Carolina de Jesus e Abdias do Nascimento, ícones da luta antirracista
Em artigo exclusivo para o Portal Vermelho, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) reafirma o combate à discriminação racial através das histórias de vida de duas personalidades negras simbólicas: Carolina de Jesus e Abdias do Nascimento. “Nossa luta não começou ontem e nem vai terminar amanhã e ela deve prosseguir até libertarmos a sociedade de todas as formas de discriminação”, lembrou Orlando.
Publicado 23/03/2021 11:56 | Editado 23/03/2021 11:57
A data do dia Internacional contra a discriminação racial foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e tem origem no “Massacre de Shaperville”, ocorrido em 21 de março de 1960, quando cerca de vinte mil pessoas protestavam contra a “lei do passe”, em Joanesburgo, na África do Sul.
No Brasil, a luta contra a discriminação racial obteve conquistas ao longo do tempo e hoje tem respaldo juridico na Constituição Federal de 1988, que incluiu, em seu artigo 5.º, XLII, a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão.
Tais avanços não vieram de maneira indolor. Muitos foram os negros e negras que lutaram por espaço e liberdade, pessoas que abriram caminhos, batendo de frente com o preconceito.
A ancestralidade é a marca da comunidade negra e hoje quero fazer um resgate importante, lembrar de algumas figuras imprescindíveis que inspiram a luta contemporânea. Nomes como Abdias do Nascimento e Carolina de Jesus são um retrato de como a denúncia do racismo no Brasil era feita com muito talento.
Talento que sobrava em Carolina de Jesus. A mineira, nascida em 1914, foi uma das maiores escritoras brasileiras, denunciava na ponta da caneta as desigualdades raciais e a dura realidade da favela.
“Quarto de despejo” (1960), seu livro mais conhecido, se tornou referência. Ele desmistificou algumas sentenças, como São Paulo ser uma cidade com grandes oportunidades, e recebeu homenagens da Academia de Letras de São Paulo. Mesmo com sua morte, Carolina não deixou de receber prêmios. A autora é referência da literatura negra brasileira, uma figura importante que enfrentou a discriminação.
Abdias do Nascimento é outra referência na luta do movimento negro. Paulista de Franca, teve uma infância muito pobre, mas conseguiu se formar em Economia e até realizar pós-graduação.
Considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos no Brasil e no mundo, foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010.
Além disso, fundou entidades pioneiras como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu da Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Foi um idealizador do Memorial Zumbi e do Movimento Negro Unificado (MNU), além de ter sido deputado federal e senador da República.
Com a representação dessas duas figuras emblemáticas, a mensagem que procuro passar é que a luta antirracista no Brasil é travadas em diversas frentes e obteve avanços políticos, jurídicos e de visibilidade.
Contudo, infelizmente, a discriminação racial ainda causa sérias consequências no dia dia dos negros. Os dados mostram que as desigualdades ainda são estarrecedoras no Brasil e, com a pandemia, a situação ficou ainda mais grave. Continuamos sendo os que mais sofrem com a violência, ampla maioria entre os presos, os que mais sofrem com o desemprego e a miséria.
A discriminação está nos dados de baixa oferta de leitos em UTIs, na menor presença de negros nas universidades, na fome que volta a assolar o país, o que exige luta para manutenção e ampliação de políticas sociais afirmativas.
Retomar a história de personalidades como Carolina de Jesus e Abdias do Nascimento é importante para salientar que nossa luta não começou ontem e nem vai terminar amanhã e ela deve prosseguir até libertarmos a sociedade de todas as formas de discriminação.
Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP