A América Latina respira de novo, por Danilo Catalano

É para o ano de 2022 que devemos voltar nossa atenção, observando se o Brasil, gigante da América Latina, seguirá essa onda progressista ou manterá seu governo neoliberal e de extrema-direita

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, e sua vice, Cristina Fernández de Kirchner, tomam posse na Argentina

Durante a pandemia, realizei o curso “Realidade Latino-americana”, organizado por um grupo de estudos ligado à Unifesp. Aprendi que o modelo político típico do continente – e o que sempre funcionou para uma mudança efetiva de nossa realidade – foi (e ainda é) o progressismo, por mais que diversas vezes tenha sido trocado, erroneamente, pelo neoliberalismo.

O modelo neoliberal – que fez sua estreia na América Latina na década de 1970, no Chile, e voltou nos anos 80 e 90, em países como Argentina, Peru, México e Brasil – foi aplicado mais uma vez na segunda década do século 21. Com as eleições de Maurício Macri (Argentina, 2015) e Jair Bolsonaro (Brasil, 2018), a região se viu de novo em um impasse parecido com o de épocas anteriores.

Um suspiro de volta do progressismo pôde ser visto com a vitória, pela primeira vez na história do México, de um presidente de centro-esquerda. López Obrador foi eleito em 2018, marcando o fim da supremacia unipartidária do país.

Seu êxito deu início à onda progressista na América Latina, movimento que foi acompanhado pela rejeição latino-americana ao governo de Donald Trump nos Estados Unidos. O fracasso de políticas neoliberais e de extrema-direita fez com que o progressismo voltasse a permear o continente.

Em seguida ao México, tivemos a ascensão ao poder de Alberto Fernández, na Argentina, trazendo de volta à política a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, com a conhecida “fórmula Fernández”. Depois da conquista espetacular em primeiro turno nas eleições argentinas, outros países vieram atrás.

O maior exemplo da “enxurrada” de presidentes progressistas latino-americanos, foi o da Bolívia. Luiz Arce derrotou nas urnas Jeanine Áñez – que, atrelada à ala militar e de direita do país, tinha assumido a presidência após um golpe de Estado contra Evo Morales.

No Equador, a exemplo de Argentina, México e Bolívia, Lenín Moreno, tido incialmente como progressista, foi eleito presidente em 2017, com a expectativa de dar continuidade à Revolução Cidadã de Rafael Correa. Moreno, porém, se associou ao neoliberalismo e a políticos como Sebastián Piñera (Chile)  e Iván Duque (Colômbia). A guinada à direita terminou simbolicamente em fevereiro passado, com a ida ao segundo turno das eleições presidenciais de dois políticos que contestam as diretrizes do governo Moreno.

A situação no Chile também mostra o descontentamento com as políticas neoliberais. Com intensos protestos, a população conseguiu aprovar a construção de uma nova Constituição que garanta direitos sociais. Piñera, ao aceitar as mudanças, perdeu aliados no Congresso Nacional e está enfraquecido, com alta rejeição.

Mas é para o ano de 2022 que devemos voltar nossa atenção, observando se o Brasil, gigante da América Latina, seguirá essa onda progressista ou manterá seu governo neoliberal e de extrema-direita. A história mostra que a mudança no País é provável, visto que, tradicionalmente, as transformações políticas no continente ocorrem de forma una e contínua.

O que nos resta é esperar as próximas eleições presidenciais e torcer para que outros países latino-americanos voltem a respirar junto aos que já voltaram ao progressismo e ao fortalecimento dos direitos sociais.

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