Casos de Covid-19 devem “explodir” em janeiro, diz diretora do HC
Até a vacina contra a covid-19 chegar, Eloisa Bonfá pede mais responsabilidade da população
Publicado 27/12/2020 08:19
Após a queda no número de internações pelo coronavírus em setembro e o início do remanejamento de leitos para outras enfermidades, o Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo (HC) já se prepara para uma possível explosão de casos de Covid-19 em janeiro. O prognóstico é de Eloisa Bonfá, diretora clínica do HC. O hospital, ligado à Faculdade de Medicina da USP, é o maior complexo hospitalar da América Latina e só recebe quadros graves da infecção.
A médica, em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, alerta que o intervalo entre sexta (25) e a chegada de 2021 prenuncia o recrudescimento da pandemia no estado e no Brasil – e isso em meio à sensação de exaustão generalizada dos profissionais de saúde. “É como se o soldado tivesse saído da guerra e já tivéssemos de recrutar de novo”, diz Eloisa sobre sua categoria. “As pessoas estão exaustas. O grande apoio que a sociedade pode nos dar agora é se cuidar. Estamos falando de cuidado, afastamento, usar máscara. Isso vai fazer toda diferença até a vacina chegar.”
Segundo ela, os brasileiros precisam entender sua responsabilidade social nesta que é a maior crise sanitária já vivida pelo País. “As pessoas estão bebendo e comendo como se nada estivesse acontecendo – e depois ainda encontram o pai, o avô. É preciso acreditar que não é hora de ‘estou com saudade da minha mãe, vou visitar minha avó’. Não tem justificativa. Se você gosta mesmo do seu familiar, tem que entender que, se ele adoecer, ele precisa ter leito”, afirma. “Caminhamos para um número que está subindo como se fosse a primeira onda. Isso, para mim, é de tirar o sono”, completa.
A diretora clínica é categórica ao dizer que nenhuma epidemia se compara ao desafio imposto pela Covid-19. “Elas não chegam nem perto do que vivenciamos agora”, diz. “Na da H1N1, lembro que a gente achou que fez um ato heroico por montar dez leitos de UTI em 24 horas.” Para efeito de comparação, em um período de um ano, entre 2009 e 2010, o vírus H1N1 deixou cerca de 2 mil mortes e contaminou 60 mil brasileiros.
O HC é composto por oito institutos. Com a chegada do vírus, o Instituto Central foi adaptado exclusivamente para casos de Covid-19. Dos 2.400 leitos, cerca de 500 estão reservados para pacientes que receberam o diagnóstico e apresentam sintomas graves da infecção. Desde o dia 30 de março, 6 mil pessoas já foram atendidas no local.
De acordo com a médica, o HC não usa cloroquina e aposta na vacina para combater a pandemia. “É preciso convencer a população a aderir à imunização. As vacinas estão passando por protocolos internacionais extremamente rígidos. Qualquer vacina deve ser muito bem-vinda”, explica. “Se tem uma coisa que une a saúde, a vida e a economia, é a vacina. Se nós tivermos vacina, vidas serão salvas, o desemprego vai diminuir e as lojas e os restaurantes vão abrir.”
Fonte: RBA, com Folhapress