em razão das dificuldades que o governo enfrenta, ele tentou novamente solucioná-las do pior modo, novamente indicando rumo de ruptura institucional. As Forças Armadas não aceitaram”, agrega. “Houve uma tentativa de ‘enquadramento’ das Forças Armadas ao projeto bolsonarista. Essa aposta foi novamente mal-sucedida. Em relação às polícias, também aconteceu o mesmo fracasso.”
Dino afirma que a imunidade parlamentar não justifica o “método abusivo” de deputados e senadores bolsonaristas que atentam contra o Estado Democrático de Direito. “A Câmara já foi convocada uma vez, recentemente, a examinar a má conduta de um de seus integrantes, no caso do deputado Daniel Silveira (PSL), que agrediu o STF. Se a Câmara ou as Casas Parlamentares não se pronunciarem, creio que o sistema de Justiça novamente vai ter que intervir.”
Conforme o governador, “não é admissível que esse tipo de risco contra a democracia seja estimulado por agentes que têm o dever legal de preservar a Constituição. Se estimulam um motim policial armado contra um governo estadual, claro que isso é incompatível com a Constituição e deve ensejar duas responsabilizações: a primeira no âmbito parlamentar, quebra de decoro; e a outra é responsabilidade penal e criminal.
Dino critica a forma como Bolsonaro instituiu o Comitê Nacional de Combate à Covid-19, barrando a participação de governadores e prefeitos. “Comitê que exclui estados e municípios não é nacional, jurídica e constitucionalmente falando. Quem, na prática, combate a pandemia no Brasil são os estados e os municípios – 95% dos leitos públicos estão nos estados”, diz. “Como é que a esfera federal vai gerenciar uma crise num país continental como o Brasil – que demanda a descentralização de políticas públicas para haver eficácia – sem que haja a oitiva permanente dos governadores e prefeitos?
O governador prevê que a crise sanitária ainda vai se agravar, apesar de o País estar batendo frequentemente seus recordes de casos e mortes em decorrência do novo coronavírus. “Não há cenário de superação em curto prazo neste ambiente em que não há coordenação nacional, não há alinhamento, não há mobilização convergente. A tendência é que tenhamos abril, maio e junho com níveis bastante altos (de mortes) por conta do presidente da República.”
Na visão de Dino, o desgaste com a pandemia provocou não apenas a queda na popularidade de Bolsonaro – mas também o isolamento político. Essa tendência, segundo o governador, deve levar à derrota do presidente. “Tenho essa convicção, de que o bolsonarismo está se isolando cada vez mais – e isso é fundamental para que ele seja atalhado ou vencido na eleição presidencial de 2022”, comenta o governador. “Ou pelo impeachment, ou pelas urnas, nós precisamos derrotar o bolsonarismo – e seu isolamento é um passo importante.”
Dino elogiou a carta assinada em conjunto por seis possíveis presidenciáveis – Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoedo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). “Achei o movimento altamente positivo, porque o conteúdo está correto no sentido de defesa da democracia e da rejeição ao bolsonarismo. Vários dos signatários apoiaram Bolsonaro e deixaram nítida agora postura de oposição. Sem dúvida ajuda no propósito de isolar o bolsonarismo.”
Além disso, Dino cita o fator Lula. Com a chance de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar a sucessão de Bolsonaro, o quadro político-eleitoral se altera. “Em sendo candidato, é natural que, para ele (Lula), confluam várias forças da esquerda por sua representatividade e força popular”, analisa. “É também um caminho para a transição de superação do bolsonarismo. É quase como se fosse a outra transição da ditadura para a democracia.”