Coreia Popular decide concentrar forças na construção econômica
Decisão do 8° Congresso do Partido do Trabalho da Coreia (PTC) tem como objetivo avançar na construção do “socialismo ao nosso estilo”.
Publicado 15/01/2021 09:18 | Editado 15/01/2021 11:23
O 8° Congresso do Partido do Trabalho da Coreia (PTC), realizado de 5 a 12 de janeiro, que reelegeu, para o cargo de Secretário-Geral, Kim Jong Un, definiu que “a construção da economia socialista é a tarefa revolucionária mais importante”.
Os delegados ao 8º Congresso, 7 mil ao todo, foram eleitos em conferências de comitês partidários em dezembro de 2020 com base em um delegado com direito a voto para cada 1.300 membros do partido e um delegado com direito à palavra para cada 1.300 membros do partido. Os delegados chegaram a Pyongyang no final de dezembro de 2020 e participaram de diversas reuniões preparatórias.
A questão militar continua sendo crucial, com os EUA sendo definido como o “inimigo principal”: “continuaremos a promover a tarefa de transformar o Exército Popular em uma tropa de elite e poderosa, com vistas a prepará-lo plenamente para cumprir sua missão e papel de principal defensor do Estado diante de qualquer forma de ameaça”, declarou Kim Jong Un no discurso de encerramento.
Porém, em seu discurso de abertura, o líder já havia revelado que o tema econômico seria o central, ao alertar que, apesar de o Partido dirigente da República Popular Democrática da Coreia ter alcançado, no último período, “grandes sucessos”, principalmente no que tange à defesa da afirmação da soberania nacional e em outros campos, como no combate à Covid-19, do ponto de vista da economia, “quase todos os setores ficaram muito aquém dos objetivos definidos”.
Um Congresso diferente
Nas palavras do próprio Kim Jong Un, o 8° Congresso fez um grande esforço autocrítico: “Ao contrário das edições anteriores, neste congresso o nosso Partido fez uma fria análise e um balanço do seu trabalho, não no seu aspecto positivo, mas com uma postura crítica, que adquire tanta importância quanto os sucessos alcançados no período que nós prestamos contas”.
Para os que têm uma visão estereotipada da vida política da RPDC, talvez seja uma surpresa ver o líder máximo do Partido dirigente falar sem meias palavras sobre as dificuldades e erros. Em seus discursos de “conclusão” e “encerramento” (dois discursos em momentos diferentes do Congresso), Kim destacou:
“A situação externa de nossa revolução continua severa e crítica e não podemos esperar que nossas tarefas revolucionárias sejam fáceis de agora em diante. Porém, para o nosso Partido e para o nosso povo, que em péssimas condições e enormes dificuldades conseguiu uma grande vitória, inconcebível para os outros, nenhuma prova é intransponível (…)”.
Para o PTC, é urgente elevar o nível de vida do povo. Nas palavras de Kim Jong Um:
“Em seu relatório (do Congresso), intervenções e consultas por setores, os desvios e erros que emergem em todos os domínios da vida social foram criticados e examinados de forma concreta e contundente, a partir da atuação do Partido, do Estado e do Exército, e expressaram a determinação firme e vontade de superá-los (…)”.
“Acima de tudo, devemos travar uma luta implacável para cumprir de forma infalível o novo Plano Quinquenal de desenvolvimento da economia nacional (…) A construção da economia socialista é a tarefa revolucionária mais importante na qual hoje devemos concentrar todas as forças (…) Para superar a atual crise que enfrentamos, estabilizar e melhorar a vida da população o mais rápido possível, e garantir com segurança o fortalecimento e a prosperidade com recursos próprios, é urgente resolver os problemas econômicos pendentes”.
Para resolver os problemas, é preciso definir o rumo do crescimento econômico e segui-lo fielmente:
“Em primeiro lugar, cabe a nós definir corretamente os principais rumos do setor econômico e aí concentrar nossas forças (…) No decorrer deste Plano, (devemos colocar) a ciência e tecnologia do país em um patamar superior e resolver com rigor e antecipação os problemas científicos e técnicos que surjam para a construção econômica e melhoria da vida da população, promovendo a cooperação criativa de cientistas, técnicos e trabalhadores”.
