Haroldo Lima – meu amigo irmão, por Aldo Arantes
Haroldo fará muita falta! Grande perda para a família, os amigos e para o país.
Publicado 24/03/2021 16:57 | Editado 24/03/2021 18:38
Foi com muita emoção que recebi a triste notícia! Haroldo era uma pessoa alegre, solidária, combativa e corajosa. Intelectualmente preparado, era um nacionalista convicto, lutador pela democracia e pelo socialismo.
Diante de sua perda, fico a relembrar os momentos que partilhamos em nossas vidas. Foram vidas gêmeas!
Juntos na luta pela posse de João Goulart. Eu em Porto Alegre, Haroldo em Salvador.
Juntos na criação de Ação Popular (AP). Após minha expulsão da Juventude Universitária Católica (JUC) um grupo de dirigentes da entidade, entre os quais Haroldo e eu, resolvemos criar Ação Popular, organização política revolucionária, sem vínculos com a igreja católica.
Juntos na clandestinidade, onde atuávamos como dirigentes de AP. Em viagem para a fazenda Espinho da família do Haroldo, perto de Guanambi, eu que mal sabia dirigir, estava no volante do seu Jeep. A região tinha fortes elevações e discutíamos acaloradamente sobre a situação do país. Até hoje não sei como não houve um grave acidente.
Juntos na reunião da “Queda da Lapa” onde foram assassinados Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond e presos Elza Monnerat, Haroldo, Wladimir Pomar e eu. Na prisão me comunicava com Haroldo assobiando a internacional comunista. Após o período das torturas, estudávamos juntos, fazíamos pirogravura e escrevemos o livro “História de Ação Popular – da JUC ao PCdoB”. Perante o tribunal militar, em São Paulo, denunciamos as torturas a que fomos vítimas.
Juntos na luta pela incorporação de AP ao PCdoB. Fui à China para comunicar ao Partido Comunista da China a incorporação de AP ao PCdoB. Haroldo e Renato Rabelo fizeram o contato com João Amazonas e Pedro Pomar para informá-los sobre a decisão.
Juntos na luta contra a ditadura militar. Já no Comitê Central do PCdoB participamos da reunião que decidiu a tática de luta contra a ditadura militar, em torno das três bandeiras: Anistia ampla, geral e irrestrita; abolição de todos os atos e leis de exceção e convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte livremente eleita.
Juntos na luta pelas Diretas Já. Quando retornávamos de Maceió, após o enterro do Senador Teotônio Vilela, em novembro de 1983, sugerimos ao então governador de São Paulo, Franco Montoro, a realização de um comício pelas Diretas Já, na capital paulista. O ato se realizou com a participação de mais de 500 mil pessoas.
Juntos na atividade parlamentar e na Assembleia Nacional Constituinte. Na Constituinte, Haroldo era o líder de nossa bancada e eu líder na Câmara do Deputados. Tivemos momentos de grande confronto com os setores da direita na elaboração da nova Constituição.
Juntos no meu aniversário de 80 anos e no dele. No meu aniversário, Haroldo fez uma manifestação comovente e alegre em que brincava com o fato de estarmos sempre juntos. Ele afirmou “É uma coisa espantosa! Reparem bem” e passou e enumerar os diversos episódios que vivemos juntos. E no final disse “Puxa vida é um negócio terrível!”.
Nossas famílias juntas. Haroldo, Solange, Julieta, Valéria, Leni e Aldo, Dodora, André e Priscila. Na clandestinidade nossos filhos brincavam juntos na casa de Solange e Haroldo.
Enfim foi uma vida vivida com muita intensidade e camaradagem.
Nossa relação era tão profunda que na Câmara dos Deputados às vezes me chamavam de Haroldo e ele de Aldo.
Pouco antes do Haroldo ficar doente falei com ele ao telefone. Na ocasião manifestou sua preocupação em encontrar uma saída para assegurar a presença política do PCdoB no cenário nacional e garantir a superação da clausula de barreira! Propunha iniciativas conjuntas nossas para contribuir com este objetivo.
É um momento de dor e emoção. Lembrar do Haroldo é lembrar do seu entusiasmo, de sua alegria.
Meus mais profundos votos de solidariedade e carinho às queridas Solange, Julieta, Valéria e Leni, bem como à toda sua família. Assim como aos seus amigos e camaradas de partido.
Haroldo fará muita falta! Grande perda para a família, os amigos e para o país.
A maior homenagem que podemos fazer a ele é darmos continuidade à luta pela reconquista da democracia e da soberania nacional e a reconstrução de um país justo e solidário.