Publicado 15/03/2021 22:35
Lúcia Rocha, minha camarada do PCdoB por várias décadas, foi mais uma vida ceifada pela Covid. Ainda não me acostumei nessa normalidade anormal que estamos vivendo. O coração sangra com cada amiga ou amigo devorado pelo vírus e as lembranças vêm como turbilhão de momentos que estivemos juntos.
Gostaria de prestar minha homenagem a esta guerreira, uma das heroínas da luta do povo brasileiro. Natural da Piauí, Lúcia Rocha, ou Marilú, iniciou sua militância na Bahia no movimento estudantil e como membro da organização Ação Popular, que combatia a ditadura civil-militar. Em 1968, já formada em História pela UFBA, sob os horrores do Ato Institucional nº 5, ela foi para Recife onde trabalhou numa clínica e no Conselho Regional de Assistentes Sociais.
Após a sua incorporação ao Partido Comunista do Brasil, em 1973, viajou com nome clandestino para o interior do Maranhão para dar apoio aos militantes da Guerrilha do Araguaia. Havia feito um curso de parteira e trabalhava na pequena cidade de Santa Luzia (MA) ajudando mães pobres nos serviços de parto. Era conhcecida e querida pelo povo do lugar como “Branca”.
Sabendo que as forças da repressão estavam circulando na região próxima à cidade e que sua vida corria perigo, andou três léguas a pé até pegar um ônibus em Santa Luzia (MA). Numa das barreiras policiais, avistou o carrasco torturador e assassino Delegado Freury. Passado este momento de desespero em ser reconhecida, continuou a viajem até Picos (PI), onde morou por um ano.
Com as prisões, torturas, assassinatos e delações de vários camaradas, e procurada pelos agentes da repressão, Lúcia Rocha transitou com nomes falsos pelos Estados de São Paulo, Pará, Ceará e Pernambuco, trabalhando em várias empresas e indústrias até o advento da anistia em 1979.
Chegou à Paraíba em 1982, quando, no ano seguinte, casou-se com o dirigente comunista José Rodrigues Costa. Aqui, Lúcia Rocha fez parte da direção estadual do PCdoB, trabalhou no jornal O Norte e na CAGEPA, onde aposentou-se. Foi uma militante exemplar na frente sindical e de moradia. Mas, o seu legado, foi no movimento de defesa das mulheres, quando fundou a União das Mulheres de Cruz das Armas e a União Brasileira de Mulheres (UBM), sendo, desta última, presidenta na Paraíba.
Passou a sua história para seu filho amado, Ramon Rocha, companheiro de todas as horas de agrúrias e alegrias, orgulho que manifestava em todas as nossas conversas.
Deixo meu abraço fraterno ao meu amigo Ramon, que conheço desde criança, à família de Lúcia Rocha, aos camaradas do PCdoB, às companheiras e companheiros que estiveram nas barricadas de luta por um mundo melhor e justo.