Embora apenas uma leitura pormenorizada das resoluções do Congresso e do novo plano quinquenal (ainda não disponíveis) possa de fato aquilatar a abrangência do significado do “reajuste da base econômica” e suas consequências, em seus discursos de conclusão e encerramento do Congresso, o principal dirigente do PTC e da RPDC dá algumas importantes pistas:
“Atualmente, os habitantes das cidades, distritos e áreas rurais levam uma vida muito difícil e atrasada (…) A partir de agora pretendemos nos empenhar em desenvolver a economia local e melhorar a vida da população local (…) A tarefa central do novo Plano Quinquenal é tomar as indústrias metalúrgica e química como elos-chave do desenvolvimento econômico, promover uma ativação econômica real estreitando os laços das indústrias básicas, consolidar a base material e técnica do setor agrícola e aumentar a porcentagem das matérias-primas da indústria ligeira, de forma a colocar a vida da população em um patamar superior. (…) É necessário que todos os setores, incluindo os departamentos econômicos do Comitê Central do Partido, o Conselho de Ministros, a Comissão de Planejamento do Estado, as fábricas e as empresas, unam suas vontades e adotem medidas decisivas para renovar a gestão econômica. Devem promover ativamente a pesquisa e o aperfeiçoamento de métodos de gestão econômica ajustados à realidade do país e que possam produzir o efeito da maior rentabilidade e racionalidade, incluindo os métodos que são aplicados experimentalmente e a combinação de experiências de unidades exemplares em gestão administrativa e empresarial. É necessário promover a economia local, estimulando o desenvolvimento independente e multilateral das cidades e distritos e lançando as bases para a elevação do nível de vida dos habitantes (…) No novo Plano Quinquenal, cabe ao Estado um grande esforço no desenvolvimento da educação e da saúde, para que tanto a nível central como local as pessoas percebam as vantagens dos sistemas socialistas de saúde e educação públicos”.
Socialismo “ao nosso estilo”
Enquanto os comunistas chineses usam a expressão “socialismo com características chinesas”, os coreanos passam agora a usar um correlato: “socialismo ao nosso estilo”. De novo, trechos do discurso de Kim Jong Un:
“(Este) foi um congresso de luta e progresso que manifestou a vontade inabalável dos revolucionários determinados a alcançar a prosperidade, o fortalecimento e o desenvolvimento do socialismo ao nosso estilo, a todo custo, cheios de coragem e autoconfiança e sempre agitando a bandeira do grande kimilsungismo-kimjongilismo (…) De acordo com a nova circunstância e situação, (o Congresso) apresentou diretrizes estratégicas e táticas científicas e justas para o reajuste e desenvolvimento da base econômica do Estado e a consolidação de seu regime social, elucidando assim o rumo de avanço de toda a atuação do Partido e do Estado (…) A resolução do congresso do Partido é a estratégia e tática do nosso Partido para conseguir uma nova vitória na construção do socialismo ao nosso estilo”.
Mudanças no partido
No discurso de abertura, Kim Jong Um havia destacado que era necessário sanar problemas causados por regras partidárias que “eram uma repetição mecânica do passado e não se adequavam à realidade presente”.
Em seu discurso de encerramento, ele manifestou satisfação com as resoluções adotadas:
“Este grande evento revisou com atitude crítica e rigorosa o trabalho da Comissão de Revisão do Comitê Central do Partido em seu VII Período e adotou medidas drásticas para retificar, sob o princípio da construção partidária e ao nosso estilo, o que havia de antiquado e irreal nos trabalhos e atividades do Partido”.
Os estatutos do partido sofreram emendas e novos regulamentos foram aprovados. Kim: “A alteração dos Estatutos do Partido do Trabalho da Coreia, em fiel reflexo do princípio da construção e do trabalho do Partido e das demandas da realidade em desenvolvimento, lançou uma base sólida para consolidar a liderança e combatividade do Partido e alcançar seu desenvolvimento saudável”. O Conselho Político Executivo volta a ser chamado de Secretariado, como era antes do 7° Congresso, os Congressos passam a ter periodicidade definida de cinco anos (o 7° Congresso foi realizado em 2016, mas o 6° Congresso havia sido em 1980) entre outras mudanças.
A consigna do 8° Congresso
Por proposta do Secretário-Geral, o Congresso adotou como consigna ideias centrais do pensamento Juche: “Considerar o povo como o céu, unidade monolítica e apoio nas próprias forças”. A ideia Juche defende que a fonte e os mestres da revolução e da construção social são as massas populares, unidas firmemente em torno do Partido, e que o país tem que tem que ter autossuficiência para garantir por si mesmo a defesa de sua soberania e de seu caminho socialista.
Nas palavras de encerramento de Kim, a confiança no futuro da revolução.
“O nosso Partido seguiu, segue e seguirá invariavelmente e infinitamente fiel ao espírito de dar prioridade às massas populares e fará tudo o que estiver ao seu alcance para alcançar novas e sucessivas vitórias na construção socialista (…) Vamos todos avançar energicamente para a nova vitória da revolução, firmemente convencidos do triunfo da causa socialista, da revolução Juche, e firmemente unidos em torno do CC do Partido. Confiando que graças ao alto nível de combatividade e unidade, ao extraordinário entusiasmo patriótico e ao esforço tenaz de todo o povo e oficiais e militares do Exército Popular, a estratégia e as orientações de combate propostas pelo VIII Congresso serão materializadas de maneira brilhante e um avanço transcendental será alcançado na construção do nosso socialismo, declaro encerrado o VIII Congresso do PTC”.