Internautas e parlamentares veem inconsistências em lista de compras
Compra de alimentos do governo federal inclui leite condensado, chiclete e bombons. Preços e dados sobre empresas causaram estranheza.
Publicado 27/01/2021 14:54 | Editado 27/01/2021 14:55

Após a divulgação dos gastos de R$ 1,8 bilhão do governo federal em alimentos em 2020 gerar uma enxurrada de memes sobre os altos valores e os itens consumidos – foram R$ 15 milhões para leite condensado e R$ 2 milhões para chiclete, por exemplo – internautas e parlamentares se aprofundaram em detalhes da lista de compras e apontaram itens que merecem investigação.
Na noite desta terça-feira (26), o Portal da Transparência, onde foram divulgadas as informações, saiu do ar, o que gerou ainda mais especulação. O Portal só voltou a funcionar na manhã desta quarta-feira (27).
No Twitter, o perfil @Boscardin apontou que uma das empresas que figura na lista, a Saúde & Vida Comercial de Alimentos Ltda., fechou um contrato no valor de R$ 12 milhões com as Forças Armadas, o que pareceria estranho por se tratar de uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, um tipo de empresa que normalmente tem baixa capacidade financeira.
A empresa pertence a Azenate Barreto Abreu que, segundo informações levantadas pelo perfil, é casada Elvio Rosemberg da Silva Abreu. Ambos são pais de Elvio Rosemberg da Silva Abreu Júnior, que, por sua vez, fechou outro contrato com o governo no valor de R$ 25,4 milhões por meio da empresa DFX Comércio e Importação Eireli.
3) Fiquei curioso e fui procurar sobre a empresa. Acabei descobrindo, segundo o site JusBrasil que dona Azenate é casada com Elvio Rosemberg da Silva Abreu. Ambos são país de Elvio Rosemberg da Silva Abreu JÚNIOR. E quem é o Júnior? (Segue) pic.twitter.com/w681tiWoWe
— ???? ??. ' . (@Boscardin) January 27, 2021
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou ainda o valor unitário de itens como o leite condensado e o bombom. O Portal da Transparência discrimina R$ 162 pagos pelo leite condensado, descrevendo unidades de 395 gramas do alimento, valor bem superior ao que custa uma latinha ou uma caixinha nas prateleiras de supermercados.
No caso do bombom, a parlamentar disse que o doce saiu ao custo de R$ 89 a unidade. Além disso, ao buscar o endereço da empresa conforme informado no Portal da Transparência, a imagem encontrada parece ser de uma área residencial no Paraná.
Na nota fiscal da empresa que vendeu os bombons por R$ 89 a unidade se vê esse endereço no Conjunto Águas Claras, Paraná. pic.twitter.com/ohxCj8AZEF
— Jandira Feghali ??? (@jandira_feghali) January 26, 2021
Os assuntos “R$ 162” e “Bolsonaro, corrupto do ano” estão entre os mais comentados do Twitter no início da tarde desta quarta, com 25,4 mil e 25,8 mil comentários, respectivamente.
O UOL conseguiu fazer contato com a Saúde e Vida Comercial de Alimentos Ltda., responsável pela venda do leite condensado. A empresa é a mesma que pertence a Azenate Barreto Abreu e é citada pelo perfil @Boscardin. Ao portal, a empresa disse que vendeu duas caixas com 27 unidades de leite condensado ao valor de R$ 162 cada, totalizando R$ 324. Não está claro a que se referem os demais valores repassados pelo poder público à empresa.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) e os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) entraram com uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo investigação sobre os gastos. Uma outra representação foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